sábado

O síndrome de Hubris do primeiro ministro Passos coelho



Na mensagem de Natal o ainda primeiro ministro português, Passos Coelho, de forma tão estranha quanto surpreendente manipula os números do emprego e afirma que, entre Janeiro e Setembro de 2013 foram criados 120 mil postos de trabalho, o que é falso e é evidenciado pelas estatísticas. Coelho, deliberadamente, omitiu a destruição de emprego que ocorreu no primeiro trimestre de 2013, i.é, esqueceu-se de referir a destruição de 100 mil postos de trabalho. 

Sucede, porém, que este não é um caso isolado na comunicação pública do PM, pois desde que tomou posse, em Junho de 2011, já se repetiram inúmeros episódios de falseamento da realidade como expediente para esconder o fracasso da governação e, assim, manter um nível de aceitação popular que lhe permite continuar a arrastar-se pela desgovernação em S. Bento. Mas como estamos já perante um padrão comportamental, em que o recurso à mentira política se tornou num acto de gestão corrente do XIX Governo (in)Constitucional, este fenómeno psico-político pode indiciar algo mais profundo na estrutura da personalidade do agente político e do governo na sua globalidade. 



Na prática, constata-se que a incompetência mitigada com a impulsividade, a recusa em ouvir as oposições e as populações e a profunda insensibilidade social dos elos mais fracos da sociedade portuguesa, que é castigada com impostos sobre impostos, resultou num desastre da liderança do governo que tem causado estragos à economia nacional em larga escala. A perda de capacidade para fazer as escolhas políticas racionais prosseguindo o bem comum e evitar erros colossais, como os praticados (e reconhecidos) pelas políticas financeiras de Vitor Gaspar depois seguidas pela Miss Swap, tem reforçado a ideia da loucura que reina entre o governo. E para descrever tecnicamente esse conceito recorremos a Roy Porter que enquadra esse comportamento da seguinte forma:



‘The history of madness is the history of power. Because it imagines power, madness is both impotence and omnipotence. It requires power to control it. Threatening the normal structures of authority, insanity is engaged in an endless dialogue—a monomaniacal monologue sometimes—about power’.
Roy Porter
A Social History of Madness: Stories of the Insane, 1987.

Concomitantemente, o síndrome da hubris é formulada como um comportamento que coloca o seu agente numa situação de auto-glorificação através do poder que tem, e desenvolve toda a sua acção tendo por base o reforço da sua imagem pessoal e não o verdadeiro interesse nacional e o bem comum. Consequentemente, essa desproporção entre a imagem que o agente político procura dar de si mesmo e a realidade revela um fosso terrível, traduzido na devastação social hoje identificada em Portugal e que o actual PM procura sistematicamente desvalorizar, ou até falsear, como vimos acima através da manipulação grosseira dos números de emprego criados para continuar a iludir o eleitorado e lançar a confusão nas massas populares que têm sempre alguma dificuldade em destrinçar o essencial do acessório. 


Por outro lado, este flop da governação tende ainda a ser mitigado com o discurso da reforma do Estado - que foi o maior logro deste governo, e se traduz apenas pelo desmantelamento do Estado social e através dum processo inexplicável de privatizações, como os CTT, que irão diminuir a qualidade desses serviços à comunidade e, seguramente, agravando os preços praticados desses serviços.


Essa perda de contacto com a realidade, essa dissociação dos factos mais dramáticos que atingem as pessoas, as famílias e as empresas em Portugal revela uma desordem política e mental daqueles que decidem e se traduz num padrão global de incompetência das políticas públicas. 

A relevância deste síndrome na vida pública - que revela simultaneamente arrogância e incompetência, é um dos traços de personalidade que tem marcado as atitudes e os comportamentos do XIX Governo (in)Constitucional, e denuncia uma mudança de comportamento do líder que, por sua vez, se tem revelado um actor disfuncional em termos de poder e de serviço à comunidade, pois nem tudo pode ser respaldado pela exigências da troika. 

Aproveitando a intoxicação do poder de G.W.Bush e do seu apêndice atlântico, Tony Blair, no quadro da famosa invasão do Iraque pelas forças norte-americanas (e aliadas - que foi preparada pela não menos famosa Cimeira dos Açores que teve em Durão Barroso o mordomo-mor dessa desgraça) - David Owen, médico e ex-político, num livro interessante, The Hubris Syndrome, explica esse fenómeno de degenerescência e degradação do comportamento de alguns líderes que, naturalmente, ajuda a explicar os níveis de incompetência política e de desgraça social associada a esses desvios e patologias potenciados pela obsessão com o poder. 



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