quinta-feira

Viajando neste comboio. Evocação de Fernando Tordo

  • Viajando neste comboio, sentado de costas para onde vou
    apenas me afasto da origem, não me aproximo do destino
    é o que eu sinto, sentado como estou
    de costas para onde vou
    avisaram-me.
    vai sempre de frente para a frente é que é o caminho
    à minha frente vai um
    sentado como eu devia estar de frente para onde vamos
    de costas para a origem
    dorme.
    se calhar sonhando que é garantido chegar melhor
    ao fim da linha.
    teimo em dizer que vou acordado e quero saber
    por qual diapasão afino
    se bato com as costas quando chegar
    ou se esbarro de caras com o destino.
    Fernando Tordo, 2005
    Esta é uma das poesias do livro de poesias, recém saído, de Fernando Tordo. O título do livro é "Quando não souberes copia", editado por "Campo das Letras, Editores, S. A..
    Agradeço, desde já, o envio desta linda e reflexiva poesia pela mão do n/ amigo Silvestre. Um dia publicá-la-á ele próprio no seu blog. Soon..
    Ando pouco de comboio, mas talvez o melhor, com tantos acidentes, é ir sempre de olhos bem abertos e de mente vigilante para poder saltar caso alguma vaca se atravessa na linha. Quem diz vaca diz um mosquito nos olhos do maquinista. Ou, mais contemporaneamente, um ataque terrorista que hoje elegem os comboios como teatro de operações para fazerem as suas baixas. Infelizmente, nem já em casa estamos seguros. Há quem morra de tédio..