domingo

Idolatria na blogosfera lusa

  • A idolatria é um mal que nos persegue. Considero-a mesmo uma fraqueza humana à qual só resistimos com carácter, personalidade, educação, princípios e valores. Mas quer na sociedade de carne e osso quer no ciber-espaço essa idolatria graça como incêndios em palheiros em tempo de Verão. A mim, confesso, enoja-me e até nem reajo bem a ela - dentro e fora da Net. Esse culto da imagem, da fama, do poder que faz com que um bando de gente sem carácter se queira sistemáticamente associar aos famosos, é algo que devemos todos evitar. Não por falso moralismo, mas por qualidade de espírito.
  • Não vou nem quero aqui discutir gostos nem preferências, pois cada qual come do que gosta, mas o que procuro salientar é o facto de há dias o sr. Miguel Esteves Cardoso - que para mim é um simples jornalista e escritor que granjeou sucesso graças às broncas do Independente - (se então escrevesse noutro pasquim seria hoje mais um "silva" entre milhares de outros que pululam na cidade), - ter lançado o seu blog. Viu-o por mero acaso, sei que fez duas ou três postas e depois creio ter fechada a tasca. Mas nem o homem teve tempo de demonstrar o que valia como blogger e logo um conjunto de ladies carentes - e outros dependentes de referência maiores - se apressaram a linkar o ex-jornalista que, em tempos entrevistou o filósofo Agostinho da Silva - revelando bem o seu carácter medíocre que nem o B-A-Bá de filosofia sabe. O esteves Cardoso sempre se deu ares de um sonhador, de um intelectual meio anarca, d'alguém que parecia articular muito bem o social, o político e o cultural e quando teve a oportunidade na sua vida de poder revelar alguma estatura moral e intelectual revelou aquilo que sempre foi: um maniento das ideias com a obsessão de que produz pensamento original. Resultado: o parto foi um nado-morto.
  • Mas o que aqui lamento nem é esse seu medíocre testemunho intelectual ao lado de Agostinho da Silva, o que me preocupa são esses "grunhos" da blogosfera - que os há em abundância, infelizmente - que se dedicam a idolatrar esses pequenos vultos, sombras da cultura lusa como se se tratassem de pessoas com pensamento, com teoria, com saber e sabedoria firmados.
  • Ou seja, quando essas "tiazinhas" de Caxias e Algés e d´Afundo - entre muitas outras terapeutas da fala e das partes mais moles - pulam a cerca da Net para aí fazer negociatas através do expediente da bajulação, da idolatria mais sabuja, da adoração gratuita a certos cromos do nosso jet-zero - como se se tratassem de santos no altar - classificando pessoas banais como se fossem deuses - confesso que me preocupo. Foi, aliás, essa mesma avareza, essa gula, essa luxúria que no outro dia vi num blog piroso duma dessas quarentonas que para atrair as moscas ao seu palheiro resolveu lá colocar a sua foto com um ar pseudo-pensante sob um fundo urbano de pôr-se-sol. A pirosa - assim que soube que o tal Esteves cardoso tinha um blog apressou-se logo a tecer loas e a linká-lo numa avareza e numa perdição verdadeiramente desprezíveis. A rapariga mais parecia hipotecar o útero, penhorar o ventre ao fazer aquele link. Não já por se tratar de A, B ou C - mas pelo modo - guloso (de gula) como o fez tratando-se duma "figura pública" de mui fraca memória, diga-se de passagem.
  • É óbvio que a sujeita em apreço esperava algo, uma recompensa (moral, social, psicológica) diante tanta gula ao fazer aquele link mais rápiodo do que a própria sombra. Eis o que sucede com quem usa e abusa da sua ganância esperando daí obter fama, vedetismo, poder, influência, status e o mais. Mas, há sempre um mas, para azar da blogger em questão, o visado fechou o blog e a multidão de idolatras que o linkou - supondo estar a fazer serviço público ou um serviço relevante à humanidade, ficou a chuchar no dedo, e hoje, alguma dessa gente ainda lá mantém o nome do defunto como se fosse um objecto de culto onde vão rezar 5 vezes ao dia. Certa blogosfera - confesso - é mesmo um nojinho suburbano, perdoe-se-me a expressão.
  • Ora isto não é só lamentável por que se trata de um jornalista que foi algo rebelde ao tempo em que Portugal inteiro era uma aldeia, mas porque reflecte um carácter, uma maneira de ser sabuja típicamente portuguesa, um querer agradar aqueles que supostamente têm poder, influência ou mera visibilidade pública - ou não têm nada disso, - a avaliar pela tal entrevista que esse cardoso fez ao grande Agostinho da Silva - em que o velho mestre o meteu no bolso em dois tempos, se bem que o parolo do cardoso nem disso se tivesse apercebido no transcurso dessa entrevista. Enfim, é o que sucede quando um amador de filologias e de letrinhas de sopa se mete à conversa com um verdadeiro pensador, com um pedagogo, com um filósofo.
  • Idolos destes, meus amigos, são como as pessoas carentes e fracas que os idolatram: les uns et les autres sont la même chose. Ver uns sujeitos que dão tudo ao manifesto só para se verem badalados por uns cagagésimos de segundo de faminha, para serem focados por certa imprensa colorida que opera hoje à base do jet-open-legs é degrante e aviltante. Este epifenómeno, agora independentemente de se tratar da treta do blog do esteves cadoso ou não, reflecte o que de pior há na mentalidade lusa: a sujeição ao nada, ao gratuito, provincianismo, o querer agradar para subir qualquer coisinha na hierarquia da fama junto de certas "personalidades" que se tornaram aclamadas por um saco de lentilhas, meia dúzia de artigos, uns romances de palmo e meio e por um conjunto de acasos que não valem mais do 5 ss. de meditação.
  • Este caso mostrou-me bem o que certas pessoas ainda se prestam a fazer só para dar o corpinho ao manifesto, mesmo que depois ninguém as queira... manifestar. E isto também deve ser dramático para quem bajula e idolatra, ou não é?!!
  • Se fizermos um estudo na blogosfera nacional - rigoroso, isento, sério e quantificado - para aferir este tipo de relações humanas de favor, de pura corrupção das almas, de linkar para simplesmente agradar e/ou subir na tal escala da faminha mediática e parolamente instituída iria, certamente, revelar estatísticamente aquilo que sinaliza aqui a nossa profunda convicção, tomando por referência este comezinho exemplo, mas que é sintomático de uma doença maior: a bajulação e a idolatria, a gula e a avareza na própria blogosfera portuguesa. É lamentável afirmar aquilo que constato quase diáriamente, perante dezenas, centenas e milhares de incoerências editoriais entre inúmeros bloggers.

Isto até faz lembrar a estorieta da convicção daquele aluna que se julgava muito "boa" e apostava com as colegas que o professor estava no papo, i.é, que passaria o ano lectivo sem perceber "puto" da matéria, bastaria implementar a estratégia do CSMS: Charme, Sedução e as Mini-Saías. E depois terminam chumbadas, e algumas nem em Setembro fazem a cadeira e depois acabam deprimidas e neuróticas. Meus amigos, imensas são as formas de corrupção das almas a que hoje qualquer homem ou mulher de bem está sujeito. A bajulação e a idolatria é apenas mais uma modalidade corruptiva que hoje se pôs em campo para poluir a blogosfera séria. Por isso, caldos de galinha... Post dedicado à memória de Agostinho da Silva: amigo e mestre.