Os cartazes - por Luís Meneses leitão -
Os cartazes
O episódio dos cartazes do PS corresponde a um triste sintoma da podridão do nosso regime político. Parece impensável que o principal partido da oposição, e que aspira legitimamente a ser governo, se envolva num episódio de publicitação de depoimentos falsos, utilizando abusivamente imagens de pessoas que apresentou falsamente como desempregados e emigrantes. Mas isso não é o mais grave.
O mais grave é saber-se que os tais “desempregados e emigrantes” são, afinal, todos eles trabalhadores da Junta de Freguesia de Arroios, a quem literalmente se pediu que dessem a cara pelo partido que gere a sua junta. Efectivamente, segundo referiu a imprensa, a presidente da junta, Margarida Martins, já assumiu que foi ela a falar “com alguns colaboradores da junta de freguesia no sentido de saber se queriam ou não integrar a campanha” e que “alguns colaboradores aceitaram, de forma voluntária, participar enquanto figurantes”. Temos assim que um empregador público solicita aos seus funcionários que intervenham numa campanha eleitoral a favor do partido político pelo qual foi eleito.
Não deve ter havido maior exemplo em Portugal de promiscuidade entre uma autarquia local e o partido que a gere.
Mas felizmente que as responsabilidades já foram assumidas e o director da campanha, Ascenso Simões, apresentou a sua demissão. Foi por isso substituído pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Duarte Cordeiro, que suspende temporariamente as suas funções para se dedicar à campanha do PS. Importam-se de repetir?
Professor da Faculdade de Direito de Lisboa
Escreve à terça-feira
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Obs: Costumo ler aqui algumas das rábulas de Luís Meneses leitão. E até faço o favor de as republicar. Pensa bem, escreve articuladamente e até sabe de história. Daí resultam crónicas articuladas que fazem "algum" sentido, mas quando se simplifica em demasia a realidade, complexa por natura, a história revela-se sempre maior do que nossa pena, ultrapassa a nossa ciência e imaginação, senão egocentrismo, e até poderá surpreender a nossa mais funda inventiva.
- Dito isto, e dando por adquirido que o teor da campanha desenvolvida pelo PS foi execrável, na forma e no conteúdo, será que o PSD, o CDS e até os demais partidos, designadamente o PCP, não têm funcionários das "suas" juntas de freguesia a fazer o "jogo político" do respectivos líderes em contexto de campanha eleitoral? É claro que sim. Então, por que razão Meneses Leitão não dá eco dessas corruptelas nas suas rábulas?! por que não as denuncia publicamente nas suas crónicas?! Será que o articulista tem uma memória selectiva, e se sim por que razão tal acontece?!
- A esta luz, não se compreende a tentativa de máxima e pura neutralidade rebuscada, como se a análise política fosse uma actividade asséptica (já vimos que não é, estudando Max Weber, autor que o articulista também deve ter lido!!). Todas, ou quase todas, contra o PS e o seu actual líder, A. Costa, pessoa por quem leitão nutre um profundo ódio de estimação deste os tempos dos bancos de faculdade. Até um cego percebe isso.
- Pergunto-me se o articulista de serviço acha que as corruptelas desta natureza só existem no PS, ou se estão generalizadas pelos demais partidos políticos, no Parlamento, nos sindicatos, nas associações de proprietários (de que faz parte), nas igrejas, nos clubes de futebol, enfim, na sociedade portuguesa.
- É que se o articulista pensa que só o PS é que pratica estas corruptelas, então será caso para dizer dele o mesmo que ontem aqui disse de A. Costa - relativamente à importância das redes sociais como veiculo de formação de opinião e mecanismo de influenciação sociopolítica: estão ambos fora da realidade que procuram compreender e explicar.
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Etiquetas: Luís Meneses Leitão, memória selectiva, ódios de estimação, Os cartazes
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