A Vida é uma viagem - por Domingos Freire Cardoso
Estas imagens são da nossa escolha. Vemos uma estrada que não se sabe onde conduz; um quadro de Kadinski (Sul Norte); a viagem ao espelho; e mais um outro quadro que fica em narrativa aberta...
Parece-nos que o autor é um homem em movimento. Veio de algum lado e vai para algum sítio. Não o conhecemos. Mas esta sua poesia tem vida, tem mundo. Tem muito homem lá dentro. Transborda de humanidade e de humanismo. Pelo menos não nos deixa alienado como faz a magia de Harry Potter... Como será possível? Será que andamos todos anestesiados? Ou só gostamos porque é moda e vem do estrangeiro... Eu passo.
- O autor convida a leitura do seu poema... A vida é uma viagem
A vida é uma viagem
A vida é uma viagem
A minha vida é um autocarro
cheio de dúvidas passageiras
e de problemas diários e habituais
que entram nas paragens da hesitação,
da baixa auto-estima,
insegurança e falta de conhecimento.
Lá vai seguindo, engarrafado em dificuldades
e falta de soluções,
não respeitando sinais
num qualquer cruzamento
A minha vida é um carro eléctrico
com trajecto marcado no chão
em linhas rígidas e paralelas.
Saltar dos carris é uma tentação para a aventura e a ousadia
que sorriem, atrevidas,
emolduradas nas janelas.
A minha vida é um comboio do metro
correndo por baixo das dificuldades
e, como seta afiada, penetro
no coração das obscuridades.
É uma veia cada túnel, é uma artéria,
com sangue feito de electricidade,
aço furando a inerte matéria,
levando cada sonho à estação da
felicidade.
A minha vida é barco cruzando o rio,
coração motor mecânico,
unindo margens, abrindo o casario,
levando braços para um trabalho titânico.
A minha vida é táxi apressado
ceifando o tempo, vencendo o espaço,
para chegar ao avião. Ao hospital,
a um encontro amoroso, tantas vezes adiado,
ou a triste despedida fraternal
selada com derradeiro abraço.
A minha vida são meus pés,
meus sapatos, minhas pernas,
percorrendo ruas, praças, escadas,
largos, vielas e avenidas
entre prédios de fachadas modernas
ou casas onde moram, aprisionadas,
histórias que nunca serão esquecidas.
A minha vida é um viajante sem bilhete,
simples ou de ida e volta,
passe social ou título de transporte.
É uma viagem solta,
Percurso de um só sentido,
Único, exclusivo, pobrete
que só por mim pode ser vivido
até que chegue o cobrador trazendo a
morte.
A minha é viagem diária,
A horas mortas, fins de semana, horas de ponta,
sei de onde é originária
mas não sei dizer onde o seu fim se apronta.
Tenho a razão por companhia
e o bom senso é o meu guia
mas o que será esta viagem, tão fantástica
e tão apenas minha
só o saberei na última paragem,
quando o meu coração, cansado,
chegar, por fim, ao fim da linha…
• Agradeço ao autor – Domingos Freire Cardoso, por me ter permitido ler
este seu belo e fecundo poema. Que agora republicamos aqui.
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