quinta-feira

O cidadão cosmopolita

Image Hosted by ImageShack.us> O cidadão peregrinoImage Hosted by ImageShack.us Cada vez mais os indivíduos são chamados a desenvolver uma percepção e uma responsabilidade global. Não só pela total descredibilização progressiva do pessoal político que tem (des)governado Portugal nos últimos anos, mas também porque as ondas de choque da globalização competitiva impõe um padrão de qualidade política cosmopolita. Ou seja, os políticos nacionais têm de ter mais “mundo”, mais experiência de vida privada, melhor preparação técnica e cultural antes de chegarem à política activa. Mais capacidade de comunicação e, naturalmente, melhor capacidade pedagógica. Quantos são os debates públicos em Portugal com sentido esclarecedor? São estas falhas acumuladas nos últimos anos que têm gerado crises múltiplas no funcionamento do Estado e da gestão da coisa pública. É do reconhecimento dessa necessidade que chegamos a um específico conceito de cidadania: o cidadão cosmopolita – exige aquele “mundo” aos agentes políticos na ligação aos problemas, cada vez mais complexos, das comunidades. É este ponto de partida, cristalizado com o enfraquecimento dos laços territoriais entre as pessoas e o Leviatão (que já não assegura a ordem, o desenvolvimento, a distribuição, os equilíbrios sociais) nem, sequer, o pagamento das dívidas aos fornecedores dando, por isso, um mau exemplo para os empresários e para as pessoas – que, perversamente, quer disciplinar. Assim, as velhas lealdades ao Estado esvaem-se pelas frechas da desconfiança e da progressiva incompetência dos titulares dos cargos políticos. Os mesmos que, pela sua praxis, também não moralizam os eleitorados com pequenos gestos de (re)conquista de confiança. Designadamente, através de contenção de custos em despesas verdadeiramente sumptuárias, como por exemplo a aquisição duma frota automóvel ou doutros gastos menos (re)produtivos. Não se pode (nem deve) chegar à Câmara Municipal de Lisboa e mandar comprar uma frota de automóveis de alta cilindrada quando os que existem ainda estão em condições. São as chamadas despesas de estatuto a que os figurantes da política à portuguesa, num misto de jet set e decadência prematura, geram. Estes constrangimentos encontram identidades múltiplas que colocam um desafio à sociedade civil (global), fundada num ethos de democracia, que também é global. É neste âmbito que precisamos de construir um novo homem, assente no conceito de “cidadão peregrino” teorizado pelo patriarca do Direito Internacional Público, Richard Falk. Um homem, um cidadão, um eleitor que sintetize os valores da comunidade humana (hoje globalizada, com o activo e com o passivo) mas articulada com os valores da competência, da meritocracia, da justiça social, da solidariedade, da transparência, do equilíbrio ambiental e de um conjunto de valores racionais com vista a aprofundar e aperfeiçoar a democracia. Daí a relevância desta metáfora do cidadão cosmopolita ou peregrino. Dele pode partir o impulso indispensável para enfatizar um vector indispensável ao globalismo em curso: a afirmação do princípio da responsabilidade solidária sobre o princípio da autonomia individual. Neste contexto de internacionalismo solidário, teremos um sistema democrático mais justo, cidadãos mais exigentes e esclarecidos, agentes políticos melhor preparados sendo que, de tudo resulta, a afirmação do primado do homem sobre a economia, dos valores sobre os processos materializado na garantia efectiva dos direitos humanos (civis, políticos, económicos, sociais e culturais) salvaguardando também a biodiversidade, que o oxigéneo de todo o sistema. Sem estas pequenas reformas, ou alteração do quadro de mentalidades, não se consegue inverter a curva de incerteza e risco que tolhe as sociedades europeias, hoje invadidas por ondas de refugiados e de imigrantes (económicos) geradoras de maior instabilidade social no interior das grandes urbes do Ocidente. Será uma utopia pensar a materialidade deste novo homem: o cidadão peregrino, com os olhos plantados no cosmos - colhendo aí o horizonte e o zenite? Talvez… Sempre encontrei nos clássicos a ideia de que as utopias de hoje são as realidades de amanhã. E amanhã é já ali. Um passado feito presente que, entretanto, já não é...