Dois em um: duas "estórias" à portuguesa. Arcaísmo tecnológico..
O QUE É O PARAISO? O QUE É O PARAÍSO? é um lugar onde: - a polícia é britânica - os cozinheiros são franceses - os mecânicos são alemães - os amantes são portugueses - e tudo é organizado pelos suíços O QUE É O INFERNO? é um lugar onde: - a polícia é alemã . - os cozinheiros são ingleses - os mecânicos são franceses - os amantes são suíços - e tudo é organizado pelos portugueses
Digitei "inferno" para gerar o efeito de contraste - e apareceu-me isto.. Pensei:
alguém na internet deve andar a gozar comigo, literalmente! Mas aceitei o destino..
A2ª "estória" foi vivida por mim próprio e que passarei a contar.
A propósito da Burocracia.. recebo este comentário de um ciber-leitor, a quem agradeço desde já, o envio do texto. Reza assim:
- Quando temos certas coisas que ainda não conseguimos enviar pela Net, lá teremos de recorrer aos correios. Foi aí que hoje me desloquei. Aos modernos e tecnológicamente avançados - Correios de Carnaxide, mesmo ao lado da PSP (não confundir com o PSD).. Entrei e procurei tirar a senha na máquina. Como é habitual fazer-se, dada a informatização de quase todos esses procedimentos e serviços. Felizmente que a casa estava vazia, com excepção da meia dúzia de funcionários dos correios, eu próprio e mais dois gatos pingados. Assim, e por grosso, a estatística das criaturas, não ia além de 10 pessoas. Sucede, porém, que a máquina que costuma debitar as senhas após ser tocada pelo dedo humano, encravou. E como encravou pedi à funcionária que me dispensasse da senha e me franqueasse o envelope, atendendo ao facto de que a casa estava práticamente vazia..
- A senhora, na casa dos trintas, anafadinha e bem penteada, compôs o ramalhete e olhou-me severamente. Entretanto, o técnico não conseguia fazer com que a máquina se agitasse a debitar os tais papelinhos que, matemáticamenete, lá vão arrumando as pessoas por filas, ordenando-as por ordem de chegada. Como a máquina encravou, e encravada queria ficar, e ante a impotência do dedinho do técnico empenhado em a arranjar, eu lá lhe disse: tenha a bondade de me meter um selo nessa coisa.. Mas ela, voltou a entreolhar-me já meio carrancuda. Lembrei-me logo dos Búfalos em Moçambique quando eram mal baleados. Como não caem mortalmente, levantam-se enfurecidos e investem contra quem os alvejou. Foi precisamente assim que a senhora anafadinha me entreolhara. Naquele instante, confesso, senti-me um atirador dos trópicos e amante de safaris de caça grossa - e ela a investir contra mim, ali a meio metro de distância, nos correios de Carnaxide, mesmo ao lado da PSP. Tudo por causa duma máquina encravada.
- E nós ali estávamos, ambos contemplando a máquina encravada, como duas vacas da Índia; a senhora anafadinha dos Correios olhava para mim severamente com o pesado rabo sentado na cadeira do outro lado do balcão; eu, de pé, aguardava um sinal de ambos os lados da barricada: da máquina que resolvera empancar, e da anuência da senhora que podia desistir, a qualquer momento, daquele ridículo burocrático que congelou o tempo.
- O espectáculo continuou: o técnico a acariciar a máquina já com as duas mãos, mas ela nada. E a funcionária dos correios a entreolhar-me pidescamente, com os olhos semi-cerrrados enquanto esfregava as mãos e limpava as unhas. Lá por dentro ela sentia que estava a comandar as regras do jogo, a pôr e a dispôr do meu tempo, do meu ser, fazendo-me esperar inúltimente, gratuitamente, perversamente, sadicamente. Era o gozo dela. O seu poder atingira o climax nesse instante. O olhar pronunciado e a feição rude do rosto denunciava-a..
- Ao cabo de mais uns minutos, com a máquina a fazer-se cara e a não corresponder à sedução do técnico - que já transpirara - e porque tolero mal a tacanhez, resolvi por termo aquele silêncio ensurdecedor. E explicar, respeitosamente, à senhora (anafadinha) o seguinte: a burocracia fez-se para facilitar os procedimentos entre as pessoas, não para os dificultar. Acelerei o tom, e adiantalhei-lhe que estava a ser um desperdício de tempo a observância perversa daquele seu capricho, pretextualizado com a inércia da máquina. Ela, a funcionária, e a máquina, impunham ali a exuberância de toda a autoridade.
- Até pensei que entre a máquina e ela haveria qualquer espécie de entendimento, expresso ou tácito. Um pouco como a relação conluíada do Nobre Guedes com o Abel Pinheiro, Telmo Correia, Costa Neves, Grupo BES e, por todos, qui ça, o sr. Paulo Portas, o Paulinho das Feiras que abandonou o barco à deriva.. Este pequeno exemplo levou-me a perceber várias coisas e a recordar outras:
- Mas será que foi por isto que ela estava a acentuar aquela ridícula proliferação de procedimentos e esperas ? Acentuando que os procedimentos seriam para se cumprir até ao fim, mesmo que isso fosse moroso e não houvesse por ali mais ninguém para aviar... Bom, passaram mais uns minutos e a minha carta foi literalmente despejada para um caixote anexo. Percebi que o par de estalos que aquela anafadinha das berças me queria dar foram autenticamente canalizados para o inocente do envelope. Duvido que chegue ao destino quando era suposto chegar. (h)A ver vamos...
- Mas quando saí dos Correios deparei-me com um conjunto vário de detalhes e de problemas que poderiam estar na origem daquele congelamento forçado e perverso do tempo. Como se ela me quisesse explicar a sua existência através dum labirinto de procedimentos e de micropoderes que só teriam razão de ser na sua cabeça, também anafadinha.
- Enfim, podia tanta coisa. E podendo tudo, não fez nada! Será que somos mesmo assim nas outras coisas?
- Quando, para a próxima, entrar numa casa totalmente digitalizada, cheia de máquinas e de dígitos do chão ao tecto, e pensar que vou ser bem atendido - vou lembrar-me sempre daquela p.... da máquina que não queria vomitar bilhetes.
- Quase a chegar a casa pensei que a coisa não tinha passado dum pesadelo kafkiano. Uma pequena estória do absurdo que sucede a todos nós. E dei comigo a pensar se a ideia de arcaísmo tecnológico post-moderno tinha algum fundamento.. Podemos ter máquinas altamente sofisticadas, sistemas tecnológicos interactuantes, mas ao fim e ao cabo não passamos duns bárbaros que, quando nos passamos para o outro lado, revestimos a nossa acção de condutas mais censuráveis do que quando tínhamos vontade de comer e ter sexo ao tempo do fogo e da pedra lascada.. Pouco evoluímos, desde então..
- Será que ela era do Sporting e descobriu que andei a dizer mal dos azuleijos do Estádio José Alvalade?!Quero crer que de todas as hipóteses verosímeis esta é a mais plausível. Será que, doravante, existe alguma racionalidade para os absurdos?
Li o texto, e é de facto ridículo.
A verdade é que neste momento o nosso país vive numa situação em que todos parecem ter necessidade de se afirmar perante a sociedade, impondo as suas regras, por mais absurdas que elas possam ser. Fazem-no para mostrar aos outros a importante e responsável profissão que têm, dando-se ao luxo de desencadear os mais ridículos problemas, já que, segundo as "anafadinhas": "Ordens são ordens, e tem de ser respeitadas."
Se não reparemos na seguinte situação: Há cerca de um e dois meses tive a infelicidade de abrir o sobrolho. Fui imediatamente socorrido da forma mais cuidadosa possível, não é isso que ponho em causa, mas sim o facto da ambulância, que, segundo eles, era altamente necessária, ter demorado mais de meia hora a chegar, e, no final de contas, acabara por não vir:
Primeiro porque a situação não era suficientemente grave para que o hospital mais próximo pudesse dispensar uma ambulância.
E depois porque os bombeiros não tinham, segundo eles, "nada a ver" com a situação.
E eu, no meio deste nem "ata nem desata" não podia chamar nenhum familiar para me auxiliar: "Ah porque agora tem de esperar pela ambulância, porque ela pode vir e depois não esta cá ninguém!!"
Ok. Tudo bem.. Enquanto isso eu ia sangrando do sobrolho.
Também, qual é o problema? Bem mais importante era, obviamente, que se seguissem os devidos procedimentos. Não fosse a ambulância vir em vão. Era chato.
Lá me consegui "safar", ao chamar o meu pai, que em menos de 5 minutos apareceu na escola para me socorrer.
O pior é quando chegamos a conclusão que "anafadinhas" como essas vemos em todo o lado, seja na secretaria duma escola, quando (ainda relacionado com a questão do sobrolho) para passar um cheque para cobrar as despesas gastas no centro de saúde devido à dita fatalidade, o cheque é passado à ordem de Luís Filipe Gil Costa, ou seja eu, dado que na altura eu tinha passado por encarregado de educação de mim próprio por já possuir 18 anos de idade.
E não podiam passar à ordem do meu pai, pela simples razão que eu é que tinha assinado uma papelada qualquer. Só é pena é eu não ter conta movimento.
Ou então, estamos numa simples paragem de autocarro, em que as tais "anafadinhas" insistem em que a fila tem de ser respeitada até ao ultimo elemento, porque se isto não acontecer gera-se logo uma confusão. Mesmo que estejamos numa paragem terminal e que existam todos os lugares do mundo dentro do autocarro, ninguém pode passar as tais "anafadinhas" (que eu prefiro denominar como velhas embirrentas) porque a vez delas é a vez delas. O que me leva a crer que já não seja por uma questão de lugar e conforto na viagem, mas sim por uma questão de orgulho, porque elas chegaram primeiro e têm de entrar primeiro.
E se for um jovem a quebrar essa regra de conduta essencial??
UI!! Logo se houve o habitual comentário:
"Esta juventude de hoje em dia… Isto no meu tempo n era assim!" O que me leva a questionar-me a mim proprio…
Será que cometi uma atrocidade assim tão grande?! Porquê? Porque lhe tirei o lugar que estava a sombra? Ou o lugar que estava ao sol? Será que ela passou pior por causa disso? Será que ficou doente? Será que a tal "afanadinha" apanhou alguma broncopneumonia?
Se foi isso então aqui vão as minhas sinceras desculpas!
Luís Costa
20/05/05
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