Atenção: o pistoleiro supra não é protagonista do Matrix, ensaiando um bailado cibernético com as balas de borracha que fizeram as delícias dos cinéfilos da 7ª arte. É simplesmente Sarkozy a candidatar-se a um dia acordar com uma bombinha dentro de casa ou do carro, segundo é agora a especialidade magrebina em França. De facto, os tempos estão agitados, a chuva molha, o sol seca, o gelo gela, e as armas inventadas pelo homem ainda continuam (estranhamente) a matar quem as inventou. Não é isto (de)admirável!?
A importância dos sistemas culturais - e do multiculturalismo - são sempre recuperados sempre que há problemas de baixa, média e alta conflitualidade social. França está hoje a viver esses destroços de civilização criada há três décadas. Os acontecimentos são conhecidos de todos, as causas também já estão identificadas, sob um barril de pólvora - em que as comunidades francesas - oriundas do Margreb e da África ao sul do saara - vegetam. O que falta, então? Criação de mais riqueza, emprego, e justiça e equidade social. Tudo inserido num programa nacional de integração social activa. Eis o que tem faltado não só em França - mas em toda a Europa. Parece que a globalização não deixa...
Demora tempo, pois demora!! Custa caro, pois custa!! Mas quais são as alternativas???
E em Portugal - o que poderá passar-se se a economia e a justiça social não crescerem? O que significam as nossas "covas das moura"; os nossos micro-arrastações? Os assaltos na linha de Sintra ante a impotência cega das autoridades, alguns dos quais até assobiam para o lado a fim de evitar rasgões, facadas e outras cicatrizes. As forças de segurança em Portugal, dizem, até têm de pagar do seus próprios coletes à prova de bala. Para quê então - arriscarem-se.. E você, se fosse polícia - o que faria? Arriscaria? Com os filhos em casa e a mulher desempregada...
Tudo isto era já visível nas escolas, nas ruas, nas colectividades de bairro. Mormente numa França - liderada por um J. Chirac sem crédito, sem visão, sem projecto político e social. Ainda por cima - acusado de actos de corrupção..., e, mesmo assim, foi eleito perante alternativas radicais, de "Le penes" e compª. A França está um farrapo. Hoje já ninguém quer tocar piano nem falar francês.
E aqueles que o sabem fazer, não o admitem publicamente. Têm vergonha da França que têm, sombra dantesca do passado grandioso que foram. A França hoje só existe enquanto problema, um abcesso social entalada no meio da Europa, regorgitando os erros que tem cometido activamente nestas últimas décadas de negligência social e de marginalização multicultural. Só se integrando a si própria, nunca olhando para as margens - que agora explodiram em força, e em múltiplas direcções.
E qualquer dia as pontes (de Vasco da Gama) e outras pela Europa fora, construídas com mão-de-obra barata... - também começarão a abater-se violentamente sobre as nossas cabeças ocas.
E a factura está aí: em a fúria, embrulhada em revolta urbana (mais ou menos) organizada respondendo ao sistema político formal - que nada faz - a não ser declarações incendiárias. E respondeu com incêndios e muita violência, e nenhum daquele milhar de automóveis carbonizados era, certamente, a viatura do sr. Chirac ou do sr. Sarkozy... Nem as casas, nem os salários, etc, etc, etc..
Qualquer dia ainda aparece um teorizador magrebino - com uma granada numa mão e o microfone na outra - dando uma conferência de imprensa em Paris, dizendo mais ou menos isto:
O Palácio Matignhon vai à vida se não forem tomadas urgentes medidas públicas no âmbito do emprego, da segurança social e do urbanismo nas zonas afectadas por este terramoto social - desencadeado pelas comunidades imigrantes mais desesperadas, mas motivado pelos políticos cegos, vaidosos e corruptos, como Chirac.
Vejo a TV e aquelas imagens fazem-me lembrar que a humanidade cresce como as serpentes, mudando de pele de vez em quando. Esse processo parece coincidir com os ciclos de turbulência e de inquietude da história do homem.
Talvez não fosse por acaso que o grande renascentista, Erasmo de Roterdão, fizesse uma distinção entre os períodos históricos calmos e os turbulentos. França vive hoje essa turbulência que comprou há 30 anos, e pouco ou nada tem feito desde então para a minorar ou até erradicar essas margens de multiculturalismo explosivo - não integrado revoltado, enfurecido mostrando que as multidões sabem ser assassinas.
Parece que a economia e a globalização não deixam que essa integração socio-cultural se realize, e a visão frouxa dos políticos de trazer por casa que hoje governam a França - e a Europa - também não ajuda à festança da dona Constança. A Europa perdeu o rumo, está desatinada, deixou de ter políticos à altura, decaíu, entorpeceu, incendiou-se. Está aí, a arder e a altas temperaturas chamuscando políticos, políticas (sociais - que pura e simplesmente - não existem), questionando ainda mais a validade do projecto político e social europeu e mais umas centenas de etc lideradas hoje pelo sr. Durão Barroso (mais conhecido por José Barroso - e, entre nós, é mais conhecido - pelo trânsfuga) - que revelam toda a nossa pobreza material (e de espírito) de que é hoje autor o Velho Continente. O qual também está hoje uma sombra ruinosa do que foi no passado, e até se chamou Euromundo e brilhava como um cristal que irradiava força, poder, riqueza e glória.
Vejo aquelas imagens e ocorre-me pensar que a nossa sobrevivência depende da eficácia e da rapidez da sua adaptação a esse novo mundo, a essa ordem sem autor que responde pelo nome de globalização competitiva. Essa deslocação múltipla dos factores de produção e das mobilidades de fazer dinheiro, criar desemprego, gerar riqueza artificial, encubar informação e contra-informação. Enfim, a globalização desarticula mais do integra. Mata mais do que deixa viver. É, talvez, essa fábrica do nada - ontem encenada no teatro - em que os actores resolvem metaforizar o tempo presente da economia - nada fazendo.
Que melhor metáfora do que esta para nos ajudar a explicar a incerteza e turbulência dos tempos que todos, mais ou menos, vivemos??
Foi uma ideia feliz, apesar de triste. Uma espécie de gente feliz com lágrimas - as que vemos hoje arrastando-se por toda a Europa. É assim, vivemos tempos paradoxais, e a síntese só se consegue através de desgraças, muitas desgraças às quais somos completamente alheios até que..., até que a "fábrica do nada" nos bata à porta... Ora em França essa Fábrica do nada já se faz ouvir e sentir há décadas, e agora subiu à cena no Sul e na região Oeste de França. E qualquer dia é a Europa inteira, sem excepção, que fica assim: efervescente, alimentado-se e retroalimentado-se de incêndios e de destruição pura e dura..
Que fazer? Senão reconstruir todas as ideias válidas sobre integração social, cultural, recuperando assim todas as estruturas sociais fragmentadas, agravadas pela voracidade da nova economia e pela falta de visão da política e dos políticos que a Europa hoje alberga.
Temo bem que sejamos de novo obrigados a enfrentar esta situação com o nosso cérebro de homem das cavernas, um cérebero que não se alterou muito desde a sua formação. Significa isto que temos uma situação nova, uma alteridade emergente - à qual temos urgentemente de dar resposta. Mas parece restar-nos os métodos antiquados, com dirigentes políticos que têm a suas raízes no velho mundo pré-científico e que pensam que a única forma de resolver estes problemas estruturais da sociedade europeia (e não só da França - que agora explodiu dada as dimensões das comunidades imigrantes aí estacionadas) é por meio de embustes e palavras dúbias, ou até através do aumento do arsenal de segurança em cada bairro, em cada rua, em cada esquina.
É óbvio que a segurança é essencial, sem ela nada se faz. Mas ela não é um fim em si mesmo. Pensar que dela emanam as receitas para estes velhos problemas sociais, que se têm agravado de geração em geração de imigrantes - que já nasceram em França - apesar de não se sentirem verdadeiramente franceses (ou até europeus) - remetendo a questão para o domínio do simbólico, do cultural e do imaginário (o que ainda ensombra mais os conflitos latentes nas sociedades multiculturais não integradas) - é pensar que as vacas põem ovos, por muito que tentassem.
É esta ideia das vacas a chocarem ovos que me ocorre pensar quando vejo as caras de Chirac ou de Sarkozy pela TV. É como se fossem gira-discos a tentar escreverem cartas, ou máquinas de escrever a tocar música e teclar num piano e a cantar em francês.
Descontada a ironia desta metáforas - resta-nos saber se o nosso cérebro já pode fazer algo mais do que aquilo que temos feito até aqui. Será que esse nosso órgão deixou de ser suficientemente elástico para cobrir situações e problemas desta natureza?
E digo isto, sugestionado pelas imagens das cidades francesas a arder, porque essas mesmas imagens levam-me a outro pensamento. Será que as palavras - e o sistema de linguagem que possuímos - tem hoje verdadeiro significado? O mesmo se aplica à linguagem dos políticos portugueses, naturalmente!!! Pois aqui o fosso entre as promessas e o realizado é abissal. Um espaço hoje imaginosamente preenchido pela tal Fábrica do nada... Parabéns, pois, para esse grupo de teatro em que participa, creio, Miguel Castro Caldas - que tem a gentileza de me enviar uns mails anunciado essas representações..
Será que as palavras, as declarações políticas de Sarkozy, Chirac, Villepin e demais pessoal político dirigente da Europa e arredores (veja-se também a impotência da maior potência do mundo ao lidar com as catástrofes naturais no sul dos EUA recentemente) podem ser alinhadas de forma racional?
Pois todos conhecemos o passatempo de Sócrates (não o PM português, o filósofo verdadeiro, o de Atenas - que morreu em nome da verdade): "diz-me algo, e eu provarei que é falso; depois diz-me o contrário, e eu provarei que é falso também, desta vez de forma invertida".
Quer dizer, tudo pode ser justificado por palavras e pela lógica. Tudo, salvo os factos... E aqueles incêndios em larga escala e com uma duração no tempo verdadeiramente excepcionais, não me parece que possam ser explicados ou justificados pela lógica socrática, ou seja, pelas palavras de daquela dupla francesa que faz as delícias do mundo e conduz a França à ruina. Mas não nos podemos esquecer que a França é um país grande, com potencial de crescimento. Mas assim, em crise, só pode piorar as coisas na Europa, e com uma Europa receosa de si própria a economia não cresce nem se desenvolve. Os investimentos tardam e a crise parece criar ainda mais raízes. É uma crise dentro da crise - da qual não conseguimos sair. Nem já pela lógica (socrática)...
Assim, regressamos à magna quaestio: Que fazer? Que já era o lema de Lenine, e até lhe deu um título para um livro que hoje muito apoiantes "marxistas-leninóides" de luxo da candidatura de Soares a Belém já não citam, porque saíu de moda, é feio e lembram muitos horrores sociais e humanos vividos por milhões e milhões de comunistas, ou ex-comunistas...hoje convertidos ao neoliberalimo.
E essa grande questão, segundo me parece, assenta na chave do sistema cultural e na forma como ele se flexibiliza para comandar todos os outros, inclusivé - o sistema económico neoliberal que hoje regula e desregula a lógica da globalização competitiva, que se alicerça nas mobilidades e nas deslocalizações aceleradas.
Um dos factores que decidem as acções do homem a implementar no futuro, para integrar essa multiculturalização desordenada, anárquica e de enfurecida, que vandaliza pessoas e bens e ameaça a segurança de um Estado, remete para o tal sistema de valores, que encima o vértice da pirâmide e define as normas que, cada um de nós, deveria integrar desde tenta idade.
Quer isto dizer que se um idoso de 85 anos ainda hoje corre diáriamente na estrada que vai da Guia ao Guincho -, e se continua a correr inpacientemente todas as manhãs nessa direcção, é porque, quando era criança, aprendeu com a sua família - e amigos - que uma das coisas pelas quais vale a pena lutar é pela condição física, pela saúde ou, noutros casos, pela criação de novos conhecimentos que servirão, certamente, para aproximar as pessoas umas das outras, e não para as afastar entre si, como hoje vemos em França em proporções e numa duração temporal verdadeiramente assustadora.
Dito isto, podemos aferir que o que mais tem influenciado ma formação do nosso sistema de valores (ocidental) é a história - pois que outras bases há para construir o futuro? senão o passado?
Isto remete-nos para uma outra coisa importante: a educação. E a educação de um jovem, de milhares e milhões deles, de uma, duas, três gerações está fortemente dependente da história. Referimo-nos aqui à verdadeira história. Quer à história lenta (de tempo demorado, estrutural) da evolução do homem, não a história narrada ao ritmos das imagens filmadas pelas estações de TV (de tempo acelerado) - que hoje são notícia, mas amanhã deixarão de o ser. E esta história remete-nos, por sua vez, para a evolução do homem, ié, da história como ele evoluíu e ascendeu ao nível dos outros animais até à sua posição superior actual, que lhe permite apreciar a beleza, criar arte, gerar conhecimentos, pensar a política do local onde se encontra, mas também de incendiar casas, carros, pessoas e o diabo a sete que lhe passe pela cabeça. O homem é, portanto, um anjo e uma besta. Por vezes, predominante esta...
Ora é o ritmo dessas consequências que deve ser parado, e de que o terrorismo, o novo sistema da morte, é o paradigma negativo que está em curso. E que pode encontrar nessas comunidades imigradas a insatisfação ideal para o recutramento terrorista e, assim, intensificar dentro da própria "casa europeia" - as acções terroristas lançadas pela rede das redes que hoje parece dar pelo nome de Al Qaeda.
O que sucedeu nos EUA, em Espanha e em muitas outras capitais do mundo - pode muito bem suceder amanhã em Toulouse, Paris, Viseu, Leiria, Coimbra ou até ali em S. Bento - mesmo ao lado da Fundação Mário Soares - num gesto para dizer ao mundo que muitos jovens licenciados deixaram de poder aceder à investigação científica em Portugal por causa do desvio de dinheiros públicos que serviram para alimentar fundações com fitos privados - sem que daí haja qualquer contrapartida para o interesse público.
Esses baronatos, essa forma larvar de decadência e destruição duma sociedade, esses novos feudos gerados pela ideologia neoliberal - mesmo que as pessoas jurem a pés-juntos que são socialistas, marxistas ou o que seja - têm de acabar. Todas essas falsas "estórias" têm de ser varridas da grande História. Doutro modo jamais se fará História. Far-se-á - sim -, perversamente, é a história sangrenta que coze hoje as pontas às sociedades.
Os acontecimentos em França vieram também mostrar ao mundo uma outra coisa que ainda não vi evocada devidamente: as guerras já não são só decididas por generais de aviário, ou por políticos mal formados e rancorosos que pretendem ajustar contas com o passado. São - antes - ditadas por precárias condições sociais, alimentares, habitacionais, psicológicas e de condição humana - como podemos constatar em quase todos os países europeus - onde graça o desemprego e a miséria em larga escala, e que ameaça agora as portas daqueles barões que costumavam ter as rédeas do controle social bem apertadas. Isso, hoje, acabou. Toulouse pode multiplicar-se e ser mesmo aqui ao nosso lado. Pode mesmo eclodir numa fundação perto de si, por se saber que absorveu indevidamente dinheiros públicos que bem poderiam ter servido para programas sociais mais integradores.
Hoje procuro os nomes dos homens que pretendem impulsionar as molas do desenvolvimento, do conhecimento, da inovação, da arte, em suma, dos valores éticos e morais que poderiam fazer do homem um ser verdadeiramente superior, e não um macaco com a mania que é homem - porque já se sabe olhar ao espelho. Procuro nos meus livros de história esses nomes grandes - que sei existiram - mas só me vem à memória o pobre do dr. Mário Alberto nobre Soares e de mais uns dejá-vous que se arrastam pelas paraças nacionais dizendo à turba: deixai vir os meninos a mim, porque eu gosto muito das pessoas, estar à vontade com elas...
Ora isto tem um nome: decadência moral acelerada, ou retardada - dependendo da perspectiva..
E à altura dos pedestais das estátuas - que outroram foram - e erguemos muitos dos nossos heróis nacionais, essas figuras, esses canastrões da política lusa - desceram hoje muito abaixo do cidadão comum - em quem já nem eles acreditam. Se calhar é por isso que busco esses heróis nacionais nos meus livros de história, e só encontro os do passado: Galileus, Newtons, Darwins, Pasteurs, Shakespeares, Maquiaveis, Budas, Einsteins, alguns Cristos, outros tantos cristos menores - como Bill Gates, George Soros e muitos outros heróis que já saíram da história. Se calhar são os mesmos que agoram reentraram pela porta-dos-fundos para incendiar as cidades francesas que estão a ferro-e-fogo.
Numa palavra: sem educação e um sistema de valores verdadeiramente integrador e tolerante - nada se faz.
Perante o exposto - talvez a reflexão mais oportuna, em face das actuais circunstâncias europeias que hoje todos vivemos com muita apreensão - seja a seguinte:
Não haverá Paz nem Desenvolvimento, nem Justiça Social - enquanto os povos não tiverem aprendido a lição básica: distinguir a diferença entre a civilização técnica e a futura civilização espiritual. A Humanidade terá de enfrentar acontecimentos futuros de escala universal, ainda mais perigosos. Por isso, chegou a hora de edificar a cultura do futuro. Mesmo que tenhamos de olhar para o passado e perceber no presente o que fizémos de mal. Sem olharmos para trás - muito dificilmente conseguimos ver a linha do horizonte e desenhar no nosso imaginário a linha do zenite que queremos construir para nós e para os nossos filhos. Os quais, pasmados, julgam estar a assistir a um filme do Stalone... Esperemos, como no filme, que os maus percam e ganhem os bons.
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