quarta-feira

O factor detonador da Política portuguesa

  • A vida tem, cada vez mais, arquitecturas estranhas. Formas políticas de geometria muito variável. Estas formas representam um factor detonador da política portuguesa. Vivemos um processo revolucionário - não por causa da idade avançada do dr. Soares e da sua total perda de tino político - mas decorrente da incapacidade de defesa de um regime saudável...
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... Mas, na realidade, o que determina o sucesso ou o fracasso da "revolução" é a capacidade desses novos agentes políticos revolucionários organizarem a vontade e o poder dos ressentidos. Seja com a ordem existente, seja com a ordem futura, na construção da nova sociedade. De modo a fazer deles as forças de apoio e as molas propulsoras da nova ordem. E Soares, por mais afecto e popularidade que tenha na sociedade portuguesa, é um "animal político" cansado, previsível, confuso, vítima da sua própria sombra, ou seja, sem autoridade (interior e exterior) capaz de limitar as fronteiras aceites por todos. Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Quem já não se lembra de Soares no seu 2º mandato - gerindo a seu belo prazer as Presidências Abertas - por esse Portugal profundo - enxovalhando agentes da GNR a partir das janelas do seu autocarro... É vidente, mormente por razões históricas e pessoais, que um homem assim, jamais poderá respeitar e fazer respeitar a ordem junto dessas instituições que zelam pela segurança interna do Estado. E assim, com Soares em Belém, o clima de desordem e de concórdia e paz civil estaria comprometido em situações de conflito latente ou aberto. Também aqui o passado anti-fascista de Soares em lugar de ajudar só perturba. Esse ciclo do império e da luta contra um regime fascista ditatodiral, de que a maior parte dos jovens só sabe através de documentário - já lá vai. É um tempo, diria, que hoje já não engrena bem com os desafios resultantes da globalização competitiva. Soares já não é deste tempo.
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... O tipo de racionalidade que está em acção para vencer os desafios do futuro são do tipo prospectivo e de tipo integrador; Soares é um homem do passado, já muito antigo, repleto de múltiplas camadas de nostálgia e incapaz de adaptar-se à alteração estabelecida e com as transformações globais em curso na economia, na tecnologia, na política e na sociedade. Fazer discursos fundacionais sobre a génese da modernidade não basta.
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  • Soares é manifestamente incapaz de concretizar a transformação necessária e desejada. Cavaco talvez esteja em melhores condições para abrir um novo contexto, imprimir uma nova dinâmica às circunstâncias que tolhem Portugal e o impedem de se desenvolver. Justamente, porque é portador de uma racionalidade mais sólida, que permite não apenas um regresso à ordem, à autoridade do Estado, à reposição da lei em inúmeros sectores e domínios. Será, porventura. esse retorno aos valores, princípios e normas que reencaminharão Portugal para uma nova ordem do simbólico, capaz de restabelecer uma nova energia nacional, agora num quadro de racionalidade económica, política e cultural. Onde cada sujeito, cada elo da roda pode passar a formar individualmente uma visão aproximada do que são as consequênciasdas das acções e dos objectivos de cada elemento dessa complexa engrenagem que se chama Portugal. E que vai - doravante - participar num novo contexto de mudança social e política. Pelo facto de os apoiantes, amigos e mandatários de Soares não o avisarem desta novel condição - julgamos estarem todos a caminhar para um pequeno suícido colectivo - de que o doutor Vital Moreira deu prova bastante no outro dia no programa Prós & Contras. Como? Ocultando a verdade. Escondendo os ângulos mortes da política portuguesa. Escondendo a indeterminação e a indecibilidade que existem hoje na economia e na sociedade portuguesa. Fazendo da circularidade depressiva do contexto político do dr. Soares uma narrativa de esperança e de futuro quando, de facto, ele é faz paarte duma engrenagem antiga que persiste em sucessivas manifestações conjunturais de crise institucional, gerando perplexidade na sociedade.
  • Ora do que Portugal precisa neste momento é o exacto contrário: alguém que rompa com essa circularidade depressiva alimentada pela persistência dos já velhos e conhecidos factores de crise e de indecisão estratégica que bloqueiam Portugal na incerteza do futuro. Talvez por isso, quando Soares (e os seus apoiantes) olham para o sistema político só vêm constrangimentos; - Cavaco, ao invés, pode ver recursos e oportunidades que podem ser potenciados, fazendo crescer no imaginário da sociedade portuguesa uma dinâmica de crescimento e de desenvolvimento que já não conhecemos há uma década. Ora, dos amigos do candidato Soares - espera-se, no mínimo, verdade, e não ilusão, dissimulação e ocultação das condições políticas actuais. É, pois, esse indeterminismo que gera em Soares um efeito perverso no perspectivismo como ele hoje encara Portugal.
  • E essa distorção de Soares, juntamente de todos quantos o acompanham, alguns de boa fé certamente, decorre não apenas de uma característica da sua personalidade, mas também, e sobretudo, resulta de uma impossibilidade de articular as promessas de retorno a um tipo de equilíbrio do passado com as realidades da actual (com)pressão competitiva, ié, da mobilidade dos recursos e da deslocalização de todas as actividades que têm, directa ou indirectamente, um efeito económico, social e política no interior da vida das sociedades. No limite, o dr. Soares não pode fazer mais do que isto: apresentar promessas genéricas que geram a evidência da incapacidade prática da sua realização. Contudo, essas promessas não podem deixar de ser feitas, nesses precisos termos (genéricos), por candidatos ao poder político que permanecem nas configurações do passado e que agora pretendem - como faz o incansável impagável Soares - agradar a todos os eleitores, mesmo aqueles que estão localizados ideológicamte nesses referenciais ideológicos, aqueles em função quais também estabeleceram o seu sistema de expectativas que agora Soares jamais poderá satisfazer em Belém.
  • No sentido oposto, emerge Cavaco: com carisma, com força, com energia, com capital político mobilizador e com um domínio cabal de todas as variáveis de poder que comandam as actuais circunstâncias. Cavaco tem hoje gente a mais a querer ajudá-lo, e ele não precisa de ajuda (práticamente) nenhuma. É um candidato que vive política em regime de autarcia. Basta-se a si próprio e ao sistema político que alimenta e retroalimenta. Basta não cometer erros de campanha e terá o Portugal profundo a seus pés. Cavaco reencarna, portanto, no ramo desse sistema de possibilidades que se desenvolve a partir da actual capacidade de decisão estratégica, que implicará a reabilitação da racionalidade política (e instrumental) perdida pelos velhos actores da política portuguesa. Nesse sentido, ele apresenta vantagem em não ser um "profissional" da política, no sentido de que se apartou dela durante anos a fio, nem utiliza o método conspirativo para fazer política - pura ou aplicada, como sempre fez Soares ao longo de toda a sua vida. Apesar de considerar essa discussão (de ser ou não "profissional" da política) uma manifestação evidente de falta de ideias para atacar Cavaco, e tem, obviamente, um desgaste acrescido na campanha de Soares - caso os sábios conselheiros não o avisem a tempo...
  • Em síntese: a razão pela qual o dr. Soares não tem um único amigo nesta campanha decorre dessa circunstância: ninguém quer falar verdade com ele, deixando-o entregue à sua sorte. Uma sorte que jamais lhe permitirá dispôr da capacidade de interpretar verdadeiramente as expectativas racionais dos eleitorados, supondo que existe uma racionalidade comum a todos os participantes das relações sociais. Soares é o homem do mapa, mas já não tem os instrumentos de navegação que o permitem ler à luz das novas condições de navegabilidade. Ele tem vontade, mostra coragem - mas a racionalidade implícita no mapa só se deixa interpretar através de novas chaves - que ele não tem.
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  • O portador dessas novas chaves é Cavaco Silva. Será ele quem dominará quase em absoluto o instrumento regulador da actual desordem política. Será ele, e mais ninguém, que diz como será fixado o eixo estruturante da nova relação de forças que irá desenhar as novas possibilidades futuras de modernização e desenvolvimento humano. Pelo menos, será dele que são esperadas as novas linhas e trajectórias de equilíbrio e o que é necessário fazer para corrigir os desvios a essa mesma trajectória de modernização social e desenvolvimento político.
  • Cavaco conseguirá fazer tudo isso sem práticamente precisar de amigos. No entanto, não precisando de nenhum, milhares se lhe oferecem gratuitamente. Soares, ao invés, anda acompanhado, mas não tem um único amigo. Pois ninguém lhe fala verdade, ninguém lhe revela o segredo do vazio que só está oculto porque o visado não quer ver esse vazio, essa zona política escura. Soares anda acompanhado, mas não tem cumplicidade com os portugueses que já passaram a crer noutros segredos. É pena que pessoas esclarecidas como Vital Moreira - e muitos outros, não sejam seus amigos, aconselhando-o com razão, prudência e sabedoria.
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  • Por isso, digo aqui que não obstante alguns acompanhantes, alguns companhons de route, Soares segue empurrado por um vento que não sabe donde sopra. Reflecte já o movimento duma multidão solitária, anárquica, desordenada - em que as vedetas são os múltiplos "Vitais Moreiras" que integram a sua campanha. E que também por essa acção mediática esvaziam ainda mais os já mui pobres recursos de Soares. Não entender isto revela incapacidade para compreender o A-B-C da política caseira. Revela incerteza, incompreensão pelo risco, cegueira perante os desafios estratégicos que Portugal tem diante de si. Soares tem um mapa já velho. Apesar das imagens e do papel ainda não estarme completamente destruídos, as distâncias, as realidades para que aquele mapa político aponta - já não tem correspondência com a realidade. Pelo que as trajectórias que Soares faz do mapa político nacional já não atendem às verdadeiras linhas e trajectórias que as circunstâncias novas impõem à geografia política do nosso tempo na sociedade mundial e europeia - da qual dependemos fortemente. O imaginário do dr. Soares, e muitos dos seus apoiantes, ficou ancorado noutro tempo e noutras margens da história. Daí a crise fundamental que atravessa toda a opção política de Soares, inquinada ab initio, e já não é contida nem dominada pelas suas já velhas e desajustas racionalizações para que reporta o seu imaginário e a ordem do simbólico que ele automáticamente recria.
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  • É por estas razões que Soares irá perder as eleições, mas mais: Soares perderá também a glória. Sairá da história maltratado. Em lugar de muitas páginas nos compêndios de História a haver terá, porventura, apenas umas notas introdutórias. E com ela muito do registo mental que muitos portugueses tinham desse passado fundacional (da democracia, não confundir com subsídios para Fundações e património familiar e/ou pessoal), tenderá a diluir-se nas brumas da memória. E nessa base está justamente a ausência de um só amigo que lhe conte a verdade. E a verdade consubstancia-se em três coisas simples - que Soares manifestamente (já) não dispõe:
1) O comando do sistema de expectativas do eleitorado 2) Não tem poder para organizar as dinâmicas dos ressentidos 3) E não dispõe da capacidade de leitura estratégica para interpretar a globalização competitiva e moldar o rumo da mudança em prol dos superiores interesses nacionais de Portugal.
  • Soares perderá porque ninguém é sincero com ele e lhe mostra esta verdade comezinha. Todos que o acompanham revelam, nascísicamente, essa ocultação. E o que vi no outro dia no Prós & Contras - foi uma exuberante manifestação desse narcisismo mediático, o qual está fragmentado pelas imensas estrelas descendentes da sua candidatura. Aqui ainda existe algum movimento, embora a energia não tenha a intensidade suficiente para produzir potência política e gerar a transformação das circunstâncias sociais e económicas que hoje Portugal exige.
  • E sem essa potência política, de vocação transformadora, a economia não funciona e as sociedades desorganizam-se. Enfim, eis o laxismo e o marasmo em que vegetamos há quase uma década... Com um modelo de desenvolvimento alicerçado no consumo privado que ainda nos arruina mais forte e rápidamente. Também aqui vemos um ruinoso legado da gestão política de Gueterres (que fugiu literalmente do Poder, iniciando uma vaga de escapismo político e de irresponsabilidade sem precedentes na história política do País) que propiciou essas condições macro-consumistas na sociedade portuguesa, embora alguma dessa dinâmica crítica já pudesse vir de trás, da parte menos produtiva do cavaquismo.
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  • Todavia, isso é passado. E é hoje Cavaco quem detém a chave desta máquina do tempo. É ele que sabe o segredo do cofre. Uma combinação de futuro. Um poder que levou uma década a consolidar e a estabilizar. Agora tem reta para correr. Será que ainda consegue fazer 100 m. em 8 ss?
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