sábado

A bondade natalícia do casal Silva de Belém

Não perdi tempo a ouvir a ritualizada hipocrisia institucionalizada pelo casal Silva de Belém a propósito da celebração do Natal e dos valores que lhe devem estar associados, como a bondade, a solidariedade, a concórdia e a atenção aos mais desprotegidos e aos deserdados da vida. 
Pelo que li, os portugueses ficam a saber que o casal Silva nutre especial preocupação para com aqueles que sofrem e estão nessa condição infra-humana e vivem nas margens da sociedade durante o ano inteiro. 
No essencial, parece ter sido essa a mensagem da cassete presidencial na sua mensagem de Boas Festas, pedindo ainda Sua excelência que os portugueses possam ir mais além nas celebrações natalícias... "Mais longe" - presume-se ser mais solidários com os mais fracos.
Em tese, tudo isto faz sentido, é esperável que seja dito pelos principais órgãos de soberania, o problema é que o discurso há muito deixou de colar à realidade. Não há correlação entre os dois termos. Ninguém já acredita que estas manifestações de intenção sejam verdadeiramente consequentes ou genuínas, dado que o projecto de poder político pessoal de Cavaco sempre visou a sua ambição pessoal, a sua carreira política, a acomodação dos seus interesses de molde a que possa garantir um lugar dourado na história. Aliás, ainda na qualidade de PR já está a preparar a sua vida pós-presidencial num Convento em Alcântara e em relação ao qual já fez a ministra das Finanças - com o dinheiro dos nossos impostos - libertar um cheque de meio milhão de €uros  para fazer obras no edifício para o qual tenciona hospedar-se quando cessar funções do seu mandato presidencial em Belém. 
Fora o discurso politicamente correcto assente na solidariedade ao mais desprotegido, cuja prática tem animado a acção de inúmeras ONGs, bancos alimentares e outras organizações que têm realizado negócios à sombra desse discurso e paradigma anti-pobreza, além duma ajuda pontual à sociedade sem qualquer valia de tipo estrutural, é lícito perguntar o que fez o PR, o sr. Silva, para travar o Governo da multiplicação de erros, injustiças, maldades, experimentalismos sociais,  violações grotescas à CRP, desprezo pelos acórdãos do TC, entre outros vícios que se têm vindo a agravar desde 2011?!
Vejamos alguns desses constrangimentos que hoje afligem a sociedade portuguesa, ou seja, que têm penalizado sobremaneira o famoso "mexilhão", para glosar a terminologia troglodita do estarola de Massamá, o alegado PM:
1. O que fez o sr. Silva para pressionar o Governo para baixar o IVA (dificultando o acesso aos bens de primeira necessidade), hoje escandalosamente a 23%, o mais elevado da Europa?;
2. Facto que penalizou os mais pobres, que ele, o sr. Silva, alega defender na sua mensagem de Natal... 


3. O que fez o sr. Silva para impedir que o Governo aumentasse os impostos sobre o trabalho, agravando sobremaneira as tabelas e os escalões do IRS, cujo esbulho culmina num saque inominável? O mais grave desde a criação da democracia pluralista em Portugal. 

4. O que fez o sr. Silva para impedir que o Governo discriminasse negativamente os funcionários públicos e os reformados nas suas políticas de retenção de salários e confisco de património?

5. Que medidas sugeriu o sr. Silva ao Governo para impedir que cerca de 350 mil portugueses qualificados fossem obrigados a emigrar ou que ideias deu ao Governo, aproveitando a sua larga experiência de dez anos de PM (1985-95), a fim de evitar o aumento da taxa de desemprego jovem em cerca de 50%?

6. O que fez o sr. Silva para dissuadir o Governo de aumentar o IMI, esbulhando descaradamente os proprietários em Portugal, por vezes expropriando-os daquilo que é seu por direito?

7. O que fez o sr. Silva em matéria de medidas que possam assegurar uma vida condigna aos mais desprotegidos, com os quais ele enche a boca numa terrível hipocrisia, deixando-os sem complementos solidários, rendimentos de inserção (ainda que estes subsídios não sejam a panaceia para os seus problemas);

8. Numa dimensão mais macroeconómica, urge saber o que fez o sr. Silva para evitar que aqueles que ele andou (paradoxalmente) a condecorar, como o engº Zeinal Bava, para que a PT não fosse desmembrada e vendida ao preço da uva mijona (aos brasileiros, franceses ou angolanos - de quem estamos hoje reféns); idem aspas à mega-fraude do BPN, um banco que financiava o cavaquismo (e do qual Cavaco tinha uma carteira de acções e especulou em bolsa com elas de modo ilegal, ou à margem das regras da CMVM); ao afundanço do BES, de que foi notário ao abonar publicamente os seus produtos e aplicações financeiras aos clientes incrédulos; ou ainda o que fez o PR para evitar que a economia nacional esteja a ser literalmente colonizada pelos chineses e angolanos, que assumem participações de capitais nos sectores da Saúde, Energético (EDP e REN), Cimpor (cimentos - aos brasileiros) ANA (aeroportos - aos franceses), Seguros (Fidelidade aos chineses e Tranquilidade aos norte-americanos), telecomunicações, sector Financeiro e tutti quanti???

O que pensa cavaco da privatização da TAP?! Não pensa nada, voa baixinho!! Ponto.

- Numa palavra: cavaco não pensa nada acerca de coisa nenhuma, porquanto não se quer comprometer ou dificultar a acção ao Governo, mesmo sabendo, em inúmeras situações, que o interesse nacional não está sendo acautelado. Assim sendo, geram-se múltiplas situações de injustiça social, de degradação das condições de concorrência, de precariedade laboral, de pobreza extrema a que aqueles discursos não dão qualquer cobertura, porque não há correspondência entre aquilo que é apregoado e o peso tumular da realidade que estas situações de injustiça social mais graves suscitam. 

É por este conjunto de razões que a mensagem de Natal do casal Silva, apesar de eivado de solidarismo, paz, amor e muita concórdia não passa o teste da dura e crua realidade. E é triste verificar, mais uma vez, mais um ano, esta hipocrisia institucionalizada a partir do decadente e pérfido farol de Belém. 

Cavaco faria um grande favor ao país se resignasse ao cargo antes do termo do seu mandato. Poderia alegar problemas mentais, ou conexos, e assim encontrar uma justificação plausível para o mal que está fazendo ao país, mas que seria minorado com a sua resignação. 

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