quinta-feira

Editorial do Jumento. O novel aeroporto internacional de Lisboa

Editorial do Jumento:
Poceirão, Ota, Alcochete, Portela+1 ou 2, Rio Frio ou etc.? Já toda a gente percebeu que poucos dos que falam de aeroportos saberão tanto do assunto como eu de lagares de azeite, que uma boa parte deles terão a ganhar alguma coisa com o assunto, uns ganham votos, outros protagonismo, outros alguma ajuda para conforto das contas partidárias, alguns ficam com uma inesperada notoriedade saindo da penumbra dos gabinetes de engenharia e com sorte até terão o culminar de uma carreira graças a um qualquer programa de televisão.
No meio de tanto estudo resta agora o LNEC, e está-se mesmo a ver que não faltará quem não goste do parecer e descubra que a direcção do LNEC depende da tutela ou que algum dirigente responsável ainda faz parte do lote dos nomeados pelo PSD ou mesmo pelo CDS.
Talvez o nosso amigo tenha razão, o melhor será reconhecer que não nos conseguimos governar e pedir a Bruxelas que decida por nós, o problema é que anda por aí tanta gente a tentar governar-se que isto começa a ficar ingovernável.
Mas esta solução tem, desde logo, um pequeno problema: à frente da Comissão está um dos que escolheram a Ota, e que de otário nada tinha. Quem vai aceitar que seja Durão Barroso a decidir, ele que fugiu precisamente porque por cá as decisões davam mais trabalho e menos dinheiro do que em Bruxelas? Não faria sentido pedir a Bruxelas para resolver e, ao mesmo tempo, sugerir que o presidente da Comissão fosse impedido de acompanhar o dossier.
Não me admiraria nada que no dia em que se pedisse a Bruxelas o favorzinho de decidir por nós o Marques Mendes aparecesse no miradouro da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque, a falar para os jornalistas portugueses com sotaque americano, defendendo que a EU nunca poderia ser imparcial porque iria escolher a solução mais barata para os fundos comunitários, e tal como fez no Poceirão perguntaria porque motivo o Governo não mandou fazer estudos sobre a hipótese de serem os EUA a resolver-nos o imbróglio, como os americanos ou não sabem onde fica Portugal ou estão convencidos que por cá se dança o flamenco - seriam a entidade mais independente.
O Chico Loução não perderia tempo para ganhar mais uns pontos ao Jerónimo de Sousa e apareceria a defender que o problema fosse resolvido em português, seria a forma de todos os portugueses poderem acompanhar o assunto, pois na Europa há mais línguas maternas do que mães, em inglês até pareceria que se estava a gabar a opção de Sócrates de pôr todos os putos a falar a língua de William Shakespeare com sotaque de Beja ou de Ponta Delgada. Além disso, colocar-se-ia o problema da independência política do pessoal da tradução simultânea.
Portas apareceria a defender a opção Bruxelas mais um, porque se somos, ainda somos, estamos convencidos de que somos ou ainda não perdemos a esperança de ser, continuar a ser ou não deixar de ser europeus, não nos podemos esquecer do eixo atlântico e incluir os americanos na decisão. Até porque se temos aeroporto é para irmos a Nova Iorque, nem que seja para dar uns apalpões ao Donald Rumsfeld, já que para ir a Madrid ou a Bruxelas podemos ir de carro.
Mas o debate não ficaria por aqui, Eduíno Vilar, o ex-líder do PCP-ML, e Arnaldo Matos, o ex-educador do proletariado português, apareceriam a invocar o seu estatuto de independentes para defender que nem americanos, nem Bruxelas, o melhor seria recorrer a uma solução independente destas, proporiam que fosse uma "emergência emergente". O ideal seria a China, não só estão interessadíssimos em instalar um cluster balnear ali para os lados de Beja, como seria a forma de nos pagarem o favor de lhes termos construído um aeroporto novinho em Macau. Além disso, como ninguém perceberia o que eles dissessem não haveria razão para zangas ou programas da Fátima Campos Ferreira e, em vez de dar o programa "Prós e Contras" até horas inimigas da natalidade, poder-se-ia assistir de novo à telenovela "Gabriela".
Entretanto, o Comité Central do PCP reuniria para discutir qual seria a solução mais adequada, se a China, a China mais um, envolvendo a Coreia do Norte, ou se não seria melhor aproveitar enquanto o infalível Fidel Castro está vivo para lhe pedir conselho. Neste último caso poder-se-ia aproveitar a simpatia da nossa diplomacia para com Hugo Chaves, para pedir ao líder venezuelano para dar mais um pulo a Havana para falar com o ti Fidel, até poderia levar o Saramago para que o conselho do El comandante fosse escrito num português capaz de convencer qualquer sueco.
Por este andar ainda vai haver quem se lembre de construir o aeroporto em Olivença, o que seria uma forma original de tramar os espanhóis que nos roubaram aquela praça na Guerra das Laranjas, e agora até devem estar com medo que alguém lhes venha agora dizer - "já que nos roubaram Olivença, então agora levem o resto, pois quando conhecerem os nossos políticos e empresários é que vão ver o buraco em que se meteram!".
Obs: Vá lá, o Jumento ainda teve a amabilidade de colocar o C. Ronaldo na imagem, sempre pensei, para agravar a coisa, que metesse o pobre do Luís Figo que ora se encontra desempregado - e até já se inscreveu no Centro de Emprego do Lumiar, por trás do Estádio de Alvalade - para onde terminará a carreira como Rel. Públicas do Club - depois de se arrastar mais um ano onde está.
Seja como for, sou de parecer que Socas deverá encomendar o estudo à UE o quanto antes (para dispôr de mais um estudo comparativo com carácter recomendativo e não vinculativo, assim como o são os estudos nacionais da CIP e outros..), não só porque eles têm melhores técnicos, mais experiência em grandes projectos aeroportuários e também mais capitais e know-how, além de subtraírem o processo de decisão político nacional ao terrível estado de inquinamento e corporativismo caciqueiro em que se encontra e do qual só muito dificilmente sairá.
Ainda hoje António Vitorino na Linha da Frente na TSF - deu umas pinceladas nessa problemática e que devem ser meditadas com cabeça, tronco e membros por S. Bento.
Manifestação desse triste e pegajoso espectáculo neocorporativo foi-nos dado há dois dias pelos representantes dos autarcas da região do Oeste encabeçados por um tal porta-vox que falava mais parecia o Carlo Gambino (um chefe da mafia) a inquirir Lucky Luciano (fundador do sindicato do crime na América) - asseverando que queria conhecer os "artistas" (esta expressão é minha, mas o esprit com que foi dita emana do dito autarca) que estavam por trás do estudo da CIP, sugerindo que todo este processo é verdadeiramente mafioso. Ora, isto em democracia é completamente inadmissível, e Socas tem de pôr ordem na casa, e neste dossier está a ter manifestas dificuldades de estabilização de rota, deve ser por se tratar de aviões..
Solicite-se, pois, o estudo à UE, eles até ajudarão a pagar.. Basta que sejamos inteligentes, diligentes e metamos o orgulho no saco e avançemos para a melhor solução de estudo técnico e de viabilidade económica ao nível europeu. E este não será, certamente, feito pela CIP nem pelo amigos da Região do Oeste nem pelos jornalistas que servem de correia de transmissão do Belmiro de Azevedo ou de um qualquer banqueiro que patrocinará o próximo estudo, que os tugas irão logo pensar que será mais um vested interest por parte de quem o pagou enganando, de novo, essa velha crédula que é a democracia, sempre de pernas abertas no cabaret dos seus princípios e valores morais.
Eis os perigos da democracia, todos querem decidir mas sempre com base nos seus interesses particularistas, e hoje é a UE que está em melhor posição para determinar qual é o mais eficiente interesse nacional. Basta engolir o orgulho nacional besta que ainda hoje nos tolhe sobremaneira e atravanca os destinos colectivos.
Imagine-se que amanhã Joe Berard - além das artes e da banca também pretende investir no sector dos transportes aéreos (e no imobiliário) - e manda realizar o "seu" estudo técnico para determinar a melhor localização do novo aeroporto internacional de Lisboa para ir logo entregá-lo a Belém numa bandeja prateada bordada a diamantes..
Como cidadão atento, irei logo supôr que ele deseja construir o dito na Madeira, ou no terraço do CCB - onde tem a sua exposição e colecção de arte, ou numa quintarola qualquer que lhe possa rentabilizar o negócio. São normais estas suspeições em democracia, daí a necessidade da responsabilidade e da transparência deste processo de tomada de decisão. Accountability, que é mais fino, como diria Sampaio, que fala muito bem inglês, apesar de nunca ninguém o entender quanda falava em português.
O que pretendo dizer, em suma, é o óbvio: é que a democracia é um regime que visa governar para o interesse comum do maior número, e esta decisão, este estudo, este mega-projecto - nas actuais condições políticas de hiper-inquinamento que se vivem em Portugal, só poderá ser mais eficientemente realizado ao nível da UE.