quinta-feira

O político e o cientista. Decidir Lisboa com António Costa

Max Weber a quem é dedicada esta reflexão
Nunca como hoje os sistemas (militar, político, jurídico, ambiental e tecnológico) estiveram funcionalmente tão relacionados com a ordem económica. Sob a inseparabilidade da Política com a Economia os agentes políticos têm de saber equacionar o melhor saber técnico disponível e envolver essas opções no quadro político. Seja no plano local, regional ou nacional ou mesmo na esfera da globalidade, dado que hoje essas gavetas e fronteiras implodiram e já não funcionam como saberes estanques e compartimentados.
Ora, a gestão duma cidade exige o concurso desse saberes cruzados: urbanismo, geografia, planeamento e ordenamento do território, finanças, ambiente e, naturalmente, política pura e aplicada - que é a matriz condutora que oferece um rumo, uma direcção que a cidade deve (ou não) seguir em função da sua história, identidade e ideais.
Hoje, PPereira, num programa de tv, não teve isto em linha de conta e até Jorge Coelho o "meteu no bolso". Foi bem feito..
Daqui se infere o seguinte: são estas novas tecnologias e as interacções do saber que provocam as mudanças nos padrões económicos e sociais, segundo a clássica fórmula de destruição criativa do cientista J. Schumpeter. Contudo, esta panóplia de tecnologias e novas utilizações só é validada se houver retorno para as Ciências Sociais e Humanas (CSH). I.é., o estudo do ambiente, do urbanismo, da saúde, da educação, do sistema de transportes, entre outros territórios do saber, só é viável se forem criadas linhas de comunicação entre o triângulo estratégico: decisores políticos, cientistas e cidadãos.
Sem esta multidisciplinaridade a cadeia de comando (e reconhecimento das populações) não funciona. Aliás, hoje nada se faz sem a soberania do conhecimento: a investigação, a inovação, o crescimento económico e a consequente melhoria da qualidade de vida em termos de saúde, ambiente e conforto - tudo depende das linhas de conhecimento disponível.
Mesmo assim são vagos e incertos esses benefícios a que estão associados riscos na cidade: crime, desemprego, (in)segurança pessoal e global, novas doenças, terrorismo, info-exclusão, poluição e outros riscos transnacionais que tolhem hoje as megapolis, e Lisboa não é excepção.
Por um lado, existem os cientistas que possuem conhecimento e influência, e os decisores a quem cabe o exercício do poder; por outro, os cidadãos sobre quem recai o exercício daquele poder e influência mediante o voto. Apesar da dualidade, a realidade é mais complexa, já que a sociedade civil global vai colocando questões e dando respostas obrigando a rever o precário equilíbrio entre conhecimento e poder, ciência e sociedade bem como a viabilidade da noção de governança associada às políticas públicas.
Então, que papel cabe às Ciências Sociais e Humanas na gestão duma cidade: verter uma luz sobre a decisão política geradora de um paradigma técnico-económico, do qual resultaria um padrão de desenvolvimento que engloba um cluster estável de tecnologias que produzem um forte impacto na economia e na sociedade e em torno das quais se processa a inovação. É disto que o Porto de Lisboa carece..., com ou sem José Miguel Júdice.
É disto que Lisboa precisa, seja para racionalizar e despoluir a Av. da Liberdade, uma das artérias mais poluídas do mundo, seja para equacionar a gestão do Porto de Lisboa integrada na cidade - que é hoje um pântano que sequestrou a cidade às pessoas, e não pagou resgate...
Já é líquido que a interacção das ciências “duras” com as CSH potencia o rigor científico e a valia cultural das nações. Um processo indispensável a Portugal, o país da Europa com mais pobres recursos socio-politológicos. Tanto mais que a relação entre governo e cidadãos já não é a mesma e novas formas de governabilidade e de progresso sócio-económico devem ser repensadas em vista à sustentabilidade desejada. A escolha da melhor localização para construir o novo aeroporto internacional de Lisboa veio, no fundo, questionar todo o nosso saber e capacidades de realizar obras.
Afinal a construção dos saberes, seja para gerir uma cidade ou um País, resulta sempre duma combinação: o economista pensa em termos de utilidade; o jurista em termos de conformidade da acção com as leis, o moralista com os princípios morais mas é o político que tem de se preocupar com tudo. Por isso dissémos aqui ontem que António Costa é, pelas suas características pessoais, um actor político antecipativo, prospectivo e normativo - e não se vangloria - como faz o "Sr. Polícia" Negrão ao dizer que é jurista, e depois comete gafes monumentais com siglas de organizações.
Como? envolver a ciência com os cidadãos reforçando o processo democrático pelo método do consenso da conferência praticado em alguns países. A cidadania, de que hoje H. Roseta se diz defendora e arauta, e a governança devem regular a globalização e ser as sentinelas da integração europeia e do alargamento e da emergência de novas formas de identidade cultural.
Daí a necessidade da UE (e Portugal) promoverem estudos comparativos transnacionais indicadores do desenvolvimento da investigação, e potenciar tais estudos com as políticas públicas dos Estados gerando, assim, uma rede de investigação e conhecimento europeia - apanhando as cidades pelo meio.
Numa palavra: o discurso político, ao invés do cientista, tem de ser compreensível para as massas, o que não favorece a inovação e o experimentalismo. Assim, torna-se problemático ao político decidir o novo campo estratégico e conduzir as massas sociais para tipos de comportamentos adequados à nova fase da globalização competitiva. Mas não é impossível..
Sobretudo, se pensarmos que aquele que se afigura ser o melhor candidato hoje tem uma linguagem simples e objectivos claros e concretos.
A saber: sanear financeiramente o défice da CML, resolver os casos urbanísticos mais urgentes, dotar a Câmara de rigor e competência e pôr, no fundo, Lisboa ao serviço de todos.
Sem grandes dificuldades qualquer pessoa minimamente informada compreenderá que a pessoa que mais eficientemente pode desempenhar essa função de edil na Capital é, sem dúvida, António Costa.