sábado

O Sermão de Sto António aos Peixes. Evocação de António Vieira -


Neste famoso Sermão, proferido em S. Luís do Maranhão, que remonta ao séc. XVII, e na sequência dum conflito entre os indígenas e os colonos portugueses no Brasil, o velho Vieira puxou pela imaginação e habilidade oratórias e conseguiu satirizar toda uma situação sociopolítica que representava uma profunda injustiça entre os homens, e desenvolveu, para o efeito, e com uma mestria sem par, uma metaforização surpreendente, i.é, utilizou os vários peixes (pegador, voador, roncador e o polvo) para representar os vícios dos homens, em particular o daqueles colonos que cometiam brutais injustiças sobre os povos colonizados e indefesos que apenas pretendiam defender as suas terras e o direito de nelas viverem com os seus costumes e práticas.


E o que fez António Vieira para denunciar essa situação colonial?! Construiu - no plano literário - uma lógica argumentativa, assente no sermão, para, consoante as circunstâncias - enaltecer as virtudes humanas, e criticar ou censurar os vícios dos colonos, os quais se comportavam como animais, tamanha a injustiça que os colonos portugueses cometiam sobre os indígenas nesse imenso continente que é o Brasil. 

Todo o sermão é alegórico e foi pregado nessa base. 

Dito doutro modo: todo o sermão denuncia uma alegoria, porque os peixes são, afinal, uma metáfora dos homens. Mas há idiotas que, chegados à idade adulta, não conseguiram captar essa comezinha verdade... 

Pelo que quando vemos um cidadão comum a comer peixe ou o mesmo acto ser praticado por um sujeito político de relevo, especialmente se for objecto de profunda censura, naturalmente esses dois actos têm traduções diversas, porque distintas são as pessoas, o seu nível de responsabilidade relativa na sociedade, na economia e na política, seja na esfera doméstica seja na esfera europeia, internacional ou mesmo na escala global.

Todavia, há por aí uns empresários(zecos), gente que apenas quer exportar e facturar (ou facturar e exportar à sombra de governos incompetentes e iníquos como é o XIX Governo (in)Constitucional) que abre a boca, diz três asneiras e denuncia imediatamente interesses em caixa.

Um dia destes promovemos aqui um Curso de empreendedorismo para empresários ávidos, nem que seja para lhes explicar, como quem ensina uma criança ou lembra ao povo, que o dinheiro não é tudo, e utilizar os vested interests (através da cultura, gastronomia ou outros activos relacionados com o capital simbólico dum povo e são manifestações parcelares duma cultura) - que uma coisa são os negócios da empresa e os alinhamentos políticos que permitem continuar a fazer certos negócios (ou negociatas!!!), coisa distinta é a promoção da cultura dum povo de forma neutra e desinteressada.

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