sábado

As lições da Ucrânia para Putin



A crise na Ucrânia pôs a nú certas prerrogativas do poder da Rússia que não mais se verificam. A saber:

1. Putin não é Brejnev nem goza do seu poder sustentado pela chamada doutrina da soberania limitada dos Estados satélites (que serviu para esmagar as revoltas na Checoslováquia, Hungria em em países de África e no Médio Oriente) - obrigados que estavam a tomar decisões que levassem em linha de conta os interesses da ex-URSS, tida como dona das lideranças dos países do centro e leste europeu que vigiava, moldava e controlava através do Pacto de Varsóvia;

2. Putin já não vive em ambiente de Guerra Fria/GF, pelo que de pouco vale deslocar forças militares para a fronteira da Ucrânia com o fito de ameaçar a sua soberania e de condicionar a sua independência e integridade territorial;

3. Putin - e a Rússia - já não podem dispôr do Pacto de Varsóvia e da rede de apoios e de aliados que gozava ao tempo da GF, o mundo mudou e nessa mudança a Rússia perdeu mais poder do que consolidou alianças e apoios;

4. Putin e a Rússia têm hoje adversários poderosos, são eles a Liberdade, a Democracia pluralista, o rule of law e a consciência cívica mundial cujo sistema de valores pendeu manifestamente para o lado anglo-saxónico, i.é, para o lado do Ocidente. Ainda que este lado não esteja isento de erros e de intervenções abusivas no plano do Direito Internacional Público - conduzido por uma América esfomeada de poder.  Foram os tempos dos desvarios da CIA no Chile de Allende..., e noutras latitudes em que a República Imperial teve uma conduta bárbara. 

Numa palavra: o mundo hoje está mais próximo da Ucrânia e do sistema de valores que comunga com o Ocidente do que com as oligarquias corruptas que Putin tem financiado no seu quintal.

Sucede, porém, que Putin deixou de ter quintal na Ucrânia e em quase todo o centro e leste europeu. Ainda que o perigo do separatismo ucraniano, fomentado pela Rússia de Putin, poderá conduzir a um fase de pré-conflito que pode por em confronto os EUA com a Rússia. 

E a ser assim, há uma certa recuperação do clima de Guerra Fria. 


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