O homem falsamente duplicado
- No momento em que o comité do Prémio Alfred Nobel galardoou Zaramago o mundo ficou suspenso numa intermitência de... talento e de inteligência...
- A génese do homem duplicado.
O homem unidimensional
Confesso não apreciar a sua escrita. Nem a sua forma, nem o seu conteúdo - cujos temas já foram popularizados há duas décadas pela sociologia anglo-saxónica. Nem, por extensão, a sua personalidade nem a forma como está na vida. Tudo isso junto denota uma forma ingrata de tratar Portugal, a sua (suposta) pátria. Zaramago é um homem azedo, amargo. Tenho constado isso em vários fora onde, sem querer, lá o vejo debitando palavras comuns, cheias de banalidades e com total ausência de vírgulas e pontos de pensamento sobre os problemas contemporâneos. Zaramago é a desregra em movimento. A única dessa ordem é não haver regra nenhuma. É como se na abadia não houvesse relógios nenhuns. Nem tempo, nem obrigações, nada. É isto zaramago.
O homem-duplicado...
Quem conheça um pouco de literatura contemporânea acha-o um escritor sofrível. E não se ache aqui nada de ideológico, por ele ser ou dizer que é ou foi comunista. Zaramago escreve medianamente, e apanhou todos de surpresa com o Nobel. Ainda assim podia tê-lo aproveitado para prestigiar o país, mas não. O seu rancôr e azedume impedem-no de ser um personalidade maior das nossas letras e da nossa cultura. O rancôr tomou conta dele, e não o larga..
Gostaria de gostar dele e da sua literatura. Gostaria de me identificar com a sua cosmovisão, com a forma como comunica as suas vivências e as suas ideias, preocupações e angústias. Gostaria de perceber o sentido de civilização que quer comunicar ao Mundo, e nele descobrir e reencontrar sinais de permanência do homem. Gostaria de reter as mensagens dignas de reter.
Gostaria ainda de convergir intelectualmente com alguém que foi autor de acontecimentos relevantes, que moldou a face da vida cocetiva dos homens da minha geração, que experimentou fórmulas novas, expôs ideias originais, e teve um talento nato para produzir frases bonitas - mas com conteúdo e mensagens portadoras de futuro. Só frases bonitas são ocas, e essas leva-as os vento.
Gostaria de me rever num vocabulário criativo, sedutor, vivo, pontuado, compassado e com uma estreita relação do pensamento com a acção. Tudo isso busco em Zaramago, e só encontro uma mão cheia de nada. Zaramago é uma fraude intelectual e um escritor genialmente mediano.
Procuro cuidadosamente algo de diferente, como se buscasse uma agulha num palheiro, e só vejo azedume, escárnio, maldizer, enfim, desprezo pelo que lhe é diferente. Pouco ou nada me importa o que ele pensa de Cavaco, mas a forma como o sujeito olhou para o chão antes de mencionar o nome dele - só pode espelhar um fragmento de toda a sua pessoa, um espelho da mortalha do seu carácter. também não gostaria que ele escarbecesse daquela forma de Soares, de Jerónimo ou de Louçã. Zaramago é anti-humano.
- O homem quadruplicado
Zaramago deve, por isso, ter cuidado. As imagens que ele dá de si matam. Colam-no a um ser áspero que parece ainda estar enraivecido só porque um seu ex-governante lhe vetou uma obra há uma década. Se não fosse isso - hoje estaria no anonimato. Creio, profundamente, que quem lhe deu o estrelato - foi o referido secretário de Estado da Cultura. Mas ele não esqueceu, revela que é rancoroso e procura todas as oportunidades para invectivar o seu autor.
Gostaria ainda de concordar com o seu estilo de escritor e a forma como ele impregna os seus sentimentos contraditórios, mas não consigo. Não por não ser comunista, mas por ser humanista, personalista e acreditar no homem.
O zaramago que vi na SIC com o discurso colado a cuspo para só dizer mal de Cavaco e, assim, ajudar Soares - foi um espectáculo deprimente, achincalhante para o próprio.
Há cerca de dois anos fui à FIL para assistir ao lançamento de um seu livro. Fui para ver e ouvir Marcelo R. de Sousa - que o aceitou apresentar. Curiosamente, este teve um estranho dislate nessa sessão (que agora não vem ao caso). Mas impressionou-me negativamente a forma como tudo aquilo decorreu. Confesso ter ido para ouvir Marcelo. Mas nunca esperava ver uma assembleia de comunistas de braço no ar, fazendo-me supor que estava no politburo nacional do PCP - votando uma qualquer medida da reforma agrária. Fiquei impressionado com a assistência, pois cerca de 90% das pessoas tinham idade superior a 60 anos. Senti-me velho e deprimente nessa sessão - e da qual sai antes de terminar.
Confeso que gostava, como mero cidadão, de me identificar com o Nobel da literatura português. Mas lembro-me de como ele saneava os seus colegas jornalistas do Diário de Notícias nos anos quentes da Revolução de Abril. Zaramago sempre fora assim: abrasivo, amargo, rude, fraccionado. Enfim, um homem violento e estruturalmente rancoroso. Um rancôr que se agrava acom a idade.
Por tudo isto, e repetindo a escolha agastada dos seus temas que já passaram de moda nas correntes literárias que o desenvolveram há duas décadas na Europa e no Mundo, confesso nunca ter percebido a razão de tanta venda dos pacotes literários que Zaramago coloca no mercado. Bem sei que há muit membro do PCP que o lê, mas não pensava que fossem tantos. Também sei que muitos o compram como quem compra um queijo fresco e depois não o come, porque, entretanto, ele ficou amarelo, azedou. Um pouco como comprar o D. Brown sobre o segredo de Da Vinci, ou assim..
Em suma: Zaramago foi à SIC para devorar Cavaco, mas foi ele que acabou por ser devorado pela sua própria imagem - reflectida no chão em que escarnecia - e para onde olhava propositadamente antes referir o nome do PM sob o qual decorreu o veto ao seu livro sobre o evangelho.
Zaramago é assim: um homem revoltado, com vontade de se vingar. E utilizou na SIC todo esse seu medíocre talento para ver se roubava uns votosinhos a Cavaco e os fazia transferir para Soares, já que o dançarino Jerónimo não integra essa contabilidade política.
Zaramago revolta-se contra o passado que lhe deu o futuro. É, por isso, um ingrato e um ser arrogante. Não merece o País que tem. E mais: nunca teve o cuidado de agradecer ao ex-Secretário de Estado da Cultura por o ter ajudado nesse desiderato. Por o ter projectado para o estrelato, mesmo que de forma perversa.
Por tudo isto - vi na SIC um homem banal. Medíocremente banal. Tonto nas ideias, embora as queira apresentar sempre sob uma capa metafísica ou de longo alcance filosófico. Tenta fazer sempre esse número. Quem tenha algum conhecimento filsófico já topou esse seu crónico "sukete", mais parece um número de circo que as crianças conseguem antecipar.
Zaramago não merece o Portugal que tem. Portugal deveria exilá-lo e impedir o senhor de vir denegrir a história, a cultura, as instituições e o mercado que lhe deu a mão e os roylties que fazem dele um ser perversamente amargo e cínico. Em lugar de ser um escritor agradecido ao país que o ajudou e promoveu ao estrelato - Zaramago revolta-se contra o inacreditável: 10 anos volvidos o sujeito ainda nos vem com o rancôr... Tudo por causa de Cavaco???
Parece que para ele o objectivo da sua vida radica em vir cá fazer duas conferência por ano e dar umas entrevistas às estações de televisão. O tema central: rancôr e denegrir tudo cheire a cavaquismo. É nisso que assenta a sua religião.
- O homem verticalizado
De zaramago não retenho nada, senão estas más memórias - de que foi absolvido pelo sr. dr. Durão Barroso, o qual também não trás boas lembranças. Aliás, não deixa de ser curioso que tenha sido um maoista e um comunista a fazer as pazes nos jardins de S. Bento. Hoje constato que nem na Estufa fria o escritor merecia ser recebido.
Vejo ainda em Zaramago um defeito estrutural indesculpável: ser amigo de Fidel Castro e do seu energúmeno regime. Este homem, Zaramago, chega aos 80 anos de idade, e realiza a ideia que Castro impôs uma "democracia" em Cuba. Dantes era um país de prostitutas, jogo e negócios. Hoje, a situação mudou e inverteu-se a ordem dos factores. É um país de negócios, jogo e prostitutas. E é neste pára-arranca que Zaramago deu o seu avale intelectual ao regime castrista - só interrompido quando aquele sujeito barbudo mandou balear mortalmente uns sujeitos por delito de opinião. DEvoa deveria urgentemente exilar-se em Cuba e de lá jamais regressar... Assim, podia usufruir das vantagens e dos prazeres da ilha, a 180 kil. da Florida, onde também podia enganar mais uns gringos com os seus romances altamente filosofantes.
- O homem triplicado
Isto, para mim, diz muito acerca de Zaramago. Julgo que Portugal não é a sua pátria. Zaramago está equivocado. O nobel pertence - sim - mas é a Cuba e a todo aquele sistema de valores do qual não posso subscrever nem uma vírgula. Pois mesmo que quisesse também não seria possível, na medida em que Zaramago também não sabe escrever, muito menos com vírgulas. E um texto sem pontuação é, um pouco como um homem sem carácter - que apoia ditadores que matam e mandam matar intelectuais que querem ver florescer a democracia genuina em Cuba; que querem ser livres sem a pata opressora do velho barbudo que desceu a Sierra Maiestra mas há quase 50 anos, mas que nunca mais dá outro trambolhão. De preferência em directo para o mundo assistir de imediato ao colapso do regime. Pois Cuba só viverá a democracia quando o ditador desaparecer. Ou seja, cair de novo...
Ora é nisso que o escritor Zaramago se devia empenhar, e não nas eleições presidenciais em Portugal. Devia empenhar-se na queda do ditador cubano, e não em elogiá-lo publicamente. Foi vergonhoso. Um dia, no Algarve, tive de esconder a minha própria nacionalidade a um norte-americano - porque ele identificou Portugal a Zaramago, e perguntou-me se eu era nacional desse país. Respondi que era espanhol. O que foi dar ao mesmo, pois, na realidade, Zaramago é mesmo espanhol. Mas depois perguntei a esse turista o que lhe ficara retido na mente após as leituras do Nobel... Respondeu-me que nada, nem os títulos das obras. Referiu-me apenas que só tinha visto a emissão de atribuição do Nobel, mas não lera nada do autor. O que também não admira, vindo de um concidadão de G. W. Bush.
É nos objectivos universais que um escritor - já nobilizado - deveria apostar toda a sua influência, e não numas frases de lana caprina, ditas num tom revanchista com aquela cara de pau que deus lhe deu. E não podia ser um pau bom, porque o escritor não acredita em Deus, nem em coisa nenhuma. Ele só acredita nos seus royalties que saca pelos livros que vende.
Por tudo isto julgo que seria um gesto de humanidade as pessoas, os leitores nacionais em particular - meditarem neste quadro de valores que fazem, no fundo, a mediocre genialidade deste escritor. Alguém que se diz português, mas que vive em Espanha e passa a vida a dizer mal do seu país - que o acolheu e o promoveu. Zaramago é o azedume em movimento. Nada de bom emerge das suas expressões. Até das expressões faciais..
Um escritor, tanto mais um Nobel da literatura, tem de saber apartar-se da política activa (e partidária e das guerrinhas entre facções e sectarismos) por forma a mostrar ao país e ao mundo, que é um ilustre representante de um legado de cultura e de saber, e até de sabedoria. Mas não!! O sr. zaramago não consegue uma aproximação a este quadro de comportamentos que seriam esperados nalguém com o estatuto que o referido prémio confere.
Julgo que Zaramago quer impressionar os leitores retratando os problemas existenciais do seu tempo à pala de umas notas de pé-de-página que rouba a uns livros de filosofia que acabou de ler antes de entrar nos estúdios da SIC, mas só consegue retrar-se a ele próprio mais à sua circunstância. Uma circunstância inintelígivel, fraccionada, violentada por um passado pobre de que nunca se evadiu - e o marcou para todo o sempre.
Também aqui Soares só tem a perder, já que Zaramgo (na literatura) tal como Soares (na política) traduzem elevados níveis de retroactividade, já que cada um desses elementos referencia o outro como sendo o melhor, num casamento entre passado e passado, e em que há grande insatisfação entre o prometido e o obtido.
Como simples cidadão de Portugal, esperaria que Zaramago fizesse um apanhado das principais influências da literatura moderna ou contemporânea que agora influem nos seus trabalhos; de igual modo, de Soares - esperaria que ficasse resguardado como uma reserva senatorial da nação, dando o seu conselho sempre que as circunstâncias políticas o exigissem.
Mas não: o escritor virou comentador político (e ainda por cima de baixo calibre); e Soares aos 80 anos vai à TVi dizer que é filósofo, escreveu 9 livros e que Cavaco é um economista manga-de-alpaca e que não tem cultutra nenhuma. Isto parece-me as discussões que eu tinha com o meu irmão aos 13 anos...
Isto, meus senhores, revela uma coisa: as pessoas que nos representam na esfera da literatura e na esfera da política - deram bem nestas últimas 24 horas - um retrato de si e uma verdadeira dimensão humana, moral e espiritual daquilo que são. De certo modo, Portugal também está ali retratado, infelizmente.
Por momentos, e compulsando agora as prestações televisivas do político Soares com as declarações do escritor Zaramago pensei estar confrontado com uma narrativa estranha passada num bairro de Alfama. Em que um sujeito bebia e bebia na esperança de alcançar o sobre-humano, como nos romances duplicados de zaramago. Bebeia sem conta nem medida e depois saía e fazia estragos como um deus embriagado. Depois, ainda mais embriagado, mandava largar fogo a todo o bairro. E assim fazia as suas incursões aos sábados à noite, organizando concursos e mais concursos, para ver quem bebia mais, premiando no final o maior bebedor com uma espécie de prémio nobel do tintol de Alfama. Excusado será dizer que o vencedor acabara por morrer, em consequência do excesso de uva líquida no figado...
Aparte esta "estória" que vale o que vale, tenho para mim que Zaramago vive de facto de um sentimento que o alimenta: a vingança. Deve ter importado essa ideia de Hamlet, pois prossegue esse sentimento como se fosse uma nobre missão. Ainda estou para ver Zaramago dizer uma mensagem à humanidade que seja algo de promissor. Mas o seu mundo, a sua cosmovisão não é, de facto, essa esfera da esperança, muito menos da utopia. O mundo de Zaramago alimenta-se desse misto de pseudo-filosofia angustiante - em que equaciona agora a intermitência da morte - e a vingança mesquinha que tem a ver com actos políticos cometidos há uma década. E que desde então lhe sobrevive como um fantasma que ele rega diáriamente com vinho a martelo.
Mesmo quando aposto comigo mesmo que da próxima vez a sua mensagem de escritor nobilizado vai ser diferente, mais promissora e indicadora de esperança, acabo sempre a ter-me de pagar a aposta. Perco sempre... Pois da sua boca só saem amargas, expressões feias e rudes, envoltas numa mortalha de palavreado que mais cheira a a ajuste de contas.
Este tipo de conduta faz-me lembrar aquele sujeito que já morto no caixão discordava da cor do verniz que escolheram para o acomodar na última morada. Mau grado a comparação, é esta resiliência que Zaramago me evoca. E isto não é bom.
E tanto que eu gostava de dizer aos meus amigos, alguns estrangeiros, que o meu escritor é, desde jovem, um homem dotado, imaginativo e estruturado - e acabo por ter de dizer, na realidade, coisa bem diversa. Tenho de dizer que é um escritor médio, que utiliza a língua corrente, auns verbos, uns substantivos e uns adjectivos. Mas tudo de pobre versatilidade, repetindo temas e problemas e não premiando a narrativa com diferentes géneros linguísticos.
Gostaria de dizer que os seus livros, os livros do Nobel da literatura portuguesa, são livros inspiradores, reportagens da alma humana notáveis. Mas não posso, os factos não me autorizam.. Mesmo que quisesse mentir um pouco, só para fazer o jeito ao escritor, o Pre. A. Vieira, o Luís Vaz, o Pessoa, o Eça, o Camilo e alguns outros, poucos, ficariam aborrecidos..
Ver Zaramago em directo numa televisão, lendo-o num jornal, ou ouvindo-o pela rádio - seria suposto espelhar um sinal de sabedoria cósmica com a qual nos identificaríamos automáticamente. Era isto o que esperava de um nobel da literatura made in Portugal. Mas infelizmente, não é esse o sentimento que nutro pelo sujeito. Peço as minhas desculpas se aqui desiludo alguém. Mas não é por mal. Nem, tão pouco, pelo traço (ou traça) ideológica do escritor. Pois até há uma boa parte de mim que é comunista, no sentido cristão da palavra, bem-entendido...
Ver, ler ou ouvir Zaramago faz-me supor que nós somos para os deuses como as varejeiras para os rapazes traquinas. Eles matam-nos à paulada só para se divertirem. E há aqui uma amarga satisfação ao imaginar que os tormentos sofridos pelos seres humanos davam prazer aos deuses e que, portanto, não eram inúteis e sem finalidade. Nesta medida, a literatura do sr. zaramago não me agrada nada.
- O homem infinitesimal
Se calhar em Espanha...
- Enfim, haja Esperança...
Já agora, para quando o próximo estampanço??? Nunca como hoje a Democracia de um povo esteve tão depende da morte de um homem. E o escritor, que se diz amigo de Cuba, poderia ajudar. Não digo - passar uma rasteira, ou dar um tiro ao ditador, ou mesmo envenená-lo, mas escrever um romance denunciando as atrocidades cometidas internamente pelo regime do seu amigo Fidel. E que tal Zaramago... Vai ou não? Mas primeiro que tudo, há que comprar duas coisas: uma boa gramática e um bom diccionário. Depois a Edite Estrela dava um empurrãozinho..
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Nota prévia: agradecemos aqui ao blog de Pedro Lobo (Apara Lápis) - que teve a amabilidade de nos criticar e saíu em defesa do "mestre Zaramago". Os argumentos e a formulação do autor seguem abaixo, na íntegra. Tenho por princípio só aqui publicar as críticas que me fazem, deixando de fora as dezenas de mails que recebi concordando com o que acima escrevemos sobre o velho jornalista do Dn, amigo de Fidel e nobel da literatura e, ainda, saneador nato e prepotente de ex-colegas no Dn em contexto Verão quente.
Nota post-prévia: o autor, na sua reflexão, fala-nos da "inveja do portuguesinho"; em "escrita betinha"; refere depois que só leu um livro de Zaramago (um só.., ao menos é sincero e teve bastante coragem.. ); aprecia as sintaxes, o estilo e as formas verbais. Depois ainda, para reflectir o mainstream filosófico que está a fazer furor além-fronteiras, cita uma expressão do filósofo F. Gil, cai bem.. Enfim, para este autor que tem nome e se chama Pedro Lobo, a quem aqui damos uma forcinha bloguista, toda a minha reflexão zaramaguiana se resume à putativa "inveja" que sinto por ele - o Z. - e à "mediocridade" que as minhas palavras são, alegadamente, portadoras.
Por momentos pensei que o PL tinha saído em defesa de um Eça, de um Camilo, de um Pessoa, de um Vieira, de um Vergílio e de alguns outros, mas não, não estava!! Estava a falar de Zaramago - de quem só leu um livro.. E perante isto, digo: teve muita paciência!! Eu tentei ler uma meia dúzia e não conclui nenhum. Será isso "inveja"??... Não creio. No meu caso, julgo tratar-se de boa vontade, tenacidade até, mas não consegui concluir nenhum, confesso...
Certamente que algumas qualidades aquele escritor terá de ter, mas para ser nobilizado é preciso ser verdadeiramente excepcional. E isso ele definitivamente não é, em minha opinião. Muito menos como homem - na sua total dimensão humana, estética e moral. Além de que estavam na calha outros escritores nacionais para o Nobel da literatura, alguns deles de maior qualidade, visão, experiência e genialidade cultural, artística e literária - e foram todos passados para trás nessa feira de vaidades em que por vezes se transforma a atribuição daquele prémio. Pois nem tudo o que é vistoso, célebre, com projecção e impacto mundial e manda balanço financeiro - (dado o valor do prémio) tem, forçosamente, de ser de grande valia intelectual.
Zaramago pode ter jeito para a prosa, e tem certamente, mas isso jamais deveria ter feito dele um nobel. Depois foi o que se passou na sua relação com o país... Foi o carácter dele que emergiu e mostrou toda a sua esplendorsa negritude ante os portugueses. É da sua natureza.. Basta vê-lo bem, num directo qualquer, olhos nos olhos... Não emana pingo de humanidade daquela face, daquele gesto.. Tudo nele espelha uma mortalha.
Ora ninguém gosta de perder assim. Seria, mau grado a comparação, como se Rosa Mota à beira da meta fosse rasteirada por um membro da assistência só para um atleta coxo que vinha imediatamente atrás corta a meta. Como português, foi exactamente o que senti quando Z. ganhou o prémio. Preferia, de facto, que tivesse sido outro escritor português a nobilizar-se, naturalmente. "Inveja".., não creio. Realismo e sentido da justiça relativa sim, especialmente por respeito a outros escritores geniais que ficaram em stand by..
Caro PL - as sintaxes e o estilo que refere são (formalmente) importantes, mas não basta para transformar um contador de histórias mediano num nobel. É nisso que frontalmente discordo. Você, eu próprio - até podemos saber dar uns toques à bola, podemos bater bem umas bolas de ténis - mas isso não faz de nós craques do futebol ou grandes tenistas. Já agora, joga ténis??
Para mim um nobel tem forçosamente de ser um grande escritor. E este tem de ser identificado com alguém que é capaz de criar três formas principais de actividade: produção de espírito, filosofia - enquanto alimento para o espírito e zona do saber que se ocupa do ser; e história - enquanto ciência que se ocupa do suceder real - apesar da literatura - se ocupar do suceder do imaginário.
Zaramago pode ser habilidoso, pode ser um marceneiro da língua, pode tocar alguma daquelas cordas, mas não as toca a todas integradamente. Depois revela um conjunto de opiniões públicas que roçam uma banalidade gritante. Se fosse cego - e só ouvisse aquelas cogitações - sem saber quem era o sujeito - pensaria tratar-se de um sindicalista de luvas rasgadas e cara revoltada que debitava umas ofensas a tudo e a todos à saída de uma fábrica em desactivação ali para a zona do Poço Bispo...
A experiência psicológica que o autor nos dá - vertida nas obras que escreve - (mesmo sabendo que só conseguiu ler uma) é curta, e o seu significado, além de controverso, é práticamente pelagiado ou importado nas correntes literárias que há duas décadas se referiram aqueles temas que o autor hoje procura - de forma original - retratar. O suceder real nas narrativas de Z., quanto a mim, são muito medianos. E dum nobel esperamos excelência, genialidade, criação pura, significados múltiplos da realidade e o mais que nos transcende.
Zaramago só consegue mostrar uma coisa: intenção, vontade e uma tremenda arrogância pessoal e intelectual para com o seu país - que o lançou, acolheu e promoveu no mercado nacional e internacional. Z. é um escritor ingrato, um homem alterado, cheio de alteridades e de brusquidões psico-intelectuais. E daí não decorre a tal excelência previsível num Nobel da literatura. Na realidade, Z. só ganhou o Nobel porque apareceu um político que foi momentaneamente pouco hábil e lhe censurou o tal Evangelho... Da polémica Z. só teve a ganhar. Quer em notoriedade e fama, quer em guerras contra o governo - que o promoveram mercadológicamente, não importa agora se foi um governo de direita se de esquerda.. Pois, como sabe até foi o Durão quem o reconciliou com o País, comendo uns pastelinhos de bacalhau nos jardins de S. Bento.
De Z. é caso para dizer: tem muita intenção e pouco significado; tem alguma ficção, alguma história mas uma mui mediana capacidade e dimensão artística. Filosofia, ciência pouca ou nenhuma.
Então, perante todas estas insuficências - incompatíveis com o status de um nobel, o que vemos verdadeiramente nele?
Vejo alguém que aconteceu no tempo; alguém que foi declarado formalmente um nobel - mas cujo sumo os portugueses não beberam. Alguém que utiliza a linguagem medianamente e não alguém portador duma dimensão artística que deva ser comunicada à humanidade, ou ainda porque a sua experiência - de tão genial - jamais poderia ficar oculta nos mistérios dos deuses, ainda que menores..
E você, caro PL, também não é um fiel apoiante do nobel. E nunca diga a ninguém que dele só leu uma obra. Apesar de lhe gabar a coragem, "uma" obra não chega para se ter uma opinião estruturada sobre o que quer que seja. Mormente, relativamente a um nobel.
Por último, e aproveitando aqui a minha benevolência para consigo (que já percebeu que estou aqui a ter, até porque é um beginner e merece apoio) conto-lhe a seguinte história: um dia ofereceram um livro a um general, que ele rejeitou. E fê-lo com o fundamento de que já lá tinha um em casa...
Contudo, não deixa de ser curiosa (denunciadora), para não apelidar doutra forma, a maneira como este autor começa o seu comentário: "não é bem que eu seja comunista, não é bem que eu me preocupe demasiado, mas, enfim".
Confesso-lhe - que até o Zaramago merecia melhor defesa, apologia, o que quiser. Não lhe diga - que me escreveu esse comentário, senão ele vai ficar zangado consigo, e ainda me absolve a mim.. Mas foi nas fragilidades comentadas que também aqui reencontrei vantagens por desocultar. Não pelo comentário que foi feito, que é manifestamente pobre - na forma e no conteúdo (não se melindre) - mas pelo caminho de regresso que fiz ao texto inicial sobre Z. - e que, agora, de alguma maneira, foi complementado - com outras derivas da techné e da arte literárias. Já que em matéria de criação literária há que atender a dois valores fundamentais: o valor do significado - essencialmente radicado na ficção, ié, no suceder fictício das narrativas; e no valor da expressão - esta essencialmente ligada à linguagem e à forma que ela assume no texto (literário ou não).
Por isso, caro leitor, terá futuramente de precaver-se acerca do modo e da forma como inicia os seus comentários. Não vão eles, com esgar matreiro como quem desafia o dono, matar o seu autor logo nas primeiras palavras, inscritos da 1ª frase. E foi exactamente o que fez, mesmo que insconcientemente.
By the way, apreciei muito a citação que faz de W. Shakespeare no seu blog... Deste sou fã e, sempre que posso, cultor... Mas esse fia mais fino.. Sabe tanto quanto a Humanidade. Foi quem melhor conheceu a alma humana, porque os peixes, segundo creio, não têm alma... Já agora, de que côr acha que é a alma...
Em suma, não se perdeu tudo no seu comentário...
Ora aqui está um escritor que merecia ser Nobilizado, apesar de poder "morrer de inveja ou de um sentimento de anti-mediocridade" se, porventura, regressasse à terra e percebesse que um dia o Comité A. Nobel - completamente embriagado - tivesse atribuído tamanha distinção ao dito Zaramago...
Valha-nos Deus, mesmo para os agnósticos...
Mediocridade assumida.
Não é bem que eu seja comunista, não é bem que eu me preocupe demasiado, mas, enfim. O que me parece é acima de tudo o Mestre Saramago é alvo de muita inveja. Escreveu os seus livrinhos e ganhou o prémio Nobel, mérito próprio, de mais ninguém. Mas parece que o portuguesinho não consegue ser feliz, nunca, desconfio que se tivessemos o nobel da paz seria a mesma coisa, seria catalogado de qualquer coisa estranha. E este tipo de críticas vem precisamente dos que se intitulam de ser mais evoluidos, mais modernos, se entendem o que quero dizer, talvez mais betinhos, talvez.
Na minha opinião, embora apenas tenha lido uma obra, José Saramago escreve muito bem, ou seja, consegue-se, durante a leitura, encontrar o fio à meada, as sintaxes são simples e conclusivas, aplica bem as formas verbais. O que talvez aconteça, é o caso de Saramago não se deixar influenciar tanto, no estilo, pela conjuntura social, tendo assim um estilo muito próprio. É talvez isso que faz com que a crítica o cruxifique. Não escreve à betinho, nem se limita a interpretações terrenas do que vê à sua volta. É original, faz pensar. E é sempre por aí que a crítica ataca, dizendo que é arrogante, que vive à sombra da bananeira do prémio nobel, como se isso tivesse alguma influência na vida de alguém. Aliás, escreveu quatro romences desde então. A mim parece-me um critério de aproximação, esse de "dizer mal", a arrogância é uma característica muito particular e por aí, dizendo que este ou aquele é arrogante, lá se vão os mediocres aproximando. Identificam-se totalmente com a "não inscrição" e a "invejazinha" de vão de escada. " Ai, o Saramago escreve com muitas vírgulas", "ai, o Saramago é arrogante". O que mais me estimula o humor, é que se cria o cenário perfeito para que o autor se ria desalmadamente lá do sítio onde vive. Tem um prémio Nobel da literatura e esse ninguém lho tira. Pronto.
''Não sou pessimista. O mundo é que é péssimo. Como podemos ser otimistas diante de um planeta onde as pessoas vivem tão mal, a natureza está sendo destruída e o império dominante é o do dinheiro?'' - José Saramago, em entrevista.
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S(z)aramago
Caro Rui Paula de Matos,
Foi com enorme agrado que li o seu comentário à minha reacção ao seu comentário sobre o escritor José Saramago. Principalmente porque foi sincero, qualidade rara nos nossos dias de hoje. De facto sou um iniciático, tanto pela idade como pelo início nas minhas lides editoriais, que, pensando bem, ainda nem sequer começaram. Mas, sobretudo, a sinceridade, esta qualidade dava um bom tema para um ensaio. No entanto, tenho a certeza de que serei sempre um iniciático, no dia em que deixar de ser morro, perco o meu charco que é mais rico do que a água cristalina, nessa não se passa nada.
Já não concordo com facto de afirmar que foi benevolente comigo, não entendo o sentido dessa afirmação, em que se presume juiz do que quer que seja. Parece difícil, e por vezes traiçoeiro, sermos os juízes dos comentários dos outros.
Muito provavelmente tem razão quando diz que eu devia ter vergonha em afirmar que apenas li uma obra de Saramago, se quer saber ainda mais, nem me lembro do título, nada, apenas que gostei, li-a como alternativa, como fuga aos serões televisivos mexicanos numa casa de emigrantes portugueses em Yonkers, Nova Yorque, onde passei uma temporada no ano da graça de dois mil. A passear por lá. Apenas. O teor do meu comentário é por isso diverso do ódio de estimação que o Rui parece nutrir pelo autor, dá a sensação de excelência, e é esse tipo de atitude que desaprovo. Simples. Em relação à citação por mim feita, do autor José Gil, parece-me evidente que tenha deixado claro algo que nunca escondi, sou um ignorante, total ignorante nos campos da filosofia, no entanto interessado. Faço apenas uma observação, desde que me iniciei na publicação e análise da blogsfera, reparei que existem pessoas de todos os tipos de natureza cultural, o que me deixou muito desiludido foi a notificação da existência de uma atitude de presunção infantil em relação ao conhecimento, paralelo, sempre, à sabedoria, que tem mais que se lhe diga e não se presume, quando digo paralelo faço alusão a duas linhas que nunca se cruzam, bem, estas talvez se cruzem, veja-se melhor e sempre acontece aqui e acolá.
A moral da história, é que entrei em defesa daquilo que acho justo, apenas isso.
Em relação ao prémio Nobel e aos critérios da sua atribuição, acaso poderíamos dizer que um génio literário pode ser inculto e ignorante? Que se pode consagrar apenas por ter publicado uma ou duas obras que, devido ao impacto que traduzem na originalidade e na forma, se tomem de um significado nunca antes pensado. Ou, pela mesma ordem de ideias, despreza a poesia popular? Ou a sabedoria popular?
Para finalizar, e porque não tenho muito mais tempo, agradeço a sua atenção, embora não o conheça, admiro-o pela sua atitude cavalheiresca, pelo facto de ter sido sincero e também por me citar na sua lista de referências, não posso deixar de considerar essa postura como uma honra, revela abertura e humildade, qualidades que tanta falta fazem no meio social de hoje. Posso dizer que encaro um certo tipo de missão contra a mediocridade, fui de encontro ao seu ódio de estimação, infelicidade minha, não fosse eu ter tanto respeito por quem escreve.
P.S - É pena que não sejam permitidos os comentários no seu “blogue”. Aceito o desafio para uma partida de ténis se assim entender, pode ser que a troca de bolas, no sentido objectivo do termo, seja reciprocamente proveitosa, aliás, tenho a certeza que sim.
Deixo-lhe o meu mail pessoal para algum eventual contacto no caso de querer formalizar o convite. p.b.lobo@netcabo.pt
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Caro Pedro Lobo,
Registei a sua resposta. Em face dos dados, objectivamente, foi a opinião mais sensata. Porque quer você queira quer não - passamos a vida a avaliar-mo-nos uns aos outros. Podemos jurar o contrário, até evocando os 10 mandamentos do profeta Moisés, mas os nossos mecanismos psicológicos (e até fisiológicos) acabam por comandar a nossa (des)razão de depois zás... O nosso amigo Weber - que foi um dos maiores sociológos da modernidade - e que você deve tratar por "tu" - também dizia que não há ciência que seja completamente neutra: qualquer juízo, qualquer razão, qualquer certeza deste mundo - da ordem natural da física, da química ou dos fenómenos sociais (lato senso) - se respaldam nesse princípio da inesistência de juízos e de valores axiológicamente/valorativamente neutros ou neutrais. Mas por vezes podem ser neutralizantes...
Por exemplo, sempre que tentei ler Zaramago sentia-me intoxicado, pensei até que as minhas funções neuronais íam parar, socumbir.. E depois verifiquei que sempre que parava de ler (ou tentar ler) o sujeito e começava a ler uma obra de jeito regressava ao normal. Percebi que era do autor. Muitos outros amigos e conhecidos disseram-me sentir exactamente o mesmo. É claro que não me refiro aqui àquela franja de rapazes dos 60 anos para cima, filiados no PCP, ex-operários da Lisnave e da Set-Nave, ex-quadros da CGTP-In, agricultores por contra doutrém e muitos outros pescadores que, nas horas vagas, buscam no escritor a inspiração para se aventurarem ao mar no day after..
Toda esta "estória" para quê??? Há dias, talvez há uns 8/9 anos, passeava-me pela Feira do Livro - no Parque Eduardo VII - que à noite é - hoje - visitada e frequentada por alguma da nossa classe política que lá vai em busca de outro tipo de cultura e de sensações (que não vêm nas antologias) - e, quando dei por mim - tinha o "mestre" (como você lhe chama) Zaramago (chamo-lhe eu) a meu lado. Descendo uma das duas avenidas livreiras - mesmo "paralelamente" ao meu trajecto. E, sem querer, ouvi o sujeito falando com dois ou três jovens - na casa dos vinte e poucos anos - duma tal forma que me afligiu sobremaneira.
Não posso - nem quero - hoje referir precisamente o que o sujeito Z. disse, e nos modos em que o fez. Mas aquele exibicionismo era doentio, e achei aquilo duma expressividade dantesca, nem nunca vi daquilo na Av. do Brasil: o homem vociferava raiva por todos os poros da pele. Se é que ele tem pele, pois parece que todo ele é esqueleto. Um dos jovens até teve de se afastar para ouvir o sujeito a vociferar com as suas culturalidades imensas e medonhas...
Aquela memória factual, de facto, ficou-me retida. Ainda o sujeito não sonhava - que sonhava - que, um dia, esse sonho lhe bateria à porta. Se é que ele algum dia sonhou com alguma coisa... Veja as posições do sujeito relativamente a Cuba... De então para cá, constato que a criatura não mudou nada: nos modos, nos termos e em mais uns etc. Aliás, até se agravou, pois a idade também não ajuda.
Entretanto, o sujeito nobilizou-se e, hoje, pode dar-se ao luxo de ser ainda mais arrogante e ingrato para o seu País - porque o status cultural que granjeou lhe o permite. Mas, ainda assim, eu penso o que penso do sujeito. Mesmo depois de ele se ter nobilizado. Talvez seja isto que tenha querido enfatizar ao elogiar-me o valor da "sinceridade"..., presumo. De facto, é um valor em vias de extinção. Nos negócios nunca existiu, na política também não - e como as relações inter-pessoais se degradaram exponencialmente na última década - é de admitir que esse valor de que fala - e que eu pratico nos meus escritos - é ainda um cristal cada vez mais raro. Mas a cultura - em sentido alargado - também passa por aí, por essa porta cada vez mais estreita na estrada de Damasco...
Z. como escritor - é um escritor mediano; como homem, como ser moral, como um elemento estético-literário da nossa cultura - para mim não vale nada. Lamento dizê-lo - mas é exactamente o que penso. E daqui não decorre nenhum "ódio de estimação", creia. Decorre duma análise integrada, completa, sistémica ou holísitica - como agora se diz - que faço do sujeito. Cada macaco no seu galho, e o Z. jamais deveria ter ocupado o galho maior da árvore, é simples.
Eu próprio - que sou um sujeito médio, com uma cultura média e interesses gerais - considero escrever muito melhor do que ele. Sinto que cada parágrafo meu vale mais do que páginas inteiras do Z. Se quiser ver nisto "mediocridade", "inveja" , "não inscrição" e o mais - será livre de o fazer. Mas é nisto em que acredito. Mormente, quando comparo Z. a Vergílio, Agustina, LObo Antunes - então aí - é a perder de vista... Z. eclode. Mas as coisa são como são, e a criatura lá ganhou o pémio de mudou-se para Espanha... Até nestes pequenos gestos, o tipo não tem categoria nenhuma.
É um sujeito ressabiado, invejoso, medíocre e até mui conflituoso e truculento para com os seus pares de ofício. Portanto, meu caro Pedro Lobo, autor do blog Apara Lápis - as suas palavras estão completamente deslocadas na minha pessoa, foram até algo precipitadas, mas aplicam-se admiravelmente ao Zaramago: esse escrtior mediano a quem você chamou de "mestre", e de quem leu um livro como alternativa quando estava abroad - e de que até já nem se lembra do títuulo... Se é que algum título podemos reter dos demais livros do autor. Neste sentido, trata-se dum escritor com uma capacidade de criação de títulos verdadeiramente "não inscrita", pois só nos lembramos de fragmentos desses mesmos títulos... Seria como se tivésemos de definir - numa prova hípica - as partes de um cavalo de trás para a frente.
Isto diz tudo, ou "quase" tudo... E é na folga do "quase" que o tipo teve sorte e ganhou o prémio.. Foi sorte, como amanhã lhe poderá sair o euromilhões ou o totoloto, também será sorte... E espero que saía.., Só espero é que você não fundamente esse factor de sorte dando uma conferência de imprensa dizendo que acertou dos números porque é um excelente matemático e que já vinha treinando há uns meses esse tirocínio. Isto é lógica pura, e a nossa sociedade não progride mais - social e espiritualmente - por ausência dessa lógica.
Eis a diferença.. Até porque se ele fosse realmente bom - você não teria lido um livro dele, teria lido todos ou quase todos os livros do tipo, não acha??!! Dou-lhe um exemplo comezinho - que se pode generalizar a todas as pessoas com common sense. Eu, por exemplo, gosto muito do Eça (muita gente gosta, aliás - o que é normal e traduz bom gosto e modernidade) -, por isso tenho quase todos os livros dele. E admito que todas as outras pessoas também contem nas suas prateleiras com essa colecção.
Ora é isto que contraria e dimui o Z. - de quem o leitor - comuna ou não - só leu uns livros, mas quais? Vai-se a ver - e quase ninguém o leu completamente. Isto deveria ser frustrante, antes demais para o próprio parteiro daquilo que escreve, neste caso o Z. Que tem, até, cara de parteiro. Devo confessar-lhe - já agora - que tudo nele me arrepia. Mas isto é só uma nota-de-pé-de-página sem valia cutural nenhuma. Vê-lo é estar a recuar antropológicamente ao tempo dos nossos primatas; vê-lo é julgar que até os programas da Odisseia sobre a vida dos primatas - representam um fio de modernidade genética. Por isso, lhe disse que achava o sujeito anti-humano. E, em certo sentido, é. Mas respeito outras opiniões, como a sua, e a dele, que o tipificam como mestre, ou mestrinho..
Quanto ao leitor - ié, aquele que aprende literatura - porque, simplesmente, lê e não porque decora títulos ou espalha os livros no chão - ou até, descuidadamente, os coloca perto da lareira ou do microondas (e acorda com eles em cinzas...) - o leitor, dizia, tem de basear o seu juízo em opiniões pessoais (embora avalizadas). É claro que isso não é condição bastante, mas também não podemos suprimir a impressão pessoal sem assim anular a nossa capacidade de apreciação literária, cultural e até do ponto de vista moral e humano. E eu jamais poderei esquecer aquelas palavras, aquela tom do Z. na FL há uns anos dissertando sobre qualquer nulidade de coisa. Antes do sujeito se nobilizar, o que confere mais autenticidade à coisa e à situação..
Talvez isto lhe responda ou justifique aquilo que chamou o meu "odio" de estimação. Creio que não é bem isso... É pior: imagine você - que tem um tipo concorrendo consigo para um emprego bem remunerado, competitivo e com muito futuro. Você intuiu que fez uma melhor prestação que o seu colega; depois recolhe indicadores de que assim foi, de facto; ainda assim - foi ele o eleito e não você, que supostamente - e pela via da meritocracia - deveria ter sido o seleccionado para aquele posto.
Ora com Z. foi exactamente isso que se passou no quadro no Prémio A. Nobel. Em Portugal, nos fins da década de 90, alguns outros escritores estavam em melhores condições para se nobilizarem. Mas Zaramago foi o eleito. E aí você diz que as minhas palavras são resultantes de duas coisas: "inveja" e "mediocridade".
Confesso que nunca me comparei a Zaramago, nem nunca competiria com ele ao que quer que fosse. Nem ao berlinde nem sequer ao peão... Simplesmente porque sou melhor que ele em tudo, o que também não é difícil, convenhamos. Por isso, o tipo não me daria luta absolutamente nenhuma, seria, nesse sentido, um "não inscrito".
Caro Pedro - convença-se duma coisa: Zaramago é, de facto, um pobre diabo a quem saíu o euromilhões cultural sob a forma de prémio nobel. Mas a mim ele não me engana. E a prosa dele tem pouca reflexividade, e a pouca que tem é decalcada doutros que já fizeram melhor. Portanto, nada em Z. é original, sumarento, produtivo, perfeito, acabado.
Faça um teste: arme-se em estróina e compre um ou dois livros do sujeito; depois invista em igual número de livros do Vergílio, da Agustina, do Lobo Antunes já para não falar dos velhos clássicos nacionais ou outras referências internacionais.. Perca 5 dias a lê-los, e depois responda ou critique os meus blogs... Não veja aqui qualquer ponta de arrogância, veja tão-só um pequeno desafio que lhe faço. E se não quiser gastar dinheiro nos livros do zaramago, porque de facto aquilo não vale nem uma sopa quente ali na estalagem dos Anjos - requisite-os numa qualquer biblioteca pública - e veja a difrenças... Talvez possa perceber a razão pela qual disse que o Comité Nobel estava embriagado...
Depois, o tipo tem a lata de ir para o Dn - donde saneou colegas seus jornalistas - dizer: "eu nunca escrevi um livro mau". E eu pergunto-me: então, o que é este cromo tem feito toda a vida?! Ou melhor, onde está escrito esse livro excepcional da sua autoria??!!.. O Evangelho, A Cegueira..., por favor... não gozem comigo, senão lá terei de recorrer ao Prozac e voltar a cair da cadeira!!
É óbvio que lhe poderia ter respondio em duas ou três frases e, assim, teria morto o assunto que o levou a confundir as suas injustas e deslocadas palavras à minha pessoa. Mas respeito a sua opinião e a sua postura. Ou melhor, mais do que respeitar, compreendo-a humanamente.
Mas entendi que não deveria ser (verbalmente) agressivo (mesmo que indirectamente) para consigo (você não é, certamente, o Z.), ou pelo menos, utilizar as suas expressões - que são, como já lhe provei, completamente infundadas e, por isso, injustas no que me toca.
Espero, agora, que não leia esta minha adenda como um exercício de "inscrição" ou de não inscrição... Mas até neste caso - do nosso amigo Gil - que andou uma vida a estudar, a pensar, a escrever - e foi preciso ter escrito um livro que nos fala daquilo que sabemos ser e somos há séculos - para ser vangloriado, citado, contratado e o mais. Veja a hipocrisia do nosso sistema cultural, que ora promove ora oculta as pessoas no baú desta (verdadeira) mediocridade. Aqui, sim, já se pode utilizar a "sua expressão" de forma apropriada.
Mas tudo isto decorre de um pano de fundo, ié, de uma razão que a razão desconhece. Mas não no meu caso. Não por ser superior a ninguém, mas talvez por ser ou estar mais atento. Passo a explicar porque creio, convictamente, que o escritor Zarmago é, de facto, um escritor não direi medíocre - porque estaria a ser injusto e até faccioso. Depois, a sua "não inscrição" até me poderia acusar de ser um pseudo-intelectual anti-comunista, ou que coisa parecida - que me deixaria exactamente imune.
Mas é um escritor tipicamente mediano. E um Nobel - como sabe - tem de ser um escritor muito acima da média. Doutro modo até eu - melhor que o Z. poderia ser um nobilizado, o que não deixaria de representar outro exagero, desta feita em versão bem humorada.
Mas, como dizia, isto supõe saber o que é - ou deverá ser - um bom romancista nos nossos tempos. Tempos de incerteza e de grandes perplexidades - adensadas com o que se passa na esfera da economia mundial e que se reflecte (negativamente) no plano das dinâmicas e da evolução das trajectórias sociais - que tardam em fazer o take-of. Especialmente, na nossa pobre e desnorteada Europa - a ajuizar pelos recentes acontecimentos que ocorrem no sul de França - e que podem generalizar-se, num ápice, a outros pontos da Europa.
E nós fazemos parte dessa Europa, e também somos um país de imigração, apesar de no passado recente termos sido um país de emigração, que fez com que os brasileiros gozassem connosco e passassem a contar muitas anedotas sobre a nossa pequenez mental.. Enfim, a história tem destas coisas, "ora ganhas tu, ora ganho eu" - e, pelo meio, já se vê, vegetam milhares de pessoas recalcadas que um dia resolvem falar com uns amigos em iguais condições socio-económicas, e começam um jogo perigoso: o jogo dos incêndios - numa espécie de guerrilha urbana... a que as autoridades não conseguem deter com eficácia e com riscos mínimos ou controlados.
Sublinho que ainda ontem na Pontinha - perto de Benfica e na fronteira da Amadora - duas viaturas foram incendiadas, sendo que as autoridades - pela via das dúvidas - mandaram investigar a coisa e meteram a PJ no caso. É só uma alerta com carácter de dúvida.. Mas isto, óbviamente, nada tem a ver com a mediocridade literária e/ou cultural do mestrinho Z.
Isto remete para o caldo de cultura da nossa querida Europa - que nos está a conduzir para o precipício. Mas isto não responde à magna quaestio que aqui nos juntou -: que é a de saber quem é esse (o romancista - agora em abstracto) tal artista? Ou até - que papel deverá ter o romance na modernidade? Dado que estamos a falar, maioritáriamente de romances e de romancistas, embora - no caso de Z. eu ainda não saiba bem como o enquadrar neste domínio estético-literário.
Antes demais o que é o romance? Para mim é uma espécie de árbitro, um mediador social entre a realidade e a arte do possível. Deve, por outro lado, ser um veículo de entendimento humano e de aproximação entre os homens, mesmo que diferentes. Deve ainda ser um dispositivo de auto-análise mas que permita comunicar com o exterior, que seja uma fábrica de normas e valores, e não de dogmas sociais ou ideológicos. Deve ser, pois, um instrumento peculiar de auto-investigação, portador duma mensagem forte para o mundo, e não um colete de vaidades para ajustes de contas com o passado ou um púlpito para atacar políticos filiados noutras pontas do sistema político-ideológico. O romancista, quanto a mim, só poderá ser esse um artista superior se gozar (no bom sentido) dessa influência moral poderosa, contagiante para a humanidade, e não apenas para uma seita de comunistas na casa dos 70 anos. Um romancista deverá ser alguém capaz de iluminar um caminho, uma tendência, revelar um pensamento nunca antes exposto, trazer um significado diferente ao mundo de modo a libertar as pessoas de certas amarras mentais, políticas e ideológicas.
É claro que quando se tenta rever o mestrinho Z. nesta paleta de virtudes e de dimensões só podemos dar uma valente gargalhada e cair da cadeira, novamente e ficar com muitas nódoas negras. Z. é, apenas, uma sombra dele próprio. É anti-humano, e depois recorre à Bíblia para ilustrar certos raciocínios e pontos de vista expostos nos seus livrinhos. Recorre à Bíblia que passou a vida a criticar, a denegar... É um contra-senso gritante. E não no plano religioso, pois aí sou o mais laico possível. É gritante é em termos intelectuais, embora eu já não me surpreenda com o que emana ou são os sub-produtos culturais do mestrinho Z., um sub-género de qualquer coisa que não existe - senão na sua cabeça.
Sem este enquadramento a minha resposta não ficaria completa, daí mais uns minutos de paciência para compreender o que lhe queria transmitir.
Contudo, Zaramago não merece esta discussão. Só de pensar que o tempo que já gastei nele poderia ter feito mais um ou dois blogs fico com uma depressão que quase me conduz ao frasco do Prozac... Mas confesso que não o fiz por ele. Em parte foi para lhe responder, resgistar a sua humildade (e outra coisa também não esperaria, confesso) e, em 3º lugar, mostrar quão deslocadas e injustas foram as suas palvras ou expressões - que se aplicam admiravelmente bem ao seu escritor - de quem diz só ter lido esse tal livro que não tem nome. Como, aliás, todos os outros do mesmo autor, além do marketing de tudo aquilo que é verdadeiramente pobre para não dizer medíocre e intrépido.
E você que é um marketeer, presumo, já se deve ter dado conta daquela tibieza comunicacional que até aos cegos melindra. Se puder, ajude-o..
Best
Friendly
RPM
PS: quanto ao ténis sou um beginner de 5 meses, mas já sei pegar na raquete e também já conclui que a bola é redonda e rola tanto mais veloz quanta fôr a força que lhe dermos. Mas agora - veja lá... - não me apareça no Jamor com a cabeça do Z. a servir de troféu, porque assim posso virar um R. Federer e bater uma bola a 215 klm..., Caramba, que exagero..!!!
- Um amigo um dia tentou perceber o que as pessoas viam de especial no escritor, e terminou a dúvida com um telefonema...
- ... Nesse telefonema, ele só me disse duas coisas, após (tentativa) de leitura dos tais livros inomináveis: Prozac e Alka-Seltzer.
- Eu concordei e até o reconfortei. Pois não há pior coisa no mundo do que buscar uma mina d'ouro e sair da gruta com a cara toda mascarrada e o resto do corpo coberto de lamas.. Ficamos entorpecidos
- Vai 1 Alka-Seltzer, ou será que a coisa só já lá vai vai com Prozac...
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