O Luís Pacheco na RTP2: a grande entrevista
O Luiz Pacheco é, talvez, o maior filho da mãe e libertino, a pessoa mais corrosiva e anarca, até mais a intratável do meio literário português destes últimos 100 anos. Mas há um lado nele, quiça psicopatológico, que nos atravessa a todos e que a todos nos faz rever nele: uns de forma assumida; outros envergonhada e ocultamente. Pergunto-me porquê e só encontro um fundamento para esta adesão meio literária, meio escrabosa, espelhando alguns dos seus comportamentos.
É que passamos toda a infância a treinar a interacção correcta e alinhadinha com as outras pessoas, imitando-as, brincando com elas, jogando esse jogo social do políticamente correcto, oprimindo e recalcando milhares de pulsões, desejos e mais um comboio de perigos da alma e do corpo. Ou seja, tivémos de fazer teatro para nos fazermos aceitar pela sociedade, fomos escravos da cultura porque, na realidade, estamos com medo que nos descubram a careca. É também por isso que coramos e os intestinos se revoltam quando nos descobrem a tal careca.
Luís Pacheco já há muito que arrancou os cabelos todos, revela-se despido, puro e duro, ostenta toda a sua sinceridade. Por Braga, por Lisboa, por Setúbal, por qualquer parte onde ele esteja ou se projecte como homem ou como artista. Ao vermos essa força da Natureza reconhecemos no "outro" uma virtude e um defeito: a virtude da coragem e da assunção de se Ser como se É; e o defeito dos excessos que rompem com todos os equilíbrios sociais necessários à convivência entre os homens.
Julgo que é isto que nos faz parar para ver Luís Pacheco a debitar camiões de lucidez numa personalidade histriónica como a dele, carregada de um excesso de emotividade, desconforto, um estilo discursivo exuberante, dramatizado, teatralizado, revelando até aspectos mais íntimos da sua vida que o homem comum embora estando preparado para ouvir sente, por pudor (e por força da tal educação do jogo social), uma total impreparação para os aceitar. E depois como é cínico e hipócrita acaba mesmo por os repelir.
Mas no plano tecnico-literário ficará um legado: o legado de Luís Pacheco que ainda não tem arrumação classificatória definitiva, creio.
Ao mesmo tempo rolava na RTP1 um tal Prós & Contras em que um ministro Big Mac (António Costa) estava com vontade de partir a cara a um tal "sadam das Beiras" (como se auto-denominou o sr. Ruas), que, curiosamente, também passou o programa com vontade de partir a cara ao Big Mac. Então não valerá mais a pena ser como o Luís Pacheco - do que fingir que se é diferente dele??? e fazer estas figuras... Grandes entrevistas destas não faz Judite de Sousa, esta limita-se apenas a entrevistar personagens menores do nosso tecido politico-mediático, o último dos quais foi um tal Nobres guedes (por causa duns sobreiros no Ribatejo e de mais umas broncas que fronteiram na corrupção que nunca se consegue provar); e antes dele foi MMendes, chefe dum partido que alberga caciques com problemas com a lei mas que ainda mantém a ligação de deputados na AR. O Luís Pacheco comparado com estes outros sujeitos não passa de um menino do couro...
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