sexta-feira

Estamos viciados em velocidade: uma reflexão sobre o hiper-Tempo

Entre as valorações do genial Jorge Luís Borges e a mística do Ómega Speed Master que foi à Lua, há uma amplitude de pensamento que nos deixa translúcidos, para não dizer "translumbrados" sobre o tempo que passa. Tempo esse que recorta hoje a nossa nova religião, pois estamos viciados nele e na velocidade que ele imprime às nossas vidas e às nossas relações sociais.
Pois o que dantes demorava 5 anos, e depois 5 meses, e depois uma semana - demora hoje 1 min. ou, em certos casos, zero ss., dado que a coisa se resolve em tempo real. Será isto bom... Se olharmos para a economia, muita coisa hoje se resolve em segundos, mormente a fixação dos preços dos bens e dos serviços, as empresas competem cada vez mais nessa base temporal, de fazer rápido as coisas. No fundo vivemos ao vivo, não temos tempo para meditar naquilo que fazemos ou dizemos, e muita da asneira decorre dessa precipitação ou compressão do tempo que nos obriga a dizer aquilo que, na verdade, não queríamos dizer.
No plano interpessoal, quantas pessoas se desentendem mesmo antes de se conhecerem pessoalmente, e aí a tecnologia é um catalizador de desgraças; no plano económico/bolsista quantas falências não decorreram já pela voragem do tempo, em que baste uma decisão errada para que se torne irreversível acabando com milhões num cagagésimo de ss, algumas dessas pessoas utiilizam a terapia do suicído para resolver o problema; no plano político quantas asneiras não se cometeram já ao abrigo das chamadas TIC que, em inúmeros casos, apenas servem as empresas que comercializam os equipamentos e não as pessoas-destinatárias da sua utilização.
O que procuro sublinhar é que se a voragem do tempo hoje nos permite comunicar em tempo real, eliminando inúmeros obstáculos outrora existentes, é também essa mesma voragem e compressão do tempo que está reduzindo o tamanho do nosso cérebro ao não deixar campo-aberto e tempo necessário para o nosso cérebro processar e meditar devidamente na informação que tem de utilizar.
Hoje quando algo acontece na China tudo se sabe em Lisboa, Madrid ou Milão, por causa da tal economia interligada que temos on line. Mas se atentarmos, por exemplo, na violação dos direitos humanos alí (ainda) e miserávelmente praticada - o tempo da decisão é ainda lento, medieval e cruel. Aí a velocidade torna-se lenta e o tempo uma enormidade. Hoje parece vivermos na rede da aranha em que se percebem os movimentos das presas nesse estratagema, sabe-se quem navega nela, quem pousa, avança e recua mas, ao mesmo tempo, temos de perceber que até as aranhas podem cair - dada a fragilidade de todo esse sistema se poder romper a qualquer momento. E o problema é que as aranhas somos todos nós...
Eis o que nos apraz registar quando compulsamos as ideias de J.L.Borges com o Ómega Speed Master que até já foi à Lua e tudo. Pois por cá, muitos de nós andamos "aluados", talvez por não saber gerir essa voragem do tempo que vôa..