As receitas do Dr. Pacheco num Portugal e numa Europa ainda rurais

• Ontem Portugal acordou pesado. Os tugas foram obrigados a comer cozido à portuguesa por causa duma ideia do Dr. José Pacheco Pereir/JPP sobre a necessidade de se reflectir a sério sobre o putativo não ao referendo à Europa. Antes dele, diga-se em abono da verdade, já dezenas de docentes da área do Direito avançaram com a ideia. Mas as estações de rádio e TV só ouvem JPP, e ficam autistas perante terceiros. Ora, sabendo isto, JPP ataca. E faz muito bem. A ideia, claro, foi-lhe creditada na íntegra e ele, humilde, aceitou. Mas daqui não decorre nada contra JPP, que é um intelectual à séria, ou seja, um intelectual que mete as mãos na massa da política e acaba sempre por fazer obra. Lembrem-se que boa parte do cavaquismo também é um legado seu. O que levará hoje Cavaco a questionar-se. A questionar-se se não valerá a pena ele - Cavaco, mais o prof. "Martelo", o Ganda Noia e mais meia dúzia deles - (com exclusão do Santana e do Alberto Jardim da Madeira - o ditador mais democrata do mundo - batendo aos pontos até o quedoso do Fidel Castro) - a lançarem a candidatura de Pacheco à Belém. Pois esta reflexão do sítio do não poderia bem lançá-lo à conquista do Palácio Rosa, ali ao lado dos pastelinhos de Belém. Era uma vertigem para os blogueiros... que viravam todos assessores de Pacheco - Presidente da República portuguesa. Claro que eu como ando pra aqui a dizer "mal" da estética do Abrupto, que mais me parece aquelas matronas que fizeram mal a transição do salazarismo para a democracia, jamais seria assessor, mas sempre poderia ficar num outro cargo subalterno, talvez na portaria a carregar no botão para levantar e descer a cancela. E enquanto não entrava nem saía gato sapato - lá me entreteria no portátil a desancar naquela amostra de blogue que é o abrupto de JPP. Mas a ideia dos outros que ele aproveitou é brilhante. Tanto que até iluminam os milhões de átomos que blogam em Portugal. É o momento de glória deles, a oportunidade para muitos gremlins virtuais saírem da toca e dizerem: eu existo! eu existo! Eu também quero ser escritor! eu também quero ser escritor como ó Pacheco!!

• Na realidade, não me oponho a que JPP se candidate a Belém, até gostaria muito de lá o ver. Pois sempre faria melhor papel que o actual locatário - que agora anda de escola em escola a falar no primado do direito comunitário sobre o ordenamento jurídico nacional. Grande novidade.. Pasmei!!! Ate parecia um palácio a olhar para um burro.. "Não é pá, vamos lá ver pá. Isto não é bem assim pá. E Vivó ó sporting. Eu não devia falar nisto pá, que eu sou o presidente, pá"... Pronto, são assim as conferências do dr. Sampaio nas escolas secundárias deste Portugal atrasado mental. É assim Sampaio quando fala de improviso e os assesores se esquecem de lhes escrever o discurso. É assim e pronto. Na versão post-moderna diz-se "pronto(s).. Para cobrir as situações mais plurais..

• O que me espanta é verificar ainda o estádio de ruralidade e paroquialidade mental e cultural em que vegetamos. Pois basta um dia JPP acordar e pensar que quer cozido ao pequeno almoço para o país mediático - incluindo a blogaria e a jornalada toda (regional e tudo) - seguir a coisa à risca e obrigar os 10 milhões de tugas a comerem o cozido informativo logo pela manhã. Ora, pela manhã os tugas deveriam comer uns cereais com muitas fibras, doutro modo ficamos pesados e com muitas gorduras. no sangue - que entopem as artérias. E nós não queremos ficar como uma barriga de Marx, pois é consabido que os tugas têm elevados níveis de colesterol, e isso é péssimo para a saúde colectiva. Até da economia, que pode ser alvo de um enfarte do miocárdio.. Especialmente, quando os 7% do Dr. Constâncio também ajudam à festa.. Pergunto-me: quando é que substituem este senhor no Banco de Portugal? Mandem-no para a Caixa Faialense ou para o Totta.. que acho que já não existe. Mas mandem-no para qualquer lugar. Para a Utopia do Morus, do não lugar, do vazio ou, agora em versão post-moderna, o sítio do não do Pacheco Pereira.

• Amanhã, arriscamo-nos a que JPP acorde com uma outra ideia: já não queira ser Presidente da República - porque se envergonha de ir substituir alguém que agora chantageia os tugas com esta "estória" do referendo à Europa. Já não quer ser PR, e pronto(s). E resolve dizer aos tugas, num sábado de manhã, que quer feijoada à transmontana.. Ora isto, de per se, não deveria obrigar-nos a todos a manjar feijoada matinal. Mas, na realidade, é isto que sucede porque as estações de informação alimentam-se perversamente desta relação de parasitismo simbiótico com certos personagens da mediacracia, como diz José Adelino Maltez. E um dia, pela manhã, dão-nos com a pasta do cozido, no outro, impingem-nos a feijoada à transmontana..

• Confesso que gosto muito de ambos os pratos, como qualquer bom português. Mas não é a qualquer hora. Nem confeccionado por JPP que, além de ser um grande historiador do Cunhal, também é muito "trapalhão" e anda sempre com as mangas cheias de truques intelectuais que alguém versado - só um pouquinho - nos sociólogos da política detecta ao fim do 3º minuto. Mas não é certamente a discutir filosofia política nem política com os abéculas do Coelhone nem do enjoativo Lobo Xavier. Aquilo que o Carlos Andrade nos serve é, na realidade, uma gastronomia já em fim de ciclo. É como dar cozido e feijoada a velocistas e estafetas 5 min. antes da prova.

• Na verdade, o meu único consolo - decorrente deste cozido servido por JPP - é o de saber o que pensam alguns crâneos que andam por aí, nos lençois de água subterrâneos que animam o sub-solo do mercado político luso. Eles andam por aí, só que alguns são actores estrangeiros que hoje já se tornaram irreconhecíveis pela maioria do povo português, mais preocupado com o défice e os impostos (gerados por aqueles, falta lá o Guterres também) e não tanto com as máscaras destas personas hoje mui pouco gratas.. Eles andam por aí - activos - mas nos bastidores a tentar arranjar Kapital para recriar o mercado das fundações no país e, assim, regressar ao poder e em força.

• Se pensarmos bem no que foi o Portugal dos últimos 4 anos, ensandecemos. Mas aqui o ciber-leitor encontrará um pequeno guião que, porventura, faria inveja à Branca de Neve (com o sobretudo à frente da camara...) do já tão saudoso quanto excêntrico João César Monteiro..

Viva Portugal. Viva a Europa. Viva a Europa em Portugal e Portugal na Europa.

• Aqui vemos alguém indisposto. Alguém que não gosta de comer cozido e feijoada logo pela manhã, que depois esta mediacracia serve requentada aos tugas de hora a hora pelo dia fora.