segunda-feira

O que José António saraiva disse (e escreveu) de Vitor Constâncio

Por vezes o ex-Director do Expresso, José António Saraiva e Vítor Constâncio encontravam-se socialmente, e é uma dessa conversas sociais que aquele narra no seu livro Confissões de um director de Jornal, Dom Quixote, pág. 117-118. Reza assim:
[...]
"Confesso que estranho o seu nervosismo naquilo que é uma simples brincadeira de férias. À noite pleneámos umas partidas de xadrez. Durante o jantar Constâncio explica que tem dezenas de livros de xadrez, talvez uma centena, e que agora é forçado a jogar contra o computador porque entre os seus conhecidos já não tem adversário à altura. No primeiro jogo eu comçeo a ganhar vantagem, um dos filhos mete-se com ele, diz-lhe qualquer coisa como: "Estavas aí com tanta garganta e estás a perder com o Saraiva", ele volta a enervar-se, manda o filho embora com um gesto brusco, mas acaba por ganhar facilmente o jogo. Com o meu cunhado acontece aproxidamente o mesmo: Constâncio começa a perder, enerva-se, mas finalmente ganha. [...]
"Uma sexta-feira - estou eu na sala dos gráficos a fechar o Expresso - a Maria João Avillez, acabada de chegar da rua, pergunta-me bruscamente:
- Ó Zé António, é verdade que o Vítor Constâncio lhe ganhou ao ténis e ao Xadrez?.
Respondo que sim, embora surpreendido com a pergunta.
- Quem é que lhe disse isso? - quero saber.
- Estive a falar com o Vítor Constâncio e ele disse-me que você o ataca nas suas crónicas para se vingar de ele lhe ter ganho ao ténis e ao xadrez - explica-me.
Quase caio de espanto. Como é possível? Mas é. Um tempo depois, numa pastelaria da Rua Nova do Almada, o Cáceres Monteiro far-me-á a mesma pergunta. E até Balsemão ouvirá queixas de Vítor Constâncio contra mim.
A situação, para além de surpreendente, é absurda.
Os que me conhecem sabem que sou particularmente cuidadoso na referência a pessoas que possam pensar que algo me move contra elas (o que nem sequer é o caso, até porque nunca tive quaisquer pretensões ao ténis ou ao xadrez...). E jamais usaria as páginas do Expresso para fazer ajustes de contas pessoais."
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Marcelo vs Balsemão
cit. in JAS, Confissões de um director de jornal.
"Um dia, no Algarve, o professor André Gonçalves Pereira surgiu na piscina da sua "Casa Redonda" na Quinta do Lago com o Expresso na mão, a rir, e disse para Francisco Balsemão (que era convidado):

- Já viste o que o teu jornal diz de ti? - Balsemão respondeu não ter visto ainda e Gonçalves Pereira informou: - Diz que és - "lelé da cuca".

Na segunda-feira de manhã, em Lisboa, Balsemão mandou chamar Marcelo Rebelo de Sousa e, com o Expresso aberto na secção Gente, perguntou-lhe:

- Sabe quem escreveu isto?

Marcelo disse-lhe que não, que não sabia. Balsemão pegou então no original escrito à máquina, onde, a meio de uma notícia, se intercalara a frase "Balsemão é lélé da cuca", escrita indubitavelmente pela mão de Marcelo.

- Esta não é a sua letra? insistiu Balsemão.
Marcelo reconheceu a autoria, mas apressou-se a explicar:

- Sabe, eu tinha a suspeita de que a revisão estava a trabalhar muito mal e fiz isso para os experimentar. Infelizmente, verifiquei que era verdade.

Balsemão limitou-se a dizer:

- Não preciso de mais nada. Pode sair.

Uns dias mais tarde, em casa de Balsemão, na Quinta da Marinha, teria lugar um pouco edificante epsiódio, com Marcelo a pedir desculpa a Balsemão e a dizer-lhe que o via como um pai."