China, Portugal e macroeconomia: o Cabaret, as brasileiras e os novos "pretos" da Europa...
A "bernarda" de Manel Pinho está a dominar a agenda mediática da mediacracia lusa: tsf, antena 1, tv´s e conexos não falam doutra coisa. Bem sei que também não há grandes assuntos para informar o agenda-setting dos media lusos, mas também podiam permitir-se ser menos banais e previsíveis. O que revela bem como de par com as declarações dos ministros, os directores de informação também não são melhores, no fundo Pinho acaba por funcionar como espelho reflector da mediocridade que somos: no plano cultural, económico e político. É triste dizer isto, mas temos de o reconhecer em abono da verdade.
Contudo, Pinho poderia bem ter dourado a pílula, ou seja, quando discursava deveria ter deixado o factor - salários baixos - para o fim, e antes deveria ter sublinhado outros factores de produção intangíveis que podem seduzir investimento directo estrangeiro em Portugal (IDE). Desde o design ao marketing, do sol à afabilidade das gentes - os floreados poderiam ser muitos e diversificados, esse é o papel dos assessores, agora começar logo pelo argumento terceiro-mundista dos salários baixos foi, de facto, um péssimo contributo para a sedução macroeconómica e para a imagem (da política) externa de Portugal.
Poderá ter agradado aos empresários de ambos os lados, mas desagradou certamente aos povos e sociedades luso-chineses, e amanhã nas reuniões da UE Pinho será o alvo da chacota por ser o único ministro europeu com um discurso africano. Chamar-lhe-ão "o preto" (senão mesmo o asiático) da Europa... Ele não faz por mal, mas a baboseira é algo que lhe é congénito, e di-lo com total normalidade, o que espanta ainda mais... E o facto de pensar depois de falar também contribui sériamente para engrossar esse caudal da asneira, ainda que haja um fundo de verdade na história dos salários baixos.
Mais o mais grave de tudo isto é, porventura, o que está escondido, i.é, once again vemos que as ameaças ao nosso crescimento, modernização e desenvolvimento se localizam no exterior, só que agora não temos as barreiras proteccionistas da velha ordem económica internacional, temos de conviver com gigantes que crescem 10% ao ano, como a Índia e a China, o escritório e a fábrica do mundo.
Nesse sentido, talvez o aspecto mais importante das mudanças resultantes da globalização seja a ascenção de alguns PVD como principais ameaças para as economias desenvolvidas (europeias). É aqui que reside a novidade da conjuntura, e não na estúpidez do ministro, que sempre foi igual a si próprio. Provavelmente, no bes cometia as mesmas asneiras, só que não se sabiam e o Ricardo ocultava-as do público... Também, quem se importaria com as bacuradas de Pinho!!! talvez os clientes daquele banco, mais ninguém..
Não devemos esquecer que a quota dos PVD no comércio mundial de mercadorias subiu 30% do total em 2004. Sendo que no passado os países pobres (como as nossas ex-colónias) exportavam produtos agrícolas e recursos naturais e importavam produtos manufacturados produzidos pelas metrópoles no Ocidente - que era quem detinha os Impérios coloniais. Hoje, ao invés, mais de 70% das exportações de mercadorias de todos os PVD são produtos manufacturados, e Portugal vê-se hoje no humilhante papel que outrora tinha Angola, Moçambique, Guiné, Cabo-Verde ou S.Tomé e Príncipe. É isto que é dramático, não obstante a nossa integração da UE, faz agora 21 anos...
Foi este passado colonialista, explorador entre metrópoles e colónias, no fundo entre os Impérios coloniais do Ocidente europeu, que as declarações de Manel Pinho vieram avivar fazendo-nos sentir mal connosco próprios e com a História recente. Só que hoje sentimo-nos mal duplamente: por ter sido os exploradores colonialistas de outros tempo mas, ao mesmo tempo, porque tememos profundamente ter de passar pelo mesmo, ainda por cima como uma ex-colónia (Macau) hoje integrada num colosso que é a China - que não representa os ideiais de liberdade e de matriz cultural e civilizacional que sempre quisemos e adoptámos.
É por tudo isto que negociar com os chineses é um tremendo drama: além de esquisitos, frios e terem uma língua e uma cultura completamente diferentes, são agora económicamente mais pujantes e, para agravar este "fardo do homem branco" (hoje corporizado por nós, europeus), temos de mendigar Investimento Directo Estrangeiro (IDE) à China - com a agravante dela nos fazer sentir os "pretos" da Europa.
Afinal, e bem vistas as coisas, parece que a história se repete, só que agora os"pretos" do mundo somos nós, e os neo-Impérios levantam vôo a Oriente...
Talvez seja por isso que a História é uma grande meretriz, vai sempre com aquele que tiver mais dinheiro. Numa palavra: dantes Portugal personificava o dono do Cabaret, hoje não passamos das "brasileiras" que nele trabalham a a recibo verde e a termo certo...
Daí a gravidade política contida naquele discurso da loja dos 300 mal debitado pelo sr. Pinho, o bronco deste governo que até já deveria ter sido demitido em território chinês...
Versão vídeo das declarações de MP Dr. Strangelove - Nuclear Doomsday Splendor (with Vera Lynn)
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