terça-feira

Celebração da vida e a morte sem aviso-prévio

Salvador Dalí
Criança e Geopolítica Observando o Nascimento do Homem Novo
Hoje desapareceram em Portugal duas pessoas ainda relativamente novas, e quando assim é a morte é sempre uma interrupção abrupta, uma coisa canalha, algo sem justificação possível, algo que deveria ser expurgado da condição de vida.
Em crianças somos educados para a vida e não para a morte, na adolescência vem o mito do herói, o consumo, a sexualidade, a ideia de que os nossos pais são os maiores além de eternos, a entrada na fase adulta, o casamento, o divórcio, a ilusão seguida doutras tantas desilusões como que a ratificar o ciclo desta nossa tão mesquinha quanto conturbada, fascinante e curta existência. Enfim, uma desgraça pegada.
Na escola, na universidade, na família, na sociedade em geral a educação é toda ela virada para a vida e não para a morte - que a Filosofia é já um estágio importante.
Depois o incentivo ao consumo, que gera necessáriamente o desperdício, provoca em nós uma sensação de poder sobre a Natureza que directa ou indirectamente nos dá a sensação de que somos eternos, robustos e vivemos para sempre. Tamanha ilusão, pois quando nos distraímos caímos para o lado que nem tordos e depois lá se vai o vôo da manhã a rasgar o vento na finta dos céus.
No fundo, nascemos para morrer, até vivemos ou sobrevivemos com mais ou menos cultura, mais ou menos dinheiro, mais ou menos vontade e lucidez. Mas o termo certo desse contrato que nos é dado viver está traçado, mas trata-se dum traço cuja linha nunca nos permite saber quando irá quebrar-se.
No final, como se de mais um projecto com viabilidade económica se tratasse, e apoiado pela UE, lá teremos de encomendar um caixão bonitinho - entre o castanho escuro e o castanho claro (com ou sem verniz) - numa organização da morte que nos encaminhará ou para um jazigo ou para 7 palmos abaixo da terra. Distinguindo aqui o carácter mais ou menos aristocrático do defunto.
Eis o penhor da vida: uma morte certa (nem sempre digna), por vezes as coisas agravam-se porque nos colhem cedo demais e sem aviso-prévio, como algumas cartas das financas (sem cedilha).