segunda-feira

O ano de 2006 - por Vasco Pulido Valente -

O ano de 2006 (assin. Link)
VASCO PULIDO VALENTE

Não se pode dizer que foi um "acontecimento" do ano, mas de qualquer maneira a importância económica e política da Índia e da China não deixou de crescer. Como a da Rússia, onde Putin, com a brutalidade do costume, continua a solidificar o império. Em 2006, não é preciso muito esforço para imaginar um mundo em que o Ocidente perdeu a sua proeminência e ficou reduzido a um parceiro menor. Nem a superioridade tecnológica, nem o poder militar americano conseguirão por muito tempo evitar o inevitável. Pouco a pouco, o Ocidente acabará por se tornar inseguro e pobre. Em 2006, a América reconheceu a derrota no Iraque, que foi desde o princípio uma aventura sem sentido. Hoje a única ambição é encontrar uma saída para um problema sem saída. A partilha é uma ideia académica, o Estado Federal já falhou e a retirada iria generalizar a guerra a toda a região. Nunca, como agora, no cúmulo da sua força, a América mostrou tão claramente a sua fraqueza. O que anuncia um futuro perigoso. Os taliban reapareceram. O Irão fabrica impunemente a bomba atómica. A Coreia do Norte experimentou a dela. Na América Latina, a Venezuela e a Bolívia ressuscitaram uma espécie de socialismo. A Rússia recomeça uma expansão, embora prudente, para a Europa. A China, com a moeda subvalorizada, sustenta o défice de Bush e ignora a propriedade intelectual. São só sinais. Infelizmente, são péssimos sinais.Também Israel perdeu uma guerra, a primeira, com o Hezbollah, e demonstrou a sua inquietante vulnerabilidade. O Líbano, que dia a dia se desfaz (se jamais chegou a existir) está entregue a terroristas de procedência vária, sob o alto patrocínio da ONU. E, na Palestina, a vitória eleitoral do Hamas transformou uma situação insolúvel num massacre gratuito, a que o Ocidente, sem autoridade ou crédito, assiste impassível.Em Portugal, 2006 não trouxe surpresas. Cavaco marchou para Belém. Sócrates, reduziu o défice, obrigando os portugueses a pagar mais, como lhes compete, e a ganhar menos, como sempre sucede. Dizem que se chama a isto "combater privilégios". De resto, Stanley Ho inaugurou um casino em Lisboa e Joe Berardo, esse filantropo, vendeu ao Estado uma colecção de pintura por 316 milhões de euros. Para maior glória dos valores do Ocidente, a despedida de 2006 foi uma reportagem de oito horas na CNN sobre a execução de Saddam Hussein.