sexta-feira

A (ideia) da realidade ou a realidade da id...

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Quantas vezes acordo e me interrogo: o que é a realidade? Serei eu, seremos todos nós, criadores de realidade? E de que forma ela surge nos textos dos romances, dos contos, dos ensaios, enfim, na cultura em geral, até na do tomate e do feijão verde - que fazem umas sopas excelentes que dão saúde ao cérebro.. Aqueles que o têm, evidentemente... Por vezes, confesso, procurar o meu com alguma insistência, tamanha é a rotação da realidade que não a consigo seguir ou acompanhar.
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  • Vem isto a propósito não apenas da minha interrogação matinal, mas também na sequência do tempo e da melhor forma de o redescobrir. E como o tempo urge, temos de fazer essa tarefa antes de morrermos. Mas agora, conforme invenção sábia do mestrinho Zaramago, já não morremos, e o sujeito até se transformou crente e acredita na eternidade da vida, em vida.

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  • A morte, segundo validou em romance, é mais uma efabulação de agnósticos empedernidos que se servem recorrentemente da Bíblia e dos seus ensinamentos - para aquele triste e mui mediano escritor se inspirar e fazer mais um romance que a turba, ígnara, e por modismo, vai atrapalhadamente comprar para depois nunca ler. Basta ouvir o que se diz nos autocarros, nas paragens de táxi, na praça, onde se compram os tomates e o caracóis - es(x)pelindo toda aquela ranhoca que depois manjamos - sem já pensar sequer que Zaramago existe ou jamais existiu. E é assim, esquece ou trocamos Z., por um caracol todo ranhoso mas que nos sabe lindamente, ao invés da sua propaganda literária.
  • Julgo a questão pertinente por ser ao mesmo psicológica e filosófica, e traduz-se em saber o que é a verdade? Coisa mais relativa... Será a razão que a descobre e comprova através da experiência? Ou será que é cada um de nós, com as lentes dos nossos olhinhos, que a cria nas profundezas da nossa personalidade? E, já agora, o próprio Homem - será aquilo que os outros crêem que é, ou aquilo em que a mente de cada um de nós crê ser?
  • Esta questão ganha relevante pertinência se recordarmos aqui o grande Cervantes - autor do famoso D. Quixote - por muitos considerado o maior romance do mundo, de todos os tempos. E se calhar essa rapaziada-do-conceito não anda longe da verdade, desta verdade..
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  • Julgo que aqui a questão deve ser avaliada à lux de lente mais fina: assim como há duas formas de tempo - também haverá duas formas de realidade, ou seja, que o mundo do espírito, das ideias puras de Platão - embora repletas de aparências e de enganos e perigos - também encerram a sua realidade. Foi nesse sentido que Cervantes mostrou ao mundo que o seu D. Quixote - apresenta uma realidade superior, uma vez que é exemplo eterno dos valores e dos anseios humanos. E a prova é que aqui estamos falando deles, reinterpretando-os, revivendo-os, e amanhã, porventura, outros o farão, secundados por outros-e-outros-e-outros - nesta mega-roda do tempo que se chama eternidade.
  • Quer dizer, esses anseios, medos, expectativas são concebidos primeiramente no plano das ideias - e aí são tidas como verdades - e só depois chocam com a prova exterior da realidade. Primeiro, as coisas existem nas ideias e no espírito; e só depois ganham foros de cidade nessa tal realidade externa. Isto é Hegel na sua mais pura definição - que se contrapõe ao pensamento de Marx - que gerou grandes controvérsias nestes últimos 200 anos. Quem é que comenda, afinal, todo o processo de fabricação de realidade: o espírito ou a matéria? Quem tem razão - Hegel ou Marx??
  • Provavelmente ambos, embora com predominância daquele - dado que tudo começa 1º no nosso processo mental, mas que foi inspirado por uma dada realidade exterior (ou imanente) o nosso espírito... Enfim, esta é uma pescadinha de rabo na boca.. Só que esta pescadinha tem muitas bocas e alguns rabos.
  • É como se cada um de nós inventássemos coisas que depois são verdades.. Ou será que essas tais verdades - antes de o serem - nunca passaram de tremendas mentiras ou aparências de realidade?!
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  • Daí a questão, antes de ser literária é eminentemente filosófica e de raiz psicológica, metafísica se se quiser. De facto, parece-me que as pessoas em geral inventam ideias e coisas dentro delas que depois se revelam verdade em função (ou não) da sua validação social e aceitação pelo maior número de pessoas que vive em sociedade. Logo, a verdade é uma relação tão relativa, é um procedimento em reconstrução sociológica permanente.
  • Esta é, creio, uma questão candente e atravessa a maioria dos romances, porque interfere com a natureza das personagens, dos tempos, da acção e tudo o mais. Pode suceder que uma personagem fictícia ganhe depois realidade psicológica tal que o leitor depois já não a conseegue dissociar da realidade. Com os romances do Eça - a coisa passa-se assim. Com os trabalhos de campo de Z. as coisa - pura e simplesmente - não se passam. Ou melhor, passam-se só na mente do seu autor - que passa a vida a sorrupiar frases, pensamentos e outras derivas da Bíblia para depois dizer ao mundo que tem uma cultura religiosa acima da média e se preocupa muito com os valores humanos, o multiculturalismo, o destino da humanidade e, claro está, os royalties na sua continha bancária. Mas não é à minha conta, certamente!!
  • Todavia, esta história da relação entre o idealismo e o realismo, que tem atravessado os tempos, ganhou outra dimensão quando há dias estava entalado entre o padeiro e o talhante, e ouvia uma conversa interessante que aqui procuro enriquecer. Dois cavalheiros, de cultura acima da média, discutiam a dimensão do D. Quixote, e a importância do elmo, a tal bacia de barbeiro - que Sancho via. Todavia, para D. Quixote aquilo era um elmo, e não uma bacia de barbeiro.
  • Logo, o mesmo objecto a um parecia uma coisa, e a outro parecia outra. Daí a questão prévia que colocámos - e que remete para o domínio da epistemologia, ciência do conhecimento. Depois desta questão de filosofia caseira - Sancho Pança - sempre respeitador do seu mestre, ou mestrinho, não queria ir contra a vontade peregrina do seu "amo", D. Quixote, e decidiu passar a chamar àquela coisa um baci-yelmo.
  • Ora bem - é aqui que queríamos chegar: à conquista e à captura da realidade. Que, neste caso, se traduziu por inventar uma 3ª categoria, pois não é elmo, nem bacia de barbeiro - mas passou a ser um baci-yelmo. Creio que este processo se passa nas esferas da produção política, económica, social e até e, sobretudo, no domínio interpessoal em que as relações entre as pessoas são cada vez mais desgastantes, precárias e até perigosas...
  • Julgo que é assim que devemos ler a realidade dos nossos dias, sempre com um relativismo filosófico que depois nos conduz a essa desejada síntese, que acaba por fixar a realidade que inicialmente não vislumbramos. Com o chamado processo de produção científica, ou de conhecimento sólido, passa-se o mesmo. Embora o patamar superior da sabedoria exija mais tempo para a realidade repousar e estabilizar algumas arestas que o Tempo - a tal estrutura geral do tempo - sabe e pode fazer.
  • Esta foi para mim uma das grandes lições de Miguel de Cervantes. Por isso, é que quando olho para os zaramagos que pululam na cidade em busca de prémios e ávidos de honrarias - acho toda essa gente mui pequena, tanto que em certos casos só se tornam visíveis pela lupa do microscópio. Mas aqui só usamos o macroscopio - que julgamos ter mais alcance, embora as coisas pequenas também ajudem a fazer (e a desfazer) as coisas que o tempo vem a confirmar serem grandes.
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  • Terminamos com mais um pequeno exemplo que procura ilustrar o que pretendo transmitir. Não é provável que Gulliver alguma vez chegue a visitar na realidade concreta o país dos anões ou dos gigantes, embora essas "verdades literárias" - que J. Swift nos contou e retirou da viagem da sua personagem por terras imaginárias são de importante aplicação ao mundo dos homens comuns onde hoje todos nós nos encontramos.
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  • Ou julgamos encontrar... Será isto realidade?

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  • Desconheço se tudo isto é real. Mas sei que se descurarmos certos valores, certas normas e regras muito básicas são essas mesmas realidades que nos esmagam sem dó nem piedade. Ainda no outro ia sendo atropelado... no metro por uma linda mulher. Lamentavelmente, a colisão não chegou a ocorrer... E ficar submergido por uma ideia não é bem a mesma coisa que ficar debaixo dum pedregulho, como a Pantera côr-de-rosa... Apesar daquilo que nos conduziu a esse lugar perigoso tenha sido um impulso duma ideia, mesmo que suicida - para alguns; salvadora para outros.
  • Afinal, em que ficamos: Portugal salva-se com Sócrates, ou teremos de lá meter um filósofo à séria???