terça-feira

O Jumento faz-me uma distinção... mas é ele que a merece

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Passamos a vida a ver-nos pelo espelho retrovisor da "estória". Sempre gostei dos burros. Desde pequeno que eles exercem um fascínio quadrúpede sobre mim. Sempre tive pena de nunca ter tido nenhum. Resta-me, contudo, um resíduo da memória: falar sobre cavalos... Em tempos tivémos Cavalos lá em casa, que são burros de primeira. A dada altura da história da minha família - fomos procurados pelo bom do Paco Bandeira, esse cantor da ternura dos 40, soit disant comunista e amigo do povo. Nunca acreditei no tipo, nem com 7 anos...
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Foi por esses tempos da revolução, em que tudo era incerto, tal como hoje em contexto de globalização - que mudou a natureza das coisas, o bom do Paco - tinha dois cavalos numa herdade em Elvas e não estava seguro que os seus correligiários "comunas" - lhe poupassem os cavalos e o resto dos bens. Vai daí - e como bom comuna que era (só de espírito, é claro) - pois de praxis era um grande capitalista - pede ao senhor meu pai que albergasse os cavalos lá em casa, na zona de Abrantes - onde então vivíamos. Era um tempo em que estávamos todos vivos. Tínhamos todos menos dinheiro, mas éramos todos mais felizes. Tínhamos o sol todo à nossa frente. Desconhecíamos (ainda) que a vida era finita e um turpor, por vezes em cavalgada lenta, e pior que os coices de um cavalo zangado. E não nos referimos aqui ao bom do paco bandeira que então tocava e cantava. Hoje acho que faz o mesmo, mas em regime alternado. Image Hosted by ImageShack.us O meu pai fez-lhe o favor, e meteu-os numa cavalariça que hoje é um restaurant. E assim lhe salvou os cavalos da revolução e dos desvarios comunistas. Tanto eu como o meu irmão - que tínhamos uns 7 e 10 anos, curtíamos à brava umas montadas no Regalo (que tinha escola e sabia fazer Piafê) e o Dourado que era mais esquivo e dava menos confiança à criançada que por ali pululava, por isso o Dourado era mais perigoso quando explodia. Passá-los à guia era, então, um ritual desejado. Hoje sou forçado a ver o Soares, o Cavaco, o Anacleto Louçã, o poeta Alegre e mais uns personagens da loja dos 300 da política à portuguesa. Já sem cudelaria, e mais velho - constato: como o tempo mudou..., para pior é claro. Hoje já não tenho cavalos, e as bestas abundam. Como estão muito mais velhas, já não são só bestas, mas umas bestas canastronas...
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É claro que o fim da estória é mais do que óbvia: o Paco artista - que era um amigo da onça, e hoje parece estar pior, deixou de ter dinheiro para pagar as favas, o açucar, as palhas, as ferragens, ié, os pneus para os cavalos e demais manutenção - e, a dada altura, o meu pai teve de lhe ficar com os cavalos definitavemente. E o bom do Paco, que precisava de pensões de 4 estrelas por onde passava - antes das actuações - respirou de alívio. Conhecemos a mulher, a Fernanda - que era uma senhora, mas ele nunca me enganou. Nem em puto: com 7 anos topei o tipo e sempre percebi como era o seu carácter. Mas este não é o momento para para estragar o blog com um "comuna capitalista socialista" que só tinha uma voz laroca e um carácter que nem um cavalo valia. Mas foi isso que o Jumento me fez lembrar com essa simpática distinção. Por isso aqui deixo o singelo agradecimento ao seu autor - que um dia me tentou explicar as virtudes do anonimato. É óbvio que a explicação não colheu... Nem colhe, salvo se essa "cobertura" serve para poupar os jornais de referência à competição em igualdade de circunstâncias - que assim ficam mais folgados por estarem a competir com homens sem rosto, autores-fantasma, entidades diluídas, sombras de realidade. Coisas completamente incompatíveis com os chamados sistemas abertos, com as democracias pluralistas, com a rede das redes, e com um mar de transparência que também a Net era suposto observar. Até o Fernando Pessoa, se hoje fosse vivo, teria identidade firmada, apesar de poder manter muitos heterónimos, uma assembleia deles... Mas atenção: é um blog com muito links, é um blog que se identifica com a filosofia da rede que hoje responde pelo nome de Kapital linkismo. Mas ter muitos links, ao invés do que aqui há uns tempos um blogueiro ignorante e mui convencido me disse, não é sinónimo de qualidade. Quer na forma e no conteúdo, oferecendo um quadro vasto de perspectivismo que ajuda a explicar as causas e os efeitos do que de mais candente vai ocorrendo na nossa polis e marca a agenda nacional. É tudo isso que o Jumento consegue captar com sucesso e muita dedicação. Mesmo que me acometesse a tamanha tarefa, e absorvido que estaria a minha pessoa na gestão das coisas da alta administração que cada vez é menos pública - não conseguiria cobrir tamanho espectro de assuntos, de links e de mais jornalada e bonecada. Aliás, se fosse inspector da Administração Pública (AP) - e tivesse a cargo a reforma da mesma - com vista à sua modernização - não teria qualquer dúvida em considerar que 2/3 (ou mais) dos seus quadros (intermédios e superiores) da AP passam a vida sentados num lugar - mas todas as suas energias, talentos e valências estão empenhados e cometidos em tarefas extras que se acomodam noutros fins e, como diria a avó de um amigo que faleceu há pouco com quase 100 anos: essa gente vive observando outras obediências... Não será, certamente, o caso do Jumento - que deve ser mui dedicado e exclusivamente cometido à causa pública. Os blogs, em certos casos, nascem espontaneamente, como cogumelos que depois comemos em omeletes douradas. Ora este relato está conforme com aquilo que um outro responsável, por acaso também blogueiro e, curiosamente - funcionário público - na esfera de transição da economia para as finanças - me dizia há dias: "90% da malta que da AP que bloga transpira 5% para o Estado que lhes paga os ordenados; 75% para eles próprios; e os outros 20% decorre do tempo que queimam em preparar os links, escolher as fotos, polir os títulos e acomodar as prosas e esperar, esperar, esperar - muito que a Net Cabo nos Tele-coma as vísceras, reflectindo aquela imagem do abutre diante da criança faminta que já faz parte das imagens e das narrativas dos países da África ao sul do saara". Image Hosted by ImageShack.us Certos blogs - em lugar de reflexões em profundidade apostam em lógicas explicativas mais ligeiras embora de grande amplitude. Em rigor - julgo que o Jumento consegue esse desiderato - e, talvez por isso - se devesse designar Macroscopio e não jumento. Pois sempre vi os burros com imenso respeito, já que são dos únicos animais que conseguem derrotar os outros - incluindo o homem que o sobrecarrega - pela persistência, pela paciência e pela resiliência. Julgo até que é mais amigo do homem do que o cão. E no Algarve já há quem faça colecção deles e lhes conceda o estatuto de animais de elite. E eu aplaudo... Um dia ainda traremos aqui à colação a identidade desse projecto social de recuperação de burros abandonados que no Algarve está a fazer carreira internacional, aproveitando a ideia para passeios rústicos, percorrendo trajectos amigos da Natureza e gerar divisas para a economia nacional..
Por tudo isto, e muito mais, deixamos aqui umas notas breves de reconhecimento ao Jumento, um excelso blog da nossa praça que tem uma regular e intensa actividade jornalística, por vezes com laivos investigatórios que até poderiam surpreender os james bond 007 de sua majestade socrática - ali da Alexandre Herculano - que se preparam nas esferas da contra-espionagem lendo o Público de manhá e o Dn à tarde.. Por isso, são tão "competentes".. Pela cobertura que consegue manter mais poderia ser um jornal on linecom créditos firmados na praça: da economia à política, das finanças às alfândegas, perdão, aos impostos e outros tributos de que não se conhece remédio para as fugas (recordamos aqui que o sr. Director-Geral dos mesmos - Paulo Macedo - nem sequer pagou sisa duma casa que comprou lá prás bandas de Salvaterra de Magos... para dar o exemplo, bem prega frei Tomás...), do desporto às manigâncias tecnológicas das operadoras que nos esfolam vivos, tudo isso o jumento cobre. E cobre bem. Cobre com raça e determinação, mas sempre oculto na sua albarda... Tomas Hobbes explica isso muito melhor do que eu... Por vezes encontra-se lá matéria que não encontramos na Visão, na Sábado, no Expresso e noutros periódicos de referência. Julgo até que muita gente que trabalha nessas redações dá valentes espreitadelas aos blogs de referência para depois interiorizarem a inspiração para as suas croniquetas suportadas em folha de papel. São os novos pelagiadores... Mas atenção: não se deve confundir aqui um bom blog à ideia de que tem muitos links; pois o que mais há pra aí é blogs estúpidos, arrogantes e estupidificantes - que alienam as pessoas - com centenas de links e que não valem uma alcagoita de um daqueles jumentos que atracaram nas terras do Algarve onde aqueles empresários tiveram a feliz ideia de conceder uma pátria para os burros. Os burros da nossa terra. Por isso, se eu fosse burro e me oferecessem algo, mesmo que fosse uma pequena distinção diria: Envio a Vossas Senhorias um presente que, se não corresponde à magnitude das minhas obrigações, é o que tenho de mais precioso. Pois trata-se de um registo de tudo o que sei, tudo o que me ensinaram uma longa experiência e o estudo contínuo das coisas do mundo. E isto, creio, já não é pouco e remete - para não sermos larápios de palavras e de frases alheias, para o grande legado que o bom do Maquiavel - que também gostava de burros - apesar de não os conseguir ensinar e converter - deixou ao pensamento ocidental e hoje todos, mesmo que inconscientemente, utilizamos nas nossas orações convertidas em blogs. Ora é para isto que estas simbólicas distinções servem: viajarmos pelo tempo, pelo mundo e concluirmos que somos pequenos demais para pensar certamente o que quer seja acerca de qualquer assunto. E, por vezes e com segurança, acerca até de nós próprios e dos burros. Rogo, pois, que se aceite este presente como tudo o que vem de um amigo, considerando menos o valor do que é dado do que a intenção de quem oferece. Image Hosted by ImageShack.us
________________________________________________ O BLOGUE DA SEMANA: do MACROSCÓPIO elege o Jumento (neste caso sem votação, mas com muita intuição) [Link] Durante esta semana o icon "escolha" da coluna da esquerda vai transportá-los para o Macroscópio, um blogue que merece ser visto e lido ___________________-------------------------____________ __________----__________------------------- Image Hosted by ImageShack.us