Evocação de Edgar Morin e a vantagem seminal da crisologia
- Regra geral estas evocações fazem-se quando os visados já faleceram, grande erro. Devemos reconhecer recorrentemente o trabalho intelectual (ou outro) das pessoas sempre que elas o mereçam ou culturalmente se justifique. Ora a vida e obra de Edgar Morin é um desses casos paradigmáticos. Tive até a oportunidade de lhe apertar a mão numa ocasião em que conferenciava na Fundação C. Gulbenkian.
- Até apetece dizer, como Edson Athaíde, que desde então nunca mais lavei as mãos... Temos aprendido muito com ele, por isso é nosso dever deixar aqui uma nota desse reconhecimento e gratidão intelectuais. Assim, aproveitamos e corrigimos as balelas e verborreia associadas ditas por zzé Barrroso em Castelo de Vide. De facto, essa noção de crise - de que erradamente falara o homem que abandonou Portugal depois de o incendiar políticamente - contaminou todo o séc. XX, tocou todos os horizontes da consciência contemporânea.
- Pelo que não há domínio ou problema do saber que não fosse assombrado por essa ideia de crise: a sociedade, a família, o capitalismo, a qualidade das políticas públicas e da forma como se faz o recutramento das suas elites - de que Barroso é um lamentável epifenómeno -, enfim, a justiça, a educação, a saúde, o ambiente e até a ciência e a própria civilização estão em crise. A humanidade está em crise. As guerras hediondas - que o "sr. Europa" nem sequer é capaz de comentar (já nem digo impedir..) são uma prova disso mesmo. Só que o que sr. Barroso não disse, porque também não sabe, é que esse conceito de Krisis comporta a decisão, o tal momento decisivo na evolução de um processo incerto. Ora é isto que hoje se passa em toda a Europa, mormente naquelas pequenas economias que são mais penalizadas pelo subdesenvolvimento crónico relativo como pela periferização geo-histórica que define Portugal no prato da balança europeia. Nem isto o sr. barroso conseguiu explicar às crianças imberbes que estavam em Castelo de Vide (ter-lhes-ão pago algo para lá irem bater palmas?!), a única coisa que ele sabe fazer é aquela pose de Estado, aquele ar abespinhado, aquele olhar para o horizonte que aprendeu vendo fotos de filósofos em enciclopédias maradas - e assim, o sr. Europa pretender impingir o seu perfil de estadista (da tanga), uma ideia, um pensamento, uma doutrina que manifestamente não tem sobre tudo e sobre nada.
- Vejo barroso e penso logo em Jorge Coelho do ps. Infelizmente, é assim e lamento dizê-lo. O que se pretendia da Europa era que homens de excepção a governassem, e não meros ex-maoistas reciclados ao liberalismo dos princípios do Consenso de Washington que fizeram esta Globalização predatória. Ora, a valia epistemológica do conceito - crise - está em saber equacioná-la para melhor a diagnosticar, como uma doença a quem o médico administra uma terapia, uma profilaxia. E a política está hoje cheia de doentes que não sabem que o são. São os doentes alienados que projectam noutros os males próprios. Ora, foi esse transfer psicótico, sem sequer se aperceber, que barroso fez naquelas declarações lamentáveis em Castelo de Vide - acerca dum conceito que nem sequer teve a capacidade intelectual de enunciar. Aqui tenta imitar Marcelo, mas sem sucesso. Porém, hoje a crise significa uma só coisa: indecisão, incapacidade, falta de liderança e de visão. E isso gera, naturalmente, um efeito de perturbação e de incerteza simultanea que afecta o rumos das economias, das sociedades, das empresas e das pessoas.
- Quando a crise estava só limitada ao sector da economia podíamos reconhecê-la pelos números da produção, do consumo, do desemprego, das falências e deslocalizações empresariais. Hoje, infelizmente, ela comporta muitas outras variáveis, assume outras texturas e afecta a cultura, as elites políticas, a forma do seu recrutamento, transborda corrupção e nepotismo politico-partidário por todos os poros. Hoje, a política lusa transformou-se numa mega-mala preta cheia de notas escuras lá dentro que não se sabe bem para quem são, donde vieram e para que servem. Embora se desconfie... Ou seja, a crise está implícita em qualquer processo evolutivo: crescemos, amadurecemos e depois caímos. O que o sr. barroso não compreende é que há muito que não crescemos, e ele como agente político duma certa Europa, também nada tem feito pra coadjuvar nesse crescimento. E como foi o principal responsável político pela crise sem retorno, pela quebra dos índices de confiança dos portugueses na economia e na política - deveria ser a última pessoa no mundo a vociferar a palavra crise ou crisologia que nem soubera explicar.
- Barroso faz lembrar aquelas crianças que depois de fazer a borrada no meio do salão ainda pede ao papá uma grande talhada do melhor bolo de chocolate que enfeita a mesa de cristal da sala. Barroso - depois de ter tido a lata que teve em vociferar daquela maneira em Castelo de Vide - devia expôr a língua à vitrine do mundo - e submetê-la a carradas de pimenta e a uma dúzia de malaguetas e ficar impedido de beber água durante 12 meses. Barroso deveria ser compulsivamente afastado da Europa como prémio de compensação político pelo mal que ele fez a Portugal na fraca memória que a todos nos deixa.
- Barroso é o próprio fautor da crise, é o monstrinho político reflexo dessa crisologia que não soube explicitar e foi largamente teorizada pelo majistral Edgar Morin. Estou convencido que a História julgá-lo-á como um elemento fragmentador da coesão nacional. Basta aguardar que essa sedimentação se faça. Basta aguardar pelo common sense dos historiadores. Esperemos, agora, que não seja barroso a presidir a essa Comissão da história encarregada de sistematizar a memória colectiva de forma justa, séria e isenta.
- Este livro é uma oferenda para o "sr. Europa" na vã expectativa de que aprenda algo mais sobre sociologia do que aqueles enunciados-macacos que expôs em Castelo de Vide.
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