quinta-feira

Marcelo e as presidenciais: o grande malabarista


Nota prévia: Após a derrota de Passos por Costa - aquele deixou de (poder) vetar o nome de Marcelo para Belém. A desgraça do país e dos portugueses aproximou-os, tende mesmo a uni-los nos esforços de a coligação Paf tentar meter em Belém um PR de direita. Eis o cinismo político e a perfídia em todo o seu esplendor, que agora junta pessoas que se detestam, apenas em razão das ambições pessoais e dos interesses políticos dos actores em causa. 


Marcelo há muito que percebeu que a "onda" das eleições presidenciais está engatada no resultado obtido nas eleições legislativas, a 4 de Outubro próximo. Por outro lado, Marcelo também já intuiu há muito que Passos Coelho está politicamente morto, pois nunca terá em caso algum possibilidade de vir a ganhar as eleições legislativas, mesmo que por maioria relativa, ainda que no comentário político Marcelo diga exactamente o contrário, ou seja, acolha essa possibilidade de vitória por parte da coligação Paf. Marcelo não se importa de ser inverdadeiro (de forma deliberada), desde que isso sirva os seus interesses pessoais e as ambições políticas tendentes a catapultá-lo para Belém (com o apoio da coligação Paf). 

- Ora, esta ambivalência, esta dualidade, esta arte de dizer uma coisa e o seu exacto contrário, esta mentira institucionalizada e disfarçada de análise política revela bem a personalidade diabólica do analista que deseja ser PR, e denuncia a sua hipocrisia política à outrance. Marcelo, sempre que estão em jogo interesses políticos que remetem para a sua ambição pessoal, sempre disse o contrário daquilo que verdadeiramente pensa, tentando, assim, modelar a seu favor a opinião pública. Na prática, Marcelo sabe que Passos será literalmente corrido do poder a 4 de Outubro, mas para obter dele - e do PSD (e, por extensão, do CDS) um eventual apoio do centro-direita a Belém - retoca o seu discurso analítico, i.é, afina a sua mentira e afirma a possibilidade de a coligação mais nefasta da história pós-democrática em Portugal vir a ganhar e a perpetuar-se no poder por mais 4 anos. 

Depois do debate de ontem, em que António Costa bateu aos pontos um PM impreparado, tímido, pouco fluente, errático e sem qualquer discurso de futuro para Portugal - Marcelo percebeu que ganhou ascendente junto da coligação Paf para obter dela o apoio a Belém, excluindo desse jogo o candidato (mais fraco e regional) desejado por Passos, definido em Congresso e com guião à la carte, que é Rui Rio.

É neste cenário que Marcelo faz comentário político e política, que é, no caso, a mesmíssima coisa, ou seja, aguarda pela hecatombe eleitoral de 4 de Outubro, que ditará a humilhação política e pessoal de Passos e Portas, e, depois, apresenta-se a Belém sobre os despojos de ambos. Uma espécie de salvador presidencial de um governo de direita moribundo. 

Sem ser hostil à esquerda, pois Marcelo até se digna beber bujecas na Festa do Avante, no Seixal, o comentador deseja assim fazer o pleno na sua base sociológica de apoio, e granjear os votos da coligação Paf e de alguma esquerda caviar - que - só por ser distraída e destituída poderá votar no analista político mais pérfido e diabólico que a democracia gerou, mas cujas ressonâncias políticas remontam ao regime salazarista, em que ele e boa parte da sua família coabitaram. 

Na prática, Passos ficou impossibilitado, a partir da derrota d ´ontem contra A. Costa, de poder impedir que o candidato indesejado - Marcelo - seja o verdadeiro candidato pela coligação Paf. O que implica duas coisas: mandar Rui Rio borda fora e, ao mesmo tempo, reconhecer implicitamente que irá perder as eleições legislativas. Desta feita, o caminho de Passos (e Portas) está cada vez mais barrado, quer porque diminuíram drasticamente as chances de ganhar as legislativas, quer ainda porque tentar catapultar para Belém um PR de direita será um péssimo prenúncio, sobretudo se recordarmos a má memória deixada por cavaco, e pelo joguinho que este fez em andar ao colo com o governo Passos - desde a demissão do irrevogável Portas e em grosseira violação das normas do Tribunal Constitucional, que chumbou ao governo mais impreparado do pós-74 três orçamentos de Estado. 

Em suma: Marcelo sabe hoje de ciência certa que o valor facial de Passos, que sempre vetou o seu nome para Belém, tem a mesma cotação que os títulos do Bes mau; e Passos também sabe que a sua vidinha está presa por mais duas ou três semanas, depois é corrido de S. Bento pelos males que fez a Portugal e aos portugueses, e é, lamentavelmente, esta desgraça que tem quebrado o gelo entre Passos e Marcelo e fará com que, previsivelmente, aquele apoie este na candidatura a Belém, já que as legislativas já estão verdadeiramente perdidas para a coligação Paf. 

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