quinta-feira

A queda do anjo





Uma das máximas de um dos únicos banqueiros nacionais passa por estar sempre de bem com o poder, qualquer que ele seja (de direita ou de esquerda). Até porque o poder, pela sua essência, é poder, dispensa a ideologia que é sempre um sistema intelectual de apoio que serve apenas para o justificar. Sabendo isso, Ricardo Salgado tanto se dava bem com o PS como com o PSD, e tem sido assim há décadas. A norma estava instituída e era observada à risca. O BES nomeia secretários de Estado e ministros que, depois de o serem, regressam à administração do banco. Coloca também deputados na AR, onde acompanham de perto a produção de legislação que "mexe" com a actividade bancária, nervo da economia e sangue do capitalismo. Uma prática também seguida pelo BCP, quando podia, e o exemplo de Armando Vara (um ex-funcionário bancário) do PS, representou essa desbunda que tão má fama emprestou ao governo de então, como à banca. O caso agora parece ser mais grave, porque a família Espírito Santo está a desentender-se, as acusações de gestão danosa, não declarações de impostos ao fisco por esquecimento, corrupção (com ligações a Angola), entre outras situações que caem nas baías da ilegalidade, consubstanciam a circunstância de que o império - assente na tradicional coesão da família Espírito Santo - está a desmoronar-se a grande velocidade. Nem já o poder político em exercício (falho de legitimidade) lhe presta apoio, ao invés do que se passou no passado recente. Ricardo Salgado já não assiste apenas à queda de um império que ajudou a erguer, a organizar e a fortalecer, ele cai sem glória e dignidade. E isso é terrível naquele que era até à bem pouco tempo considerado o único verdadeiro banqueiro português. Presumo que toda esta queda do anjo seja bem pior do que ir parar à cadeia por roubar um sabonete no Pingo Doce (parece que o patrão desta cadeia de merceerias também não paga impostos, todos os impostos em Portugal). 

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