Quem diz que os maridos não ajudam...
UM IDEALISTA NA REALIDADE Maria José Nogueira Pinto jurista
Hoje, pelo menos nas democracias estabilizadas, os políticos em desgraça perante o soberano - que é colectivo, o povo - já não são decapitados. Apenas mandados para casa. Mesmo assim, o exemplo de Thomas More - S. Thomas More - mantém a sua actualidade. Conhecido principalmente pelo desfecho da sua vida - decapitado em 1535 por ordem de Henrique VIII -, ficou na memória de todos como exemplo de integridade moral que o levou ao martírio e à santidade. Descrito por Erasmo como um homem "faminto de liberdade", polifacetado, desenvolve inúmeras actividades em áreas muito diferentes: lê, viaja, escreve, constitui e cria uma família marcada pela excepcionalidade e exerce a política activa, desempenhando inúmeros cargos da maior importância: juiz de Londres, presidente da Câmara dos Comuns, ministro da Justiça e lorde chanceler do Reino. Idealista e realista. Toda a sua acção é marcada pela necessidade de fazer a síntese entre o velho e o novo, entre o real e o ideal. A Utopia - literalmente, em nenhum lugar - permitiu-lhe balizar um mais-além de perfeição inexistente que desse sentido a esta caminhada que é a vida, produzindo uma espécie de energia e permitindo medir a distância entre o possível e o tendencialmente alcançável. E é por isso que sem qualquer contradição Thomas More foi de facto um político marcado pelo realismo, procurando no desempenho dos seus cargos conseguir as pequenas grandes coisas que melhoram a vida dos homens e se traduzem na paz possível e indispensável ao progresso: aperfeiçoar o funcionamento dos tribunais, recuperar o atraso dos processos, aumentar a rapidez dos veredictos, tomar iniciativas legislativas orientadas pelo senso comum e pela eficácia, responder às necessidades dos cidadãos. A sua consciência nunca representou uma obstinação ou um heroísmo arbitrário: usou da manha sagrada da serpente mas preparou-se sempre para a eventualidade da renúncia máxima. As sociedades modernas, ao privilegiarem o pragmatismo puro e o imediatismo, parecem ter colocado esse político activo e realista que foi Thomas More na prateleira dos exemplos louváveis mais impossíveis. Em contrapartida, verificamos entre nós o uso abusivo de Maquiavel (do maquiavelismo e do maquiavélico), abusivo desde logo porque poucos o leram e ainda menos o estudaram. A referência em que Maquiavel se tornou - símbolo indevido do político manhoso, habilidoso e bem sucedido - assenta num conceito cada vez mais esvaziado e deprimente da acção política, vista já não como um combate claro de valores e ideias no quadro morno da nossa organizada partidocracia, mas como uma sucessão de habilidades práticas, alianças e negócios ou pura capacidade de conspirar melhor. Maquiavel escreveu, citando Cosme de Médicis, que os Estados não podem ser governados com "pais-nossos", mas também escreveu que sem religião (aqui no sentido de um quadro de valores universais) os Estados cairiam na ruína. Alguma pobreza da prática política actual, a complexidade crescente dos problemas reais que afligem os cidadãos e o evidente distanciamento destes do poder político - a que se soma o efeito de filtro inerente às sociedades de comunicação - vão obrigar necessariamente ao regresso às ideias. O colocar de novo as ideias no topo da agenda política terá duas consequências: a reivindicação, pelos diferentes grupos, de espaços ideológicos diferenciados e a capacidade prática de mediação entre o mundo real e o mundo ideal. O político passa assim a ser, antes de mais, um mediador entre as condições concretas - necessidades a serem satisfeitas, interesses sociais e ambições humanas a serem ordenadas e promovidas, serviços e respostas eficazes a serem prestadas - e os ideais - o bem possível - que constituem a dimensão da esperança e a legitimação do desenvolvimento. Se assim for, Maquiavel vai ficar agradecido, e seria bom ressuscitar Thomas More em cursos de reciclagem acelerada. Obs: Interessante mas com fraca ligação à realidade sociopolítica nacional, designadamente deveria ter concretizado, seja para o lado de Carmona, "Pretão" ou mesmo Telmo Correias do cds. Assim, fica um artigo de teoria política, mas não deixa de ser um "pãosinho sem sal". Não concretizou.. Por outro lado, apostaria a cabeça de Thomas More em como mais de 2/3 deste texto foi pensado por jaime Nogueira Pinto... Para mim é tão óbvio que eu, se pudesse, teria poupado a cabeça ao filósofo. Ademais, nós não queremos violência, desejamos sim é pax e amor. E, já agora, um aumento da natalidade que também anda, em Portugal, pelas valetas da amargura.
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