domingo

Dr. Freud - o canário mais "inteligente" do mundo...

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Hoje, Domingo, é um dia apropriado pela falar no Dr. Freud, o canário mais talentoso do mundo. Trata-se dum animal verdadeiramente excepcional, pois consegue falar 8 línguas na perfeição, como o engº Guterres. Consegue antecipar o estado do tempo, tem uma cultura enciclopédica considerável e dá uns toques na teoria da globalização. Embora, quando está chateado diz que a teoria tem outro nome e responde pela teoria da conspiração. É um animal tão talentoso que até já sabe que Soares vai perder as eleições para para Cavaco. Bom, mas para acertar nesta profecia de alcova - basta um qualquer ratito de esquina..., não é necessário recorrer ao dr. Freud, ao meu canário que vê o mundo, antecipa tendências, marca trajectos, fixa conceitos, inova teorias e epistemes, cria cenários, meta-conceitos e o mais - através da sua janela indiscreta de Carnaxide. A janela através da qual vê o mundo e o reconstroi..
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No entanto, constatei que nos últimos tempos, desde que Sócrates tomou poder, o dr. Freud deixou de produzir teoria, ficou desanimado, angustiado, isolou-se, deixou de falar com as pessoas, nem na sua língua de origem, o canagalês austríaco. Uma lástima, era como encontrava todos os dias pela manhã o dr. Freud. Deixara mesmo de me falar. Percebi então, como seu tratador e amigo e até confidente - que o animal andava recalcado, andava com as pulsões comprimidas, o que fazia dele um animal neurosado. Ou seja, o bicho buscava o prazer para intervir sexualmente na sociedade que idealizara, mas essa busca era contrariada pelo desprazer e a rejeição que encontrara sempre em seu redor. Esta situação tornara-se numa terrível adversidade à sua vida, à sua existência. Era uma tremenda oposição ao seu ego. Por momentos desconfiei que dr. Freud tinha pulsões homossexuais, dado o recalcamento motivado pela ausência da fêmea na sua gaiola - ou até por nunca ter conhecido o pai - que o entalava num colete de forças e o apertava num conflito com ele próprio. O conflito que o ameaça da castração. Pensei que teria de dar o dr. Freud ao Bloco de Esquerda..
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Como seu dono, todos os dias via aquela castração e pensava o que poderia fazer para salvar o meu dr. Freud. Que era, além do mais, o animal que me indicava muitos livros que deveria ler, ensinava teorias, apontava caminhos de investigação que seguia sempre com prazer e depois discutia com ele aos serões os seus postulados, por entre muitas refutações e absolvições poperianas. Tinha de fazer algo pelo meu dr. Freud, sob pena de até eu próprio ver a minha produção teórica drásticamente diminuída, tamanha era já a minha dependência de conhecimento deste excepcional cientista raro. Apesar de ser uma ave rara, já me tinha antecipado a gripe das aves em Junho último - tal a sua presciência. Numa palavra: dr. Freud estava a viver o drama da realidade psíquica em que se meteu: já não tinha mais energias para continuar. A qualidade dos seus pensamentos diários e ensaios ressentira-se automáticamente. Não falava, não piava, não olhava, não comia, não dormia. Nada. Tudo nele era uma sombra do que já havia sido: um animal douto, Vital, interactivo, conceptual, racional, lógico, metafísico, contínuamente excitado em busca de leituras do mundo em que vivia. E, regra geral, acertava em tudo em quanto se metia. Era, no fundo, um animal com um instinto mais racional que conheci. Parece um paradoxo, mas não o era no caso do dr. Freud - a ave rara mais científica do mundo. Percebi, como seu dono, amigo e confidente - que só havia uma maneira de o salvar: arranjar-lhe uma fêmea com que ele se pudesse entreter e trocar experiências intelectuais, sexuais, espirituais e outras que caem fora do meu alcance. Não fazer isto era assistir à sua decadência acelerada, era testemunhar a sua morte. E isso eu não podia aceitar. Tinha de agir. Porém, estava confrontado com uma razão nacional de cariz económico, uma vez que arranjar uma fêma para o dr. Freud iria custar-me muito dinheiro. Não podia ser uma canária qualquer, jorrando cio por todos os poros, por cada pena, centenas delas... Teria de ser uma ave iluminada, esclarecida, versada em assuntos políticos, económicos, filosóficos e sociais. Versada em dinâmicas sociais e integrada plenamente nos desafios da modernidade e que soubesse tanto de direito como um douto vital. Sem esquecer o domínio das questões ambientais que mexem com o clima e a camada do azono - que acaba por influenciar a vida no planeta, claro!!!
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Só que essa contratação, a ocorrer, iria chocar com o ambiente de forte contenção orçamental que o Estado e os orçamentos familiares se tinham de confrontar. Logo, arranjar uma fêmea para o dr. Freud era uma ideia interessante mas impraticável no actual quadro de contenção orçamental que vivia. Que o país impunha a todos nós. Qual era então a solução? Ocorreu-me arranjar-lhe um sucedâneo de fêma. E a opção encontrada foi um espelho rachado que tinha. Coloquei-o na parte lateral da gaiola e, desde então, que o dr. Freud passou a ser outra ave. Recuperou todas as suas funções biológicas, neuronais e intelectuais que tinha entretanto desactivado. Voltou ao normal, e o normal era uma intensa actividade intelectual: criando conceitos e estruturas, instaurando novas bases científicas para compreender os desafios do mundo actual. Tudo fazia sempre numa base altamente seminal. Cada pio seu, cada conjectura, cada enunciado, cada formulação intelectual era depois aproveitado para qualquer coisa de importante. Mais tarde ou mais cedo lá estava um alto dignitário do Estado a repetir as palavras antes cogitadas pelo dr. Freud.
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Foi o espelho que passou a estar ligado à sua nova pulsão sexual. À reactivação da sua sexualidade, a toda a sua potência enquanto ave rara excepcionalmente talentosa. Uma espécie de "sou burro" mas em versão aviótica. Dr. Freud era, agora, um animal novo: cheio de fulgor, de acção, reacção. Tudo nele era prazer-e-desprazer - provocado por esse aumento exponencial de excitação. Tudo nele hormonava, e o cheiro dessas químicas secretas detectava-se a milhas... Pois a finalidade do espelho, ao que se apurou, era dar-lhe esse complemento sexual-intelectual a baixo custo, na impossibilidade de contratar uma fêmea à altura. Que além de cara, poderia não se ajustar ao nível de exigência intelectual e cultural exigidos pelos sofisticados padrões de saber e conhecimento do dr. Freud.
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Com o espelho por companhia - dr. Freud passou a representar cenas eróticas dentro da gaiola, tais eram os seus impulsos descontrolados - acumulados durante anos e que agora explodiam. Parecia um fugetão a debitar hormonas, teorias, conhecimento e, naturalmente, alguns erros de percepção com algumas falhas de memória à mistura. Em todo o caso, era melhor que o Marcelo. Três ensaios por dia, com 90 páginas cada; 5 entrevistas para os media; 150 correcções de provas matinais; três pareceres para multinacionais que pagavam a peso de ouro - na medida em que o dr. Freud também era jurisconsulto. Tudo nele era, doravante, agitado, dinâmico e a gaiola tornara-se manifestamente pequena para tanta energia e acção. Só que o exibicionismo também o assaltara. As cenas eróticas (a roçar) o porno, também não faltaram - diante do espelho, logo diante da Comunidade que tudo via com olhos macroscópicos.. Dr. Freud excedeu-se, e acabou também por nos supreender negativamente, pois acabou por regressar ao seu contrário, numa estranha relação de amor-ódio, de exibicionismo-escoptofilia; de sadismo-masoquismo.
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O dr. Freud, apesar do espelho melhorara, mas já não era o mesmo. O destino descontrolado das suas pulsões fizeram dele um ser masoquista, sádico. E desde então que o seu olhar esgaziado e fixado no sexo (com o espelho a enquadrá-lo - mas que ele deve ter confundido com outra coisa qualquer...) acabava por o diminuir, agora aos olhos da opinião pública que o observara. À ascensão parecia suceder-se a queda, como a rocha Tarpeia - que era o obeslisco em Roma donde eram precipitados os traidores...
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O dr. Freud deu-me todos estes ensinamentos. Mas enquanto o ajudava não conseguia deixar de pensar na figura que alguns canastrões da nossa política à portuguesa fazem - hoje - quando se (re)candidatam a Belém. Numa vã tentativa de repetir o passado - quando sabemos que o passado quando se repete, ou melhor, quando se tenta reproduzir (em semelhantes condições) só pode conduzir a um desfecho... Coloquemos, pois, os olhos no exemplo (que depois virou contra-exemplo) no dr. Freud. O pássaro que lia o mundo a partir duma janela indiscreta. E depois, recalcado, ficou dominado pela neurose. A qual está ligada à terrível insatisfação de prazeres não satisfeitos. A um certo desprazer das pulsões da Política, diriam alguns. Tudo por ausência de um espelho... Julgo que o dr. Freud percebeu a morte a seus pés. Mas o dono resolveu ajudá-lo. O espelho serviu nessa recuperação. Só que não foi uma recuperação controlada, assistida, monitorizada. Foi uma transformação abrupta, uma subversão completa da alma e do corpo. E as esperanças na sua cura e recuperação parece terem-se convertido num excesso ridículo. À libertação desculpabilizante, desrecalcante - seguiu-se a sua (aparente) cura através do espelho que o devolveu ao mundo que esquecera. O que permitiu que o canário Freud analisasse de novo o munto, e à luz dessa matriz o transformava.. Não tanto como Marx, mas quase - dado que o dr. Freud sabia que as suas opiniões contavam na leitura dos factos que povoavam e pululavam na nossa modernidade. Mas depois dessa devolução ao mundo pelo reflexo do espelho, veio a ressaca, já que Freud não compreendera que o espelho não era uma fêmea. Ele baralhou tudo, como era seu defeito nos momentos de maior pressão e declínio neuronal. Porventura, consequência do seu envelhencimento inconformado. Dr. Freud era agora uma ave velha e revoltada, sem ter percebido a distinção entre uma imagem e a realidade, um espelho e uma fêmea, como certos candidatos que ora se apresentam a Belém num dejá-vu ridículo.. Freud era perseguido por esse fantasma, por essa ilusão torpe do passado que não o abandonara, por esse desejo erróneo de cura por recurso ao espelho - que só dava uma imagem - já muito pouco nítida do que em tempos fora. Moral da história: depois de um esforço do dono o dr. Freud revelou não compreender uma lição essencial de vida. Confundindo imagens bem sucedidas do passado com metáforas incertas de um futuro a haver. Mostrou igualmente não saber usar o espelho com moderação. Usando-o em excesso entrou no mundo do ridículo - que mata mais depressa do que qualquer morte natural. Constatei ainda - que o dr. Freud, o meu canário - estava em regime de morte acelerada. E que estas eleições presidenciais seriam a definitiva causa da sua morte. O seu estertor. Eu já mais nada podia fazer senão bater-lhe uma chapa e, assim, imortalizar esse momento de acelerada decadência por que todos nós, um dia, passamos. Com ou sem espelho... Dentro ou fora da gaiola. A gaiola da vida.
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