quinta-feira

A Educação e o sistema. Se Barack Obama fosse português quem apoiaria nessa "guerra" da Educação em Portugal?!

Pergunto-me - caso Barack Obama fosse português - de quem mais próximo se sentiria nesta "guerra" que envonve o ministério da Educação, os sindicatos e os profes?!

Isto porque Obama durante uma década foi professor e ensinou Direito Constitucional, portanto sempre foi alguém preocupado com as condições de ensino nos EUA, tanto mais que aí a Educação faz-se pagar a peso de ouro porque a maior parte do ensino é privado e é caro. Mas sem investimento em infraestruturas da educação, visando a modernização das escolas, o equipamento do parque escolar não se consegue tornar uma nação competitiva na economia global, posto que o capital-conhecimento se transformou no 1º vector que faz avançar um País em todos os indicadores de desenvolvimento social e humano.

Se há hoje modernização e desenvolvimento numa determinada sociedade tal deve-se à forma como os poderes públicos e a sociedade civil no seu conjunto encaram a convergência de um conjunto de transformações verificadas em três domínios:

1. No domínio tecnológico - pela informatização de todos os sectores de actividade e a revolução digital (som, texto, imagens) a fim de permitir as auto-estradas da informação que desencadeiam mudanças revolucionárias no trabalho, na economia, nas comunicações, na educação, enfim, na criação de valor e até no domínio do próprio lazer.

2. No domínio económico - as TIC favorecem a expansão da esfera financeira que depois passam a estimular aquelas actividades que são planetárias, imediatas, permanentes e imateriais. O "big bang" das Bolsas e a desregulação são encorajadas por aquelas condições de mobilidade estratégica que hoje balizam as condições extraterritoriais que tecem os fios e as teias da globalização (predatória), apesar do objectivo ser construir a Globalização feliz.

3. No domínio sociológico - a mudança também não é menor, visto que as prerrogativas do Estado-nacional levam essas unidades políticas, ainda os actores principais do sistema internacional, a ajustarem-se às condições emergentes em que todos os players passaram a actuar. Seja no domínio na necessidade do concerto internacional, das soberanias partilhadas, no quadro da legitimidade e da representação política e até da própria representação do poder. Tudo mudou com o quadro da globalização. E, portanto, o velho esquema hierárquico e até autoritário que animava a acção do Estado no sistema, aparece hoje convertido numa estrutura de poder horizontal, concertado, negociado, consensualizado.

É isso, aliás, que os poderes públicos fazem com os sindicatos, seja ao nível do patronato e dos trabalhadores para contratualizar os rendimentos salariais, seja ao nível mais sectorial. Mas a gestão global das sociedades contemporâneas, porque tudo isto é novo e a complexidade dos problemas é cada vez maior, além da crise social, económica e financeira em curso nos EUA, na Europa e também em Portugal, suscita novos desafios. E ao ser um processo de regulação política, social e económica para o qual ainda não existem modelos de actuação fixos - é que as sociedades aparecem desnorteadas, buscando desesperadamente modelos de actuação que sirvam as grandes mudanças em curso no nosso tempo. Choque que a crise financeira global, por razões óbvias, só veio acentuar.

O que é particularmente visível no domínio da Educação, em que o ministério da Educação é o maior departamento público foi criado para empregar professores e, hoje, mercê das mutações sociais e tecnológicas, se vê confrontado com a necessidade de negociar com sindicatos cada vez mais politizados e conflituantes em ano de eleições.

Isto não significa que os profes não tenham algum capital de queixa e sejam todos uns sindicalistas (de obediência partidária) empedernidos. São pessoas que querem valorizar-se, ter mais tempo para ensinar, progredir na carreira, obter melhores remunerações e um melhor ambiente de trabalho escapando à imersão da burocracia que hoje - dizem - os afectam. Criar uma escola melhor para todos, é o que está em jogo.

E é aqui que temos de regressar ao ponto de partida e a Obama. Ou seja, ao longo da história a educação sempre esteve no pólo de desenvolvimento de uma nação. Quem trabalhar terá mais chances de melhorar a sua vida do que aqueles que se sentam à sombra do sobreiro, à espera que a crise passe andando a reboque dos acontecimentos e dos sindicatos, como faz Ferreira Leite - que é, segundo dizem, a líder do maior partido da oposição em Portugal. Portanto, o conhecimento é o vector que determina o valor de mercado de trabalho, o que valoriza o quadro de competição de uma empresa, de uma sociedade, de uma nação.

O sistema de avaliação dos profes que Maria de Lurdes Rodrigues defende e está em curso não é, certamente, o modelo ideal, pode até suscitar algumas injustiças relativas no momento da avaliação entre professores e exigir dispêndio de tempo na papelada, mas o País ainda não viu um sistema de avaliação alternativo mais eficiente que cumpra o mesmo objectivo estratégico. Mas como as escolas são interactivas e os pais têm uma responsabilidade primeira de incutir aos filhos uma ética de trabalho que prepara o próprio sucesso escolar, é um dever de cada escola propôr internamente esquemas de ajustamento, correcção com vista a melhorar as imperfeições e injustiças que o actual sistema de avaliação comporta.

Mas é óbvio que os sindicatos e os sindicaalistas de serviço têm objectivos outros que não os da avaliação, e é aqui que os professores, os pais e os alunos perdem ao deixarem-se esmagar pela onda sindical de obediência à Soeiro Pereira Gomes - que vive da crise e para a crise. Portanto, quanto mais "sangue social" conseguirem produzir nas ruas - melhor. Até alguns blogues monotemáticos - feitos por professores que dão erros "à la gardére" - se deixam instrumentalizar porque detestam o estilo da ministra da Educação, detestam o cabelo do PM e, certamente, lá vão alinhando com os sindicatos do costume servindo também os objectivozinhos do costume. Felizmente, nem todos os profes alinham nestas cegadas e pensam pela sua própria cabeça.

Esta é mais uma batalha ideológica, sindical e política do que uma luta verdadeira pela melhoria das condições da Educação em Portugal. É assim, lamentavelmente, que os sindicatos vêm este processo. E é pena. Porque, como revelam estudos recentes, o progresso e o desenvolvimento intelectual do aluno faz-se não por causa do local da sua escola ou até da sua condição socioeconómica, mas em função da identidade do seu professor. Daí a importância estratégica da avaliação dos profes, a fim de valorizar os melhores e de excluir aqueles que não interessam ao sistema. Como em todas as profissões, aliás. Isto só se faz com um sistema de avaliação credível, transparente e justo.

Mas, mais uma vez, os sindicatos vampirizam a necessidade da reforma, promovem a organização de bloqueios dentro (e fora) da escola a que alguns professores aderem com vista à paralisação da avaliação em curso, ainda que esta seja imperfeita e careça de melhorias. Portanto, temos assim os sindicatos com uma matriz de funcionamento do séc. XIX e uma sociedade e um governo que desejam fazer as reformas para o séc. XXI. Ora, é neste gap funcional, ideológico, politico e sindical que os chamados partidos anti-sistema (PCP e BE, que se podem permitir prometer o aparaíso na terra, pois sabem que nunca serão poder nem terão responsabilidade de governar) operam - dando instruções aos sindicatos que telecontrolam para bloquear qualquer possibilidade de reforma.

Isto tem uma consequência prática: não valorizar a profissão de professor e penalizar a qualidade de ensino no fim da linha - onde está o aluno, razão de ser do sistema. Acresce que sem uma avaliação competente e transparente outras injustiças se multiplicam no sistema, como a de estar a pagar um salário a um professor competente e pagar o mesmo salário aquele professor que não o é.

Isto significa que o sistema tem de saber pagar bem a um professor competente, experiente e qualificado. E Portugal, como bem sabemos, carece de professores com competências elevadas nos domínios críticos das chamadas ciências exactas (matemáticas e ciências) e até, porque não dizê-lo, no domínio das humanidades.

Mas, há sempre um but..., mais uma vez os sindicatos em vez de ajudarem só prejudicam, e fazem-no propositadamente, o que é mais grave e lesivo para os interesses nacionais. Vejamos o que Barack Obama nos diz a este respeito:

    • (...) Em troca de melhores salários, os professores têm de ser mais responsabilizados pelo seu desempenho - e os distritos escolares devem dispor de maior capacidade para se livrarem de professores incompetentes. Até agora, os sindicatos de professores têm resistido à ideia de indexar os salários ao desempenho, em parte porque isto poderia ficar somente ao critério de cada director. (...)

      Obama prossegue na sua argumentação, e conclui dizendo que os Estados e os distritos escolares poderão desenvolver melhores formas de medir o desempenho se trabalharem em conjunto com os sindicatos, combinando os dados dos testes com um sistema de avaliação pelos pares (a maior parte dos professores sabe distinguir, com notável consistência, os colegas realmente bons dos realmente maus). É possível garantir assim que professores com mau desempenho deixem de prejudicar crianças que desejam aprender.ob. cit. Barack Obama, A Audácia da Esperança, Casa das Letras, págs. 163-66.

Obama - como muitos de nós - sabe que "estes miúdos" - são os nossos miúdos, os futuros professores, pais, empresários, políticos, decisores, enfim, assumirão as mais variadas profissões. Por isso, a necessidade em reformar a escola é grande, mormente em Portugal onde durante anos o parque escolar não beneficiou de qualquer investimento - seja em hardware seja em software - para facilitar a aprendizarem das nossas crianças.

Por isso, é de crer que todos se ajustem ao novo campo estratégico: Lurdes Rodrigues terá de ajustar o seu modelo de avaliação e ser mais realista (talvez, sair do seu gabinete e fazer uma ronda pelas escolas do País a ajude), os sindicalistas do costume terão de deixar as reservas mentais no cacifo partidário, os pais contribuir com algumas ideias e os "putos" - os "nossos putos" têm de ser educados mais estimulados pela ética do trabalho do que pela cultura da irresponsabilidade e da improdutividade.

Ao fim e ao cabo, falamos dos "nossos putos"...

PS: Reflexão dedicada aos "nossos putos", ao legado de Obama - que já é muito e também ao amigo AV - que tem acompanhado algumas das nossas cogitações e que, a cada momento, percebendo sempre o que está em jogo, soube sempre responder à altura dos desafios que o País coloca.