sexta-feira

Kadafi: criatura arrepiante e sinistra

Kadafi é uma figura sinistra: no aspecto, na pose, na entourage, no olhar e, claro, na praxis política. Para mim esta criatura ainda é o terrorista que manda abater aviões comerciais matando aos 300/400 passageiros de cada vez. É um bárbaro entretanto civilizado e assimilado pelo sistema. Sofreu o processo de branqueamento e entrou na cena internacional como se toda a vida fosse um democrata. É este animal que atracou em Portugal e montou tenda em Carcavelos.
A segurança que ele traz consigo compreende-se perfeitamente: ele sabe que matou e mandou matar centenas de pessoas em todo o mundo. Sabe, por isso, que há amigos, familiares dessas pessoas inocentes que ele executou sem piedade, portanto sabe que tem inimigos, logo tem medo de levar um balázio na nuca e cair que nem um tordo. Em vez disso, é recebido em S. Bento pela democracia lusa. É este o jogo do pluralismo democrático que temos de jogar para salvar a economia, dinamizar a política e a diplomacia.
Mas eu gostaria de formular aqui uma simples questão aos ógãos do poder: a todos eles. Imagine-se que nessas centenas de pessoas que o ditador líbio mandou executar, em terra, no ar ou no mar havia um familiar ou amigo de um titular de cargo político nacional actualmente em funções, como reagiria ele?
Gostaria de perguntar aqui ao Nuno Severiano Teixeira - que no último mês cumprimentei duas vezes, o que faria se um filho dele tivesse sido abatido naquele avião comercial de Lockerby? Ou o que faria Socas - se um sobrinho, amigo ou mesmo filho tivesse sido carbonizado naquele pássaro que explodiu em pleno vôo através dum tirinho de míssil terra-ar?
Quero crer que, quer um quer outro não o receberiam nem em Carcavelos (no Forte de S. Julião da Barra) nem em S. Bento.
Isto faz-me supor duas coisas a propósito de Kadafi: que as democracias por vezes são regimes tão terríveis e moles quanto lamentáveis, e que aquela entourage do ditador líbio faz-me supor que existem mais insectos num quilómetro2 de zona rural do que pessoas em todo o planeta.
Mas sempre que vejo Kadafi nem é do Severiano teixeira que me recordo, nem dos insectos que são em grande número, mas dos lagartos de Comoro, naturais da Indonésia. Confesso que me arrepiam - tanto como Kadafi.
Eis um personagem a quem não gostaria de apertar a mão ou de tomar o pequeno-almoço ou ainda de ver passear no corredor de minha casa a qualquer hora da noite ou do dia.
Depois de Carcavelos e de S. Bento esperemos que não vá comer lagosta ou beber leite de camelo numa tenda montada à pressa com Cavaco para os jardins do Palácio de Belém, depois duma incursão aos pastelinhos de Belém - onde esgotou o stock para o próximo trimestre.
Além de camelos (que Portugal, segundo Mário Lino, tem em abundância na outra margem do Tejo) a Líbia tem petróleo e, sobretudo, gás natural...