A coreografia de Jean-Claude Juncker na bossa do camelo
Photo: AP
__________
Referimos aqui há dias que a coreografia comportamental de Jean-Claude Juncker passa por uma troika de atitudes que o distinguem dos demais actores comunitários: é afectuoso, é exagerado e cultiva uma imagem próxima dos pequenos países, dado que também é oriundo de um pequeníssimo país, embora com grande influência europeia, por ser um paraíso fiscal.
- Enquanto presidente do Eurogrupo, que liderava os 17 ministros das Finanças da zona euro, tenta apertar o pescoço ao seu colega espanhol, Luis de Guindos, mostrando que o queria estrangular. Mas tudo não passou duma brincadeira, embora o olhar sombrio de Guindos revela que não apreciou a brincadeira, ainda que considerasse o gesto inesperado.
- E aqui voltamos a uma qualidade de Juncker: é dum afecto inexcedível, a ponto de escolher para brincadeiras querer apertar o pescoço ao ministro espanhol das Finanças. Esta situação, toda ela caricata, serve, contudo, para revelar o carácter premonitório da história, individual e colectiva, que se esconde por trás das instituições europeias e, doravante, por força dos factos conhecidos e revelados pelo Consórcio Internacional dos Jornalistas de Investigação - acaba por colocar o próprio Juncker no lugar do elemento asfixiado, o elemento mais fraco duma cadeia de decisões, muitas das quais já lhe parecem escapar das mãos.
- A história também se sedimenta e se perfila nesse campo do inesperado, do contingente e do aleatório, ainda que, na mente de Juncker, ele soubesse que o resultado e as consequências das suas acções, ao longo de uma década na qualidade de PM, tivessem, ou pudessem vir a ter, as consequências que agora estão diante os olhos de todos.
- Em face dos factos, será que Juncker estará disposto - para salvar a sua pele - em fazer um calendário de pagamentos para que as empresas multinacionais beneficiadas restituam agora os impostos devidos ao erário público dos países europeus lesados, em matéria de evasão fiscal; ou será que Juncker já desistiu de lutar e reclama uma espécie de absolvição papal que o salve do cadafalso político!?
- Eis a situação dilemática que o coloca entalado na bossa do camelo, e da qual muito dificilmente sairá.
Etiquetas: Bossa do camelo, Jean-Claude Juncker
<< Home