quarta-feira

Discurso do "inconseguimento": a falta de autenticidade e de sinceridade em política. Casos dum estranho amor à polis

Era uma vez uma voz de falsete que se dizia tolerante e amante da democracia (a rosa na lapela deve ser só para disfarçar)...



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Obs: Há pessoas cujo discurso, e a intencionalidade que nele depositam, suscitam nos outros autenticidade, verdade, transparência e credibilidade. Fazem-se acreditar facilmente. Confesso que quando ouço esta senhora, tudo me vem à cabeça excepto aquilo que ela pretende infundir na sociedade. Ou seja, onde ela fala de amor, vê-se escárnio e duplicidade, onde fala de política denuncia amadorismo  e quando pretende traduzir a sua afeição ao Parlamento - vemos alguém a brincar às palavras e às expressões (sem sentido e até caricatas!!), o que fariam dela um actor de teatro a representar robertos numa Casa do Povo de província, em lugar de ser presidente da AR. 

Dois breves casos que ilustram esta falta de autenticidade no discurso e praxis da referida senhora, 2ª figura na hierarquia do aparelho de Estado: 1) quando em tempos alguns manifestantes se exaltaram nas galerias da AR - ela exaltou-se ainda mais e chamou "carrascos" a essas pessoas. Ainda que não seja permitido aquele comportamento nas galerias na AR, que levou os agentes policiais a evacuar as galerias, a conduta da senhora foi tudo menos responsável e adequada à função num contexto de democracia pluralista. Não se corrige um erro cometendo outro ainda maior.

(2) Noutro exemplo, igualmente lamentável que revela bem "o amor à política, ao mundo e ao Parlamento" que a dita diz ter, com aquela voz de falsete que tão bem a caracteriza, ocorreu com a Associação 25 de Abril, a qual foi impedida de discursar na AR por ocasião do 25 de Abril (que, curiosamente, ajudou a viabilizar as condições para a existência da liberdade em Portugal). Então, a expressão "mais feliz" que a "srª Inconseguimento" encontrou no seu diversificado (e lamentável) léxico foi: o problema é deles. 

Quando notou o erro, a sua arrogância (disfarçada de tolerância) ditou-lhe que o reparasse de imediato, foi quando se deslocou àquela associação para fingir que era democrata e evitar, assim, mais estragos à sua imagem pública. 

Podia evocar outros exemplos para demonstrar, preto no branco, a falsidade, a duplicidade, o cinismo e a hipocrisia que definem esse sujeito político, mas não irei perder mais tempo com essa irrelevância política que, em rigor, desconhece a verdadeira natureza da democracia, do rule of law e a forma como um importante actor em representação do Estado se deve comportar publicamente com as demais instituições da sociedade civil.

Há pessoas que quando falam conseguem fazer-se acreditar sem dificuldades, outras há, que falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam - e de tudo o que dizem em nada são acreditadas. Será um caso de estranho amor à política, à democracia e às instituições da sociedade portuguesa.

Só pelo efeito excêntrico das caricaturas linguísticas utilizadas, que traduzem bem o seu autor, apetece dizer: iremos todos ter saudades deste "inconseguimento" na vida pública portuguesa, tamanho foi o erro de casting, em linha, aliás, com quem a nomeou, terminado que foi a tentativa falhada de elevar ao lugar o médico e fundador da AMI, Fernando Nobre. 

Portugal não é só um drama com sabor a tragédia, casos destes na vida pública nacional revelam também que temos algum jeito para a comédia. Só é pena termos todos de pagar uma imensa e pesada factura... É que o teatro é mau, muito mau!!!






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