domingo

O essencial é a expressão... Presidenciais

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Nesta fase de contenda eleitoral presidencial o verbo volta a desempenhar uma função-rei a fim de persuadir os espíritos mais incautos e com menos cultura política, massa crítica ou, simplesmente, desinteresse pela política porque a acha uma tremenda Arte de Furtar.

As palavras são bombásticas, as promessas por vezes não têm base alguma, as esperanças sedutoras - também já não enganam ninguém. Todavia, todos estes factores influenciam nas mutações das multidões - que são, como se sabe, tudo menos racionais e mui violentas. Por isso acreditam na felicidade, nas palavras vãs dos candidatos e o mais que promete paraísos perdidos na terra e muitos ananases na lua.

Desta feita, se digladiam os defensores de Mário Soares e os proponentes de Cavaco Silva. Fizeram até blogues para apoiar cada um dos lados da barricada. E já se adivinha, numa futilidade dramaturgia de trazer por casa, muito pouco verbo e sumo, e abundantes verborreias e muita palha. Aliás, o dr. Soares já começou essa tiragem de "suketes" nas tipografias do costume. Mas, por enquanto, ficou a falar sózinho. Pois Cavaco - ainda não lhe passou "cavaco". E pior que pode suceder a quem quer desabafar é incorrer num incessante monólogo. É como irmos à missa e o Padre declarar que somos o eleito para debitar a missa - sem nunca termos lido qualquer sermão, salvo os do Vieira.. Aguardamos, por isso, pela cavacada que se segue nas tipografias a cores do costume..

Mas para combater ou anular o efeito dessas palavras de um dos lados - só há uma maneira de agir: como não se pode desatar à pancadaria sobre os adversários tem de se recorrer a outras palavras ou fórmulas mais sugestivas ainda, as quais correspondem aos anseios ou às aspirações vagas das populações que ainda acreditam nos "roles-playings" destes personagens do nosso teatro político. Soares (mais) e Cavaco (menos) - são dois homens que vêm do passado. Teria preferido que emergissem novos valores, mas o sistema político também não os gerou, e, agora, terei de apostar no mal menor: Cavaco. E nisto não qualquer ponta de contradição, como há dias um cromo aduziu já não sei onde, e com uma "fodamentação" de trazer as lágrimas à sola dos sapatos..

Mas o ponto deste blog é tentar explicar o essencial na comunicação duma campanha política. A qual, no momento próprio, procura sempre dividir a candidatura adversária e, assim, catalizar as forças ígnaras da turba que irrompem de um lado para o outro sem pingo de racionalidade.

Sucede que em alguns casos as multidões ficam à beira do conflito e da violência. E nesses casos os mestres da comunicação de cada um dos lados da compita, e é óbvio que não me reporto aqui a Fernando Lima ex-director do Dn - que até enjoa ver a segurar a popa esfíngica de Cavaco (e de mestre nada tem) - procuram diluir essa agressividade provocando o riso nas multidões. Pois sabe-se que o riso desarma quem quer que seja, até o Major Valentim Loureiro que passa a vida a oferecer porrada a toda a gente, e em directo pelas televisões, e se um dia alguém lhe puxasse as orelhas e lhe pusesse uma malagueta naquela língua viperina que ele tem, com ou sem os tamancos do dr. Marques Mendes, era bem capaz de ir imediatamente fazer queixinhas ao Palácio de Belém e de recorrer para o Tribunal das Comunidades a pretexto de ter sido esbofeteado por alguém cuja identidade se desconhece. Olhe, foi um estalo bem puxado que emergiu das multidões.. Portanto, um estalo inimputável...

Mas o ponto deste blog é o riso, e o estrondoso efeito que ele gera nas multidões - que são sempre quem decide o pêndulo das maiorias sociológicas que originam a fonte formal e substancial do novo Poder.

É o riso - e não o sr. Loureiro (não o Dias, mas o de lá de cima, pra cima de Coimbra) que apaga a fúria das populaças rebeldes e com vontade de sangue: umas defendendo Soares contra Cavaco; outras defendendo Cavaco contra Soares. O resto, é mesmo o resto - são resíduos e outros tantos sub-produtos políticos que o sistema vai gerando e o tempo conjuntural se encarrega de limpar empurrando os candidatos-franja (como Jerónimo, Louça, e em menor grau Alegre) para as margens.

Ora é neste quadro de comunicação política que não tenho qualquer dificuldade em imaginar o que Cavaco poderá fazer nos próximos tempos a fim de desmontar alguma irupção política soarista que pode decorrrer do chamado efeito de andropausa retardado de que ele é autor. É, mas não sabe. E é isto que é grave em Soares. E mais grave se torna porque revela também ausência total de amigos que lhe contem a verdade. E se lhe a escondem é por algum motivo - que julgam servir de contrapartida na exacta medida em que o apoiam.

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Bom, mas deixemos de lado toda esta circularidade fútil em que os drs. Severiano Teixeira, Vital moreira e muita outra gente boa que é apoiante de Soares. São mas se calhar não sabem que são..

Dito isto, é provável que Cavaco - a fim de desanuviar as águas e acalmar os maus fîgados de Soares - que já deve fazer péssimas digestões (um pouco como aqueles leões velhos que perdem o direito às fêmeas, ao território e à comida - e depois se vingam nas crias que encontram pelo caminho de retirada e de abandodno) - mande o seu mestre de cerimónias fazer o seguinte:

Pedir a alguém com talento do seu staff - e não vejo que o F. Lima possa desempenhar esta tarefa - que reproduza alguns dos gestos do rei de Esparta, a fim de encorajar os cavaquistas, com algum receio dos soaristas, e em face da possível eclosão de conflito, mande despir alguns dos soaristas (reféns e/ou sequestrados) pelo staff cavaquista.

E despidos os apoiantes soaristas - entretanto prisioneiros de Cavaco - agora com os corpos à vista, com a sua pele branca e de carnes moles, os cavaquistas se ponham a rir perdidamente e, assim, marchem para à frente e conquistem o campo político a Soares e aos soaristas, que, com desdém, ficam impotentes ante aquelas terríveis investidas..

Neste quadro não é difícil imaginar visualizar os drs. Severiano Teixeira e Vital Moreira com as cuequinhas numa mão e as peúgas na outra - fugindo por entre as tropas cavaquistas; mas o mesmo raciocínio também é legítimo para o outro lado da campanha, lembrando que igual sorte esperaria o engº Belmiro, o dr. Lobo Antunes e demais cavaquistas - ambos correndo com a ceroulas e a camisola interior na mão ante as ameaças e as investidas das tropas soaristas que cometeram exactamente o mesmo procedimento a fim de encorajar os seus jovens turcos a tomar o Poder em Belém.

A lógica de pensamento e de funcionamento das multidões não pode ser dirigidas meramente com ideias, com projectos e causas, mas sim com palavras que lhes vão de encontro às paixões ou que embalem e excitem as suas ambições. Daí termos supra-referido que o essencial são as "expressões".

Nesse caso, só com as mesmas "armas" será possível contê-las. O dr. Soares sabe - que nós sabemos - e o prof. Cavaco também - que a gesticulação exerce uma influência de extrema importância sobre as multidões. Estas não compreendem apenas o que os oradores dizem, mas se eles proferirem essas mesmas declarações - temperadas por gestos largos e expressivos, e muitas palavras sugestivas, todos os aclamarão. Com ou sem as ceroulas do engº Belmiro e Lobo Antunes nas mãos, com ou sem a boxers e meias rotas dos drs. Severiano e Vital Moreira ao vento... a tresandar a odores de queijo da serra na dispensa há anos..

As multidões anónimas (como diria Karl Jaspers - que nem Soares nem Cavaco ouviram falar) são assim: (sempre) teledirigidas por alguém. E esse "alguém" são os condutores de massas, que depois os media, os comícios, os panfletos, os boatos e o mais - orientam e contra-orientam na busca da melhor teatralidade até ao dia das eleições em que o povo (aparentemente) decide.

Depois há um vencedor e nasce o eleito. Aquele que vai prosseguir as representações e os graus de teatralidade - agora já em contexto de mais realidade e de menos simulacro. E assim nasce o simulacro da realidade.

Enfim, o diário dos nossos dias. Um retrato do nosso tempo. O tempo de todos os tempos. Uma imagem da eternidade que já não podemos fixar. Nem em simulacro..

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