segunda-feira

Santana Lopes e Jaime Gama: o "efeito Xanax e Viagra" na política à portuguesa

Quem não se lembra da forma como Santana Lopes tomou posse como PM no Palácio da Ajuda, num dia quente de Verão, com o protagonista empastelado à procura da folha exacta do discurso para prosseguir a sua oratória num governo sem legitimidade popular - na sequência da fuga de Durão Barroso para Bruxelas - que se veio a revelar um fiasco total, sinal da própria tomada de posse que adiou Portugal por um semestre. Nem como laboratório político ou experimentalismo técnico essa prestação de 180 dias teve qualquer interesse nacional. Mas o balanço do passivo dessa página negra da história política recente de Portugal constitucional já está feito e julgado, e ficou conhecido - em certos meios intelectuais - como "o efeito Xanax da política portuguesa" - a avaliar pelos próprios sintomas físicos que nessa ocasião o então recém-PM revelou.
Agora, Jaime Gama - com quem nunca supus estabelecer um paralelo político com S.Lopes, revelou comportamento equivalente, mas de sinal oposto. Explicito: Gama, tão só a 2ª figura na hierarquia do Estado, deslocou-se à Madeira no âmbito da ANAFRE (Ass. Nacional de Freguesias) realizado no Funchal, e no encerramento desse Congresso - o referido Gama abre a boca para tecer um retumbante elogio a Alberto João Jardim. E foi mais longe no exagero, apresentando mesmo o Alberto Jardim como um estudo-de-caso de sucesso entre os autarcas, que fez um trabalho notável na Madeira.
A dado momento pensei até tratar-se duma cerimónia de apresentação de um novo software cujo produto visaria prevenir exageros e dislates em que um engenheiro de sistemas da Microsoft tecia grandes elogios a Bill Gates, seu patrão. Mas não, tratava-se de Gama - um ilhéu - deslumbrado com Alberto e com as suas rodovias (num namoro político surpreendente) - que ao longo destes 30 anos tem beneficiado de recursos que lhe permitiram fazer obra que, em rigor, qualquer bom gestor autárquico faria sem os defeitos de nepotismo, cunhismo e autoritarismo de que Jardim é fundamentadamente acusado pelas mais diversas forças partidárias na ilha.
Mas Gama não foi sensível a essa outra faceta da realidade da Madeira que todos nós conhecemos, e elogiou Alberto com desmesurado e surpreendente exagero que contraria, de resto, o seu habitual common sense. Terá Gama apanhado alguma insulação!!?? Terá comido alguma ameijoa inchada, berbigão ou marisco fora de época!?
Assim sendo, como Santana Lopes tomára Xanax para estar calmo na tomada de posse no Palácio da Ajuda - é lícito afirmar que Gama ingeriu um contentor de Viagra para tecer os elogios que fez a Alberto da Madeira.
Um pouco mais de reserva e de recato era exigido a Gama, não por ele integrar o PS e Alberto o PSD, um adversário político, portanto. Mas pelo facto de nem a realidade das coisas nem as funções na hierarquia do Estado que Gama hoje desempenha (que não devem ser confundidas com funções partidárias) - o autorizariam a tanto exagero.
E bem sabemos que os exageros são, por natura, todos ridículos, ridicularizando quem os professa.
Perante este triste episódio sou de opinião que quando amanhã Gama regressar à AR para prosseguir os seus trabalhos - fá-lo-á com menos autoridade do que quando partiu para a Madeira.
PS: Seria desejável que amanhã ou depois - quando Portugal tiver de receber um alto dignitário de Angola, Cuba ou de qualquer outro País com quem mantemos relações diplomáticas - apesar de não serem verdadeiras e autênticas democracias pluralistas - seja o Chefe de Estado - que esteja presente, ao menos Cavaco tem dado a garantia aos portugueses que representa bem Portugal.