A "eficácia" comunicacional de Cavaco em Belém: a lei do divórcio, Ferreira leite e a relação com o Público. Uma troika de pecadilhos
UMA TROIKA DE PECADILHOS QUE DENUNCIAM UM CAVACO ELEITORAL
Se Cavaco comunicasse os temas de intervenção política com a mesma eficácia com que o faz para reconhecer o mérito e apreço pelos nossos atletas em Pequim que ganham medalhas olímpicas - o Governo já estaria em maus lençóis. Mas, de facto, o PR tem pautado mais a sua intervenção por obediência a razões eleitorais do que a verdadeiras razões de interesse nacional. Vejamos sumáriamente cada uma dessas vertentes: Ontem vetou politicamente a lei do divórcio (em parte subscrita pelo PSD) para agradar ao centro direita em Portugal, aos mais conservadores e à igreja. Entende assim proteger o cônjuge mais fraco e os filhos menores no quadro da separação, embora saiba que para um casamento perdurar no tempo exige o consentimento de ambos os cônjuges. São precisos dois para dançar o tango, como diz o povo... Diria que Cavaco já pensa em eleições, mas a aparência de seriedade com que o faz dá a ideia (ilusória) ao povo de que actua com estrita preocupação pelo bem comum dos portugueses, e não com a sua imagem pessoal. O reforço deste argumento foi visível quando o PR instruiu um assessor-fantasma para informar o jornal de Belmiro de Azevedo de que tinha algo de importante para comunicar ao país. Depois soube-se que era o Estatuto jurídico dos Açores. Também aqui o Portugal profundo ficou a saber que quando Cavaco tem algo de muito importante para dizer ao País primeiro instrui um assessor que comunica, in advance, ao diário o Público que vai falar. E quando fala o País também fica a saber que aquilo que diz já foi pré-anunciado pela queixinhas líder da oposição, Ferreira leite, que tem por hábito ser porta-vox das suas conversas em Belém. Talvez por isso fique depois com receio de aparecer em público, não vá ser acusada de queixinhas a Cavaco... Até dá vontade de perguntar à srª Ferreira leite se é por falta de educação que veicula o teor das conversas privadas que tem com o PR no Palácio Rosa ou se tal se deve, simplesmente, a falta de ideias e projectos sobre o que quer que seja. Como o país já conhece Ferreira leite - a conclusão é ambivalente: a srª além de mal-educada também não tem ideias. Nada disto é novo. Basta ouvi-la 70 segundos. Contudo, preocupa-me - como mero cidadão - a forma como a equipa de assessores e as chamadas fontes de Belém produzem, gerem e racionalizam a informação. Por um lado, há assessores qualificados que poderiam falar e não falam; outros há, ligados a certas distritais do psd, que não deveriam falar e até escrevem artigos sobre a política externa portuguesa nos jornais mesmo antes de Belém se pronunciar, apesar da política externa ser uma competência formal do Governo. Por último, urge perguntar se Cavaco e a Presidência da República têm algum contrato de exclusividade de prestação de serviços com o jornal Público do engº Belmiro - o órgão oficial de oposição ao engº Sócrates, sobretudo desde que aquele perdeu a OPA à PT - dado que as comunicações que Cavaco faz ao País são, antecipadamente e de forma exclusivista - comunicadas aquele jornal dirigido pelo sr. Fernandes, o único elemento que não empresta valor-acrescentado aquele diário - que tem, sublinho, muitos e bons jornalistas. É como se Cavaco actuasse em regime de monopólio em matéria de comunicação publica a partir de Belém. Os mais astutos já se perguntam se o PR terá alguma participação no grupo Sonae... Nesta conformidade, e tomando por referência estes três simples aspectos: o veto à lei do divórcio, a sua intimidade estratégica com a srª Ferreira leite e a forma cúmplice como mantém relações com o Público através de assessores-fantasma, cabe perguntar a Cavaco se não se sente já eleições... Duvido que muitos daqueles que nele votaram o façam da próxima vez. Como na compra de acções cotadas em bolsa, milhares de tugas sabem já distinguir uma boa acção daquela que não o é; e esses também conseguem diferenciar um gato duma lebre.
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