segunda-feira

Síndrome da Respiração Aguda...

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Síndrome da Respiração Aguda ou da Roleta Russa...
Estudos recentes sobre o vírus da Síndrome Respiratória Aguda (SRA) demonstram o que já se suponha relativamente à pneumonia atípica que mata sem piedade e destrói a possibilidade de uma retoma da economia mundial. Sabe-se que é um vírus terrível, consegue resistir 4 dias em ambiente de lixo doméstico podendo propagar-se aos blocos habitacionais das famílias das grandes metrópoles de negócios e motores da economia mundial. A forma de transmissão também não se limita ao contacto directo com o infectado, mas através de um espirro ou teclado de um PC ou outro objecto, o que só dificulta a sua prevenção. Além dos dramas humanos, este surto provoca prejuízos em vários sectores, desde o turismo à aviação passando pelo comércio em geral. Mais uma vez, como em 1997, os mercados asiáticos são o palco do “sismo” obrigando os analistas a rever em baixa as perspectivas de crescimento económico. Na Ásia, com o medo do contágio, as pessoas ficam em casa e o único sector favorecido foi o de produtos sanitários (máscaras cirúrgicas e desinfectantes). A crise mostra uma forte turbulência na economia regional, afectando as exportações asiáticas. É interessante ver os dados económicos internacionais para aferir o impacto da SRA nessas sociedades do Extremo Oriente: China, Coreia do Sul, Hong Kong, Japão, Indonésia, Singapura, Tailândia, Filipinas e Vietname. Segundo o Banco Mundial, o crescimento regional não deverá ultrapassar os 5%, com todos a desacelerar. Ainda por cima, a crise chega no pior momento, quando os efeitos de recuperação da guerra ao Iraque ainda não deu sinais e o take-of da economia mundial é incerto. Imaginemos que o surto se expande além das áreas afectadas: Ásia e Canadá? O mundo pode mergulhar numa mais profunda recessão. Que efeitos terá esta epidemia na taxa de mortalidade da Ásia e do mundo em geral? E no consumo, turismo, investimento e emprego e no conjunto das actividades exportadoras? Tudo incertezas que nenhuma previsão pode contabilizar. Por isso, a SRA já é vista como a maior ameaça económica global dos últimos tempos e ficará na história ao lado da Lepra, da Peste Negra (matando ¼ da população portuguesa no séc. XIV), da Cólera, da Febre Amarela (vitimando 5 mil lisboetas em 1857), da Peste Bubónica, da Varíola e da Pneumónica (que matou mais de cem mil pessoas em Portugal e 20 milhões no mundo). Ante este turbilhão da “vingança do chinês” (que ocultou o problema no “Império do Meio”), que podem fazer os avisos da OMS? Campanhas de marketing para evitar o contágio à economia mundial!? Como a 1ª metade do séc. XX, também agora paira no mundo o pânico das mortes e êxodos industriais em substituição da ameaça do apocalipse nuclear. O que contrasta com a promessa de há um século de cientistas e médicos que apontavam um radioso futuro sanitário perante os progressos do higienismo e da revolução pasteuriana. As doenças infecciosas terão cada vez mais importância e matarão mais pessoas no mundo, especialmente a Sul. Mostrando que o planeta se tornou numa vitrine global, produzindo efeitos de boomerang com o regresso das doenças invisíveis aos países ricos, rápidos e desenvolvidos do Norte. Um terço das mortes em 2001 em todo o mundo deveu-se a doenças infecciosas graves, como a sida, a cólera, o paludismo, em particular na margem das grandes cidades onde se amontoam os migrantes, os excluídos favorecendo a incubação e a aceleração da propagação das infecções que mundializam o risco. As doenças também viajam de avião, e o risco sanitário já não depende do território onde se produziu o vírus. Provando que a difusão das doenças é agora muito mais rápida. Mercê da globalização, os vírus (e os turistas) deslocam-se à velocidade dos aviões espalhando as infecções pelos cantos do mundo. É o risco sistémico de qualquer processo de globalização que aproxima culturas e pessoas antes separadas. Só que o jogo deste cubo mágico tem uma novidade perigosa: precipita crises incontroláveis, que não são processos intencionais. Além de catastróficos e inesperados (como a volatilidade dos mercados financeiros), são também processos irreversíveis uma vez desencadeados. E o grau de destruição da 1ª globalização, sob a forma de doenças, é uma boa medida da intensidade destas crises revelando que a vida, afinal, não é uma SRA mas uma Síndrome de Roleta Russa (SRR).
  • Este texto foi escrito há quase três anos e publicado na imprensa.
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