domingo

O fantasma da direita - por Vasco P. Valete -

O fantasma da direita Vasco Pulido Valente Manual Monteiro, Ferraz da Costa, a "Universidade de Verão" do PSD em Castelo de Vide e, ontem, o fim de O Independente ressuscitaram a velha e vexatória questão da direita. Pacheco Pereira acha que "a divisão esquerda-direita" é uma "sobrevivência" do "mundo da revolução francesa e da revolução industrial" que não faz sentido no mundo "globalizado" da "Internet". Mais prático, Marcelo Rebelo de Sousa acha todo o debate "esotérico", prejudicial ao PSD e, no fundo, no fundo, uma grande intriga de Paulo Portas para voltar ao CDS. De qualquer maneira, e apesar de opiniões tão doutas, vale a pena parar e perguntar. Porquê, agora, esta polémica? Há ou não há uma direita em Portugal? E, se não há, poderá haver? E, se vier a haver, que espécie de direita?
Talvez não seja mau lembrar, a propósito, o passado recente. Durante a campanha que o levou a primeiro-ministro, Barroso apresentou um programa muito pouco ortodoxo, mesmo para a putativa social-democracia do PSD. Como de costume, esse programa foi esquecido, mas de caminho animou um movimento difuso, que veio a ser a "base" de Santana Lopes. Quando Barroso se escapuliu para Bruxelas, já se falava a sério da "refundação da direita". O desastre arrefeceu este entusiasmo. O populismo de Santana não era, coitado, popular e os "refundadores" recolheram melancolicamente a casa. Hoje esse caldo turvo recomeçou a borbulhar. Sairá alguma coisa apetecível da panela? Dificilmente.
Não existe uma classe dirigente tradicional como em Inglaterra e, parcialmente, em França. A República jacobina e a ditadura do dr. Salazar deram cabo dela. Num país pobre, dependente e corporativo, o liberalismo (económico) é uma utopia. A classe média do sector público, que ocupa uma posição estratégica decisiva, não permitirá nunca uma verdadeira reforma do Estado. Os "negócios" (com uma ou outra meritória excepção) vivem directa ou indirectamente do favor oficial. Nenhuma política centralizadora (em nome da ordem, da eficiência ou da racionalidade) passará a resistência das clientelas partidárias da província. E, quanto aos "costumes", nem o Papa espera muito do futuro. Em Portugal não há, nem pode haver uma direita. Em Portugal pode haver e há um "centrão", com alguns, leves, cambiantes, que absorve ou paralisa o resto. No seu melhor, a direita de que por aí se fala é uma sensibilidade e um sentimento. E alguma irritação com a maioria do PS. Nada ou quase nada.