Recordo o livrinho do fiscalista José Luís SALDANHA SANCHES, editado em 2004, creio, e que versava sobre os temas que envolviam a corrupção de então, como o famoso caso em torno da aquisição dos submarinos à Alemanha, que envolveram, claro, o BES ( e o dr. Ricardo), e em que o dr. Portas foi também um player muito especial, embora nunca se tivesse deixado chamuscar. Foi também nessa altura que o CDS viu entrar nos seus cofres avultadas verbas, especialmente de sócios que já tinham falecido.
Eram crónicas que espelhavam um Portugal corrupto, antes e depois do 25 de A., uma espécie de contos de Natal em que o autor descrevia o modo como os esquemas de corrupção, activa e passiva, se desenvolvia, e transformou Portugal num país ainda mais pobre, injusto, desigual e afastado dos indicadores de desenvolvimento e de convergência dos países da Europa, que Portugal almejava atingir.
Era, então como hoje, a imagem dum Portugal sequestrado por bandos organizados de mafiosos (institucionalizados) que, sentados em lugares de poder - seja da Justiça, da Política, da Finança - acabavam todos por dar as mãos para esbulhar a economia nacional a fim de enriquecer pequenos bandos organizados que eram, e são hoje, dirigentes desportivos, homens da finança, alguns autarcas, agentes do poder central, juízes-desembargadores, etc.
Saldanha Sanches talvez tenha sido o primeiro intelectual que, de forma, consistente, desenvolveu uma teoria da corrupção em Portugal, e a explicou como ela se operacionalizava no terreno dos múltiplos poderes que concorriam para ludibriar o Estado, via fuga aos impostos, e permitir que os agentes desportivos enriquecessem rapidamente à custa de expedientes ilegais, compra de poder, corrupção, tráfico de influências e através duma miríade de mecanismos e de esquemas mafiosos aos quais o Fisco, então, não estava tecnicamente preparado para reagir e travar.
Não deixa de ser curioso que é, hoje, a sua mulher, Maria José Morgado, que vem dar uma cacetada nessa classe de corruptos disfarçada de homens de bem, até com aval de Estado, que se escondem atrás de instituições grandes como o SLB, que tem rapidamente de se libertar desses cancros que só geraram metástases nesse corpo social imenso chamado Portugal.