sexta-feira

António Costa e a autenticidade política

A política, dizia Max Weber, consiste num esforço tenaz e enérgico para atarraxar pranchas de madeira dura. Este esforço exige simultaneamente entusiasmo e golpe de vista.Infelizmente, nem uma coisa nem outra temos verificado quer em Belém, quer do lado do maior partido da oposição - que Belém procura proteger e promover. Ou seja, Cavaco finge que não há problemas na Madeira (só nos Açores...) ao reconhecer aquela patologia desviante típica de Alberto (que trata a democracia e o "regular" funcionamento das instituições como uma extensão do seu quintal) - como se tudo aquilo fosse normal em democracia pluralista e num estado de direito, e Ferreira leite diz, por outro lado, diz que tem ideias brilhantes para Portugal mas não as partilha para evitar que o governo e o PS delas se apropriem.
Isto além de feio revela uma estupidez política atroz e inqualificável.
António Costa, na Quadratura do Círculo de ontem, percebendo o que está em jogo, tem chamado "os bois pelos nomes" (para recorrer a uma expressão popular), o que é raro em política, onde opera o registo dos paninhos quentes temperado pela hipocrisia institucionalizada. Por isso só lhe fica bem ser realista e sincero, revelando não ter receio de olhar para a realidade e a descrever tal qual ela se apresenta aos nossos olhos, e não como desejaríamos que ela se apresentasse.
Neste registo também reconheceu que a maioria absoluta - por força das questões da educação - tornam mais remota a possibilidade de o PS obter uma maioria absoluta. Enfim, António Costa faz política como produz comentário político: em ambos os casos pauta a sua postura pela autenticidade, coisa rara nos políticos em Portugal.