Federação política via blogosfera: pensar Portugal
Há dias explicitámos aqui em que consistiu e o que significou o famoso caso Trent Lott. Um caso que nos deixou muita lições sobre a política e o peso crescente da blogosfera na arena social, limitando, condicionando, enunciando, formulando e discutindo ideias para a polis global, no fundo, para ajuizar acerca das melhores políticas públicas de que depende o nosso bem comum. Hoje, sem surpresa alguma, verificamos que o Tomar Partido do ex-deputado do CDS - Jorge Ferreira, - que está empenhado nesse ciber-debate, publica uma pequena recensão acerca do que motivou alguns artigos, análises, pronunciamentos e, sobretudo, omissões - que, por vezes, valem tanto como os gritos de alerta. Por vezes há silêncios ensurdecedores, como diria Torga lá por aquelas serras, creio... Ora, como não se trata de blogs ou de autores sem importância ou relevância intelectual, bem antes pelo contrário, talvez isto mereça uma pequena reflexão.
- Em 1º lugar o sítio onde se costume discutir e fazer política ou é a televisão, a rádio, os jornais, as reuniões partidários, também o Parlamento - mesmo quando os deputados resolvem feriar de pascuela uma semana antes das férias terem lugar e o mais. Doravante, os agentes políticos tradicionais, aquilo a que podemos chamar os políticos de poltrona (por comparação aos jornalistas de poltrona - que procuram fazer frente e denegrir por todos os meios possíveis a blogosfera) terão de se habituar a contar com as valiosas ideias, projectos e discussões ocorridas na blogosfera. Nisto quase todos os blogs supra-referidos têm todo o mérito. É óbvio que também aqui as amizades pessoas, as ligações psico-afectivas tecem os fios de muitas "panelinhas", e em alguns casos os links mais parece uma república de citações que roça o ridículo. Esperemos, também aqui, revogar esses comportamentos tão primitivos quanto mesquinhos e valorizar, de facto, a boa blogosfera. E esta é toda aquela que sabe pensar e colocar as questões correctas que, num dado momento, podem valorizar o futuro de Portugal e dos portugueses.
- Em 2º lugar - a blogosfera é tão ou mais importante na avaliação intelectual, ideológica e política das grandes questões que podem ajudar o país, na medida em que Portugal debate-se com um terrível envelhecimento demográfico, ou seja, a sociedade portuguesa não tem sabido valorizar os dispositivos de segurança social e de família como factores fundamentais de garantia de protecção na velhice e, mormente, no estímulo à natalidade. Oxalá que aqui os problemas se reduzissem à questão do preço dos preservativos... Oxalá!!! As rotinas dos comentadores de "rádio-tv-pirata" enfastia, são sempre os mesmos, mais parece o Estado naquelas empreitadas em que adjudica (sem concurso público) as obras sempre aos mesmos "patos bravos" da construção civil. Os homens das comissões de que a futebolítica está repleta... É o que se pode chamar a madailização da vida política.
- Por outro lado, há talvez que ponderar o peso da evolução das ideias na política e na sociedade portuguesa. Na prática, isto significa que na relação eleitoral não são apenas os candidatos ao poder - PS e PSD - que têm de comunicar com a sociedade e com o eleitorado, como sugere o douto Marcelo nas suas mais que previsíveis missas domingueiras. Isso era o que ele queria, colocar o centro do debate única e exclusivamente entre PS e PSD. Marcelo está a desvalorizar em demasia uma 3ª força que está em franca emergência: a blogosfera. Aqui é a ignorância que fala mais alto, como diria Sócrates (o filósofo de Atenas... se o homem é culpado é porque é ignorante, e não forçosamente porque queira ser sempre mau!!!). Assim, pergunto-me porque razão Marcelo - que é uma pessoa tão sagaz quanto inteligente e talentosa - não perceba isso. E a única explicação que encontro prende-se com o facto de Marcelo ser autor duma desconcertante impreparação tecnológica e digital. Blogosfera para Marcelo deve significar algo do outro mundo, um ET na política, quiça um inferno virtual no paraíso real. Que ilusão ou mesmo um mergulho no Tejo!! Creio que hoje - se evolução há ao nível das ideias políticas - como resposta à alteração das condições estratégicas que condiciona o modo como vivemos e os partidos políticos se relacionam, ela deve-se à actividade de milhões de fluxos que diáriamente cruzam as linhas do ciber-espaço - que até já serve de fonte e de inspiração aos tais jornalistas de poltrona..., que aí sacam informação que depois é servida e confeccionada nos jornais de papel como se fosse concebida ou inventada pela 1ª vez. Plágio tão puro quanto abominável. Ou seja, a evolução da sociedade dá-se hoje, em boa medida, pela formação das ideias, das opiniões, das expectativas e dos interesses das pessoas que recorrem a esse meio virtual para equacionarem as coisas do poder e do bem comum.
- Em 4º lugar emerge talvez a questão mais nevrálgica quando se pretende pensar a esquerda e a direita no espectro político nacional, tendo até por referência o documento apresentado por Manuel Monteiro que, como diz marcelo, "anda a fazer pela vida". Então, e não é o que todos andamos a fazer?? Provavelmente, aqui o talento telegénico é uma excepção, como não bloga - pensa que - não existe. Por vezes marcelo é um exagerado que roça o ridículo.
- Mas os condicionalismos nessa avaliação mais ou menos desactualizada - esquerda vs direita - podem, quanto a nós, focalizar-se nos efeitos gerados pela passagem das fases de evolução de uma sociedade que, no caso português, passou de uma certa fase de crescimento (exponencial que coincidiu com a época aurea do cavaquismo e da afluência de fundos comunitários) com uma fase de crescimento baixo, lento ou mesmo nulo. Ora, independentemente da qualidade das políticas públicas, dos agentes que as protagonizam e do grau de informação oferecida ao eleitorado, a entrada de Portugal nesse pântano de não-crescimento marca a mais grave regressão que o país enfrenta desde o 25 de Abril.
- E é aqui que a "porca torce o rabo", pois é sabido que quando uma sociedade entra em processo de maturação, de envelhecimento torna-se improdutiva, rígida e pouco competitiva face ao exterior - que cresce mais rápido e com maior intensidade. Algum eleitorado percebe isto. Assim sendo, durante muitos anos a chamada Direita esteve associada a certos valores-guia - como o risco, a competição, a dominação e a capitalização. Foram estes fluxos que fizeram carreira pela Direita ideológica e que a fizeram prosperar enquanto o país também cresceu e se modernizou e desenvolveu. Foi a fase da expansão e da vitalidade. Mas hoje, ao invés, vivemos a fase da maturidade e da estagnação.
- E porquê? Por causa da perda de eficácia dos dispositivos de crescimento rápido da economia, da alteração do padrão demográfico e, bem entendido, do efeito de passagem da capitalização para o endividamento por perda de sustentabilidade dos chamados sistemas de segurança social.
- Será que isto pode ser assacado à esquerda? A Guterres? À Europa? A Barroso - autor da maior turbulência e irresponsabilidade política no post-25 de Abril? Será que ser de esquerda hoje estar do lado da segurança, da protecção, dos equilíbrios sociais e da manutenção das fontes de distribuição? Se assim fôr quer Guterres quer Sócrates são de direita. Uma vez que o actual governo socialista - a ajuizar por algumas políticas públicas, parece pender a sua teoria e praxis política para o lado da capitalização, da competição desenfreada, da dominação e do risco - a avaliar pela sua conduta na esfera da economia e com os agentes socioeconómicos em geral.
- O que pretendo dizer é que as velhas fronteiras e compartimentações ideológicas que hoje "podem" ser pensadas entre esses dois rótulos têm uma dificuldade acrescida em fazer-se. Não só porque o actual PM saíu-nos "melhor do que a encomenda" - lembram-se quando Marcelo dizia na TVi ou rtp - já nem sei..., pois ele faz pela vida nas duas.. - que o Sócrates nem falar sabia, razão porque precisava do teleponto?!! Pois é, Marcelo - antes de diminuir Manuel Monteiro - em apreciações de aprendiz de Maquiavél de sofá, terá de meditar bem naquilo que disse nos últimos meses, não vão as suas próprias palavras virarem-se contra o seu autor. Temos de ser todos humildes, porque aprendemos sempre uns com os outros. Lamentavelmente, há quem confunda esse common sense.
- Nem que seja pela via da surpresa, como nos tem demonstrado Socrates (nem sempre pela positiva..), ainda que o que me preocupa em Portugal quando tento pensar alguma coisinha da Política lusa é aquilo a que se pode chamar o paradoxo democrático, que reside no facto de os procedimentos democráticos serem sempre compatíveis com os procedimentos do mais forte, senão mesmo como uma condução política autoritária - que até teria algum interesse se Portugal estivesse numa fase de expansão e de crescimento económico. Mas, infelizmente, ainda não podemos situar essa velha discussão - direita vs esquerda - nesse patamar.
- Mas ao ouvir tanta gente, até Marcelo, por vezes fico confuso, pois nunca sei se primeiro temos de crescer, de modernizar a nossa sociedade e de nos deservolvermos e depois debater; ou debater primeiro ideias para sabermos como nos desenvolver. É o problema do ovo do rabo da galinha.. Quem nasceu primeiro??? Esperemos não ter de aguardar pela actas da Festa do Avanta na Atalaia - rubricada pelo génio da telegenia lusa - para daí firmar uma conclusão autorizada.
- É que a blogosfera não espera. E quando esses analistas avençados dizem umas tretas já a melhor blogosfera lusa escreveu toneladas de análises sobre a matéria, ainda por cima a custo zero.
- Este post é dedicado a duas categorias de actores: ao que de forma sincera, empenhada e transparente dão o seu melhor e procuram pensar algo de últil para Portugal via blogosfera; e de forma assumidamente cínica (filosóficamente cínica) dedicadas aos jornalistas e aos políticos de poltrona e comentadores avençados que fingem que pensam Portugal e ainda procuram a "@" na vitrina da sala de jantar. Os primeiros são construtores de pontes; os segundos dão mergulhos no Sado a pensar em Belém, iludem e pensam com muita telegenia mas com baixa densidade reflexiva. Aqueles procuram as essências, estes buscam as aparências... As aparência da Atalaia... Por vezes convenço-me de que é a Blogosfera que ainda vai tomar conta deste Portugal à beira-mar sepultado.
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