segunda-feira

A genialidade de Peter Drucker: porquê?

  • «Não há países subdesenvolvidos. Há países subgeridos.» «A maneira mais eficaz de gerir a mudança é criá-la.» «Saiba gerir-se a si próprio. O departamento de recursos humanos não é responsável por cuidar de si.» Quando o ano passado o Jorge Nascimento Rodrigues teve a amabilidade de me convidar a fazer um testemunho sobre a vida e obra de Peter Drucker levei logo as mãos à cabeça. Porque tinha um trabalho sobre ONGs - o tal Terceiro Sector, como Drucker lhe chamava, resolvi atender ao convite e lá tropecei nalgumas memórias.
  • Mas o que nos leva a pensar que Peter Drucker foi um escritor de sucesso mundial, conseguindo padrões de excelência e de grande eficácia no plano do debate de ideias e publicando inúmeros artigos, ainda é coisa que não foi bem revelada. Recordo que já com 90 anos Drucker ainda colaborava no Wall Street Journal e com a Harvard Business Review.
  • A forma como Peter Drucker impressionava e dominava os seus leitores era, de facto, uma caixinha de surpresas. Tudo nele era agradavelmente surpreendente, como depois fui lendo e conhecendo melhor a sua Obra - em grande parte pelo mérito do Jorge que há mais de 20 anos - dentro e fora do Expresso - começou a divulgar esses clássicos do pensamento da gestão e da economia. Na altura, recorde-se, era um deserto, não havia notícias de novidades, quem quisesse novidades que fosse a França ou aos EUA. O Jorge rompeu essa fronteira ao começar a divulgar esses génios do pensamento social, económico e da gestão. Drucker sinalizou esse paradigma.
  • Mas isto não responde ao motivo essencial desta reflexão: porque razão Drucker foi genial e teve um sucesso proporcional a essa genialidade? Uma vez mais Drucker também não deixou a resposta por voz alheia. Já que, segundo ele, propunha-se agir sempre com grande agilidade mental, e uma ou duas vezes por ano, buscava dominar a fundo um novo assunto. Lia livros, revistas - provavelmente lia-os mesmo até ao fim, não fazia como Marcelo - que se fica pelas lombadas, pelo cheiro do papel e, quanto chove e não dá para nadar no mar do Guincho, consome os prefácios. Ao invés, Drucker lia mesmo o que dizia que lia. E tinha também uma memória prodigiosa que parecia inesgotável. Além de se lembrar dos amigos e suas famílias, recuperava também anedotas que encerravam lições de gestão que ainda são válidas e colhem aplicabilidade nos factos.
  • Sentado numa cadeira, na extremidade de uma mesa, dava as suas lições sem quaisquer notas ou auxiliares de memória - físicos ou em suporte audiovisual - e tudo fazia com tamanha fluência que nunca quebrava o ritmo. Embora usando relógio, parecia nunca consultá-lo, mas terminava sempre as aulas na hora exacta. Parecia o Kant...
  • A lição que se pode extrair daqui é que é muito importante ler coisas (outras) que não têm - aparentemente - nenhuma relação com o que nos ocupamos no momento. Creio que foi (também) essa busca - que outros vão tentar buscar ao Brasil - que coadjuvou no sucesso mundial desse génio do pensamento social e económico que foi Peter Drucker.