Apresentação do livro Em busca da Globalização Feliz - por Ernâni Lopes...

O Prof. Ernâni Lopes - não precisa de introdução. Ele já é a introdução. Mas também é o corpo das ideias e a sua própria conclusão. Ele é a cabeça, o tronco e os membros. Todos conjugados. Teve a bondade de me distinguir aceitando apresentar o nosso livro - Em busca da Globalização Feliz - análise e reflexão política, Hugin, 2005. E assim foi que um homem de Estado, já senador da República, um académico brilhante, um homem de África sem deixar de ser da Europa e um atlantista, um impulsionador da lusofonia e da CPLP, uma autoridade em economia e finanças, um ex-governante, um administrador de empresas, um homem de cultura e um humanista, enfim, um Homem - um grande português - esteve ali, apresentando aquele livro.

• A Srª Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Drª Teresa Pais Zambujo, que veio da alta Administração Pública para a Política (e não o inverso - como faz a generalidade dos políticos) também me distinguiu com a sua presença e com as suas palavras de estímulo - presidindo à Sessão. Como autor estou especialmente grato a ambos, e a todos quantos me ajudaram a realizar esta ideia. Deixo agora aqui o texto de apresentação que o prof. Ernâni, já com amizade, me disponibilizou e que é uma contribuição que valoriza o entendimento que o autor faz do seu próprio trabalho. Descontando, claro está, aquilo que o autor foi "esbulhando" aos clássicos ao longo do tempo. Já que quando se olha para esta modernidade o que se aprende é tão estéril que não se deve ensinar ou transmitir. O que revela que a verdade é sempre algo em construção, uma dinâmica, um processo, e que os outros, por vezes, vêem sempre mais e melhor do que aquilo que nós próprios vemos ou fazemos. Não é por acaso que Virgílio Ferreira, que ainda cheguei a conhecer, dizia que para conhecermos a nossa própria casa temos de sair dela... Além da minha gratidão - extensiva à Hugin Editores - nas pessoas do meu querido amigo Dr. José Manuel Ferreira e Júlio Prata Sequeira - , que aqui deixo singelamente gravada, confesso que, assim - nunca me canso de me ter à minha volta...

• Eis a apresentação do livro - Em busca da Globalização Feliz - análise e reflexão política, 2005, Hugin - pelo Prof. Ernâni Rodrigues Lopes:

O livro lançado hoje é a expressão de uma busca (como aliás, consta do próprio título). Mas é uma busca múltipla, num duplo ternário, sistematizável através da distinção entre, por um lado, o posicionamento do Autor e, por outro lado, o possível campo (mais ou menos delimitado) da aplicação das suas ideias. Há uma busca, no 1º sentido, ao longo de 3 percursos interligados: o percurso da teoria aplicada à procura do que se deseja e aqui socorre-se (pág. 29) de uma citação de Hans Morgenthau, Politics Among Nations - : " a teoria tem de ser julgada não em função de um preconceito ou princípio abstracto, mas sim pela sua finalidade. Ordenando o sentido do mapa dos factos que, sem ela, continuariam desconexos e ininteligíveis". - o Autor procura, em todos os textos incluídos no livro, precisamente articular e compreender o fio subjacente dos factos. O percurso da inquietação crítica do Autor, no plano da compreensão - fica claro quando refere (pág. 31) "o analista como alguém com talento excepcional para arrumar a realidade que é cada vez mais complexa, desordenada e caótica nos nossos dias". - o Autor repetidamente exprime esta ideia de uma realidade cada vez mais complexa, desordenada e caótica - e fica-nos a dúvida sobre se essas sucessivas referências constituem um lamento ou um sinal de agudização do esforço intelectual perante o estímulo da realidade. O percurso da leitura do confronto do Homem (de sempre) com as realidades (de hoje) - e, aqui, o Autor depara-se com o problema, clássico, da compreensão e da convivência com a mudança: "todo o mundo é feito de mudança, tomando sempre novas qualidades". O que é que foi até aqui? O mesmo que há-de ser. Não há nada de novo debaixo do sol. Ninguém pode dizer " Eis, aqui está uma coisa nova", porque ela já existia nos tempos passados", Eclesiastes, 1, 9-10. No 2º ternário, encontramos, também, uma busca, neste caso referente ao possível campo de aplicação das ideias (do Autor): "desde logo, pela preocupação intelectual com a aplicabilidade da análise - a reflexão do Autor é feita, na sua própria expressão (pág. 21) - na convicção de identificar a configuração que falta, a qual permite ao homem ser livre, solidário, justo e mais feliz. É na intersecção destes valores, a haver, que invocamos a configuração emergente: a globalização feliz. Seguidamente, pela esperança na construção de uma sociedade (tida como melhor). É o que o Autor, no último texto incluído no livro, salienta: no respectivo título (pág. 276) - O regresso de Kant e a busca da globalização feliz; na sua avaliação da situação (pág. 278) que "a globalização competitiva, que define a norma e o padrão do actor mais eficiente, nos situa num tempo que obriga o homem a olhar para dentro. Num sinal de reflexividade que procura antecipar e adaptar-se às mudanças em curso em todos os domínios da vida humana". (É, de novo, a explicitação da temática, constante, da mudança".) Finalmente, (último elemento deste ternário centrado sobre a aplicação) o interesse centrado sobre Portugal. - é, para o Autor, um tema, se não permanente, pelo menos subjacente, ainda quando não explicitado; referirei, apenas, aqui e agora, 3 tópicos (que constituem outros tantos títulos de crónicas):

• Portugal e a caverna de Platão (pág. 128)

"Convém alertar os Portugueses, prisioneiros desta degração moral, que as sombras não são a realidade" (pág. 129).

• Portugal cansado (pág. 130)

A ironia amarga - ? e desiludida? - do jogo aritmético-ficcional com as estatísticas da População Activa denota, mais do que auto-flagelação mordaz, vontade de propósito e de afirmação. Mas sublinha: "Logo, só existem 2 pessoas para fazer o trabalho todo. E como o leitor amigo está sentado a ler esta "estória", tenho de estar muito ocupado. Daí o cansaço do nosso Portugal de sequeiro que navega à vista".

• O quadrilátero da cooperação: Portugal-UE-África-Brasil (pág. 218)

Estamos perante a questão estratégica fundamental para Portugal; na qual se joga o essencial do nosso futuro. O Autor compreendeu-o bem; e salienta (pág. 220) que "a arte da política externa portuguesa consiste em responder ao como, para validar (os cenários desejáveis)". "Basta que Portugal seja o enzima do quadrilátero, o supercondutor e colisor dessas bolas 4 bolhas de bilhar que têm de completar certas etapas" (...) Fazer isto é ... dar centralidade ao quadrilátero". Para terminar, apenas 2 breves reflexões finais. A 1ª, para reiterar o que já tive oportunidade de ver publicado na contra-capa do livro: (Na minha opinião) "Rui Paula de Matos demonstra... que, como académico, estuda e pensa e que, como cidadão, intervém. É bom que ainda haja quem estude, pense e intervenha de modo estruturado e consistente". A 2ª, para reter o significado (individual, certamente; mas, sobretudo, social e humano) da última frase do Autor nas últimas 2 linhas da última crónica.: "... cheguei a uma conclusão: sou um homem limitado que tem de compreender uma situação infinita...". Esta "conclusão", na sua dupla dimensão humana e filosófica, não é, própriamente, um final, um fecho; leio-a, encaro-a, antes, como um novo começo, uma nova abertura, para um novo troço, um novo segmento de uma reflexão, a uma nova luz, mais intensa e mais profunda.