sexta-feira

O verdadeiro problema de João soares




Na verdade, o problema de João Soares era múltiplo (e António Costa sabia disso). Primeiramente, João Soares nunca se conseguiu autonomizar do nome da família nem do ascendente de seu Pai na sociedade portuguesa, fundador da III República e um dos obreiros da democracia pluralista em Portugal. Este ascendente, que vem do nome de família, deu ao agora demitido João Soares um sentido de enorme impunidade que hoje chegou ao fim, até porque a linhagem política de António Costa dentro do PS é muito distinta do PS ao qual João Soares pertence (ou pertencia!!).

Em segundo lugar, João Soares - com a promessa da política do tabefe - revelou desconhecer os limites do aceitável dito em privado e os limites do aceitável dito na esfera pública, e ao confundir essas duas esferas do agir comunicacional, só para citar Habermas (que joão soares deveria ler) o visado revelou não compreender não apenas a democracia e a liberdade de expressão, como também se revelou incapaz de saber gerir um perfil duma rede social, como o FB, em que um titular de um cargo público da importância daquele (ser ministro) exige grande contenção, senão mesmo reserva em múltiplos aspectos. Ao não compreender estas regras básicas da democracia digital, J. Soares revelou estar impreparado para ser ministro no nosso tempo como, aliás, se constatou pela forma grosseira e tacanha como o então ministro da Cultura demitiu o ex-director do CCB, António Lamas, que parece ter deixado um buraco de 6 M€ na instituição que dirigiu. Ou seja, havendo razões políticas e de confiança pessoal na demissão daquele dirigente do CCB, a forma como o ex-ministro da Cultura o demitiu revelou uma grande tacanhez política. Parece até que João Soares nada aprendeu com seu Pai, Mário Soares. Ainda que o que seria desculpável a este reclamou a cabeça daquele, como agora se verificou. 

Em terceiro lugar, João Soares tinha um outro problema, que já não é de ordem formal mas de natureza substancial, ou seja, se perguntarmos a um observador atento qual a política do ministério da Cultura defendida pelo ministro demitido - ninguém saberia identificar as apostas fundamentais no sector. Elogiar o cineasta A e B, promover os amigos maçons a altos cargos ministeriais não são, de facto, sinais claros de afirmação do sector da cultura em Portugal, que foi fustigada nestes últimos 4 anos.

O conjunto destes problemas - todos somados na pessoa de João Soares - veio permitir reconhecer duas coisas perante o PM, António Costa: que o ex-ministro foi um erro de casting, e que o PM estava desejoso de o demitir, apenas esperava pelo melhor pretexto. O caso António Lamas  deu o pontapé de saída, o caso das bofetadas foi a "cereja no topo do bolo" para que António Costa o demitisse. Foi o que sucedeu a uma velocidade estonteante, após João Soares ter humilhado publicamente António Lamas. 

Veremos, doravante, se o Governo da "geringonça", como ficou conhecido para desespero de Passos Coelho e Paulinho Portas, terá um titular da pasta à altura dos desafios da Cultura neste nosso conturbado, cínico e hipócrita tempo em que nos é dado viver.

PS: Questão secundária, ou talvez não, é saber se as pessoas nomeadas por João Soares serão substituídas ou mantidas nos seus cargos. 

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