quarta-feira

Manipulação da Opinião púlica: uma Selvajaria


Sabemos que o excesso de informação por vezes actua como censura. Umas notícias escondem outras, e nas últimas semanas Portugal tem sido talvez o principal laboratório político do mundo, onde se pode avaliar os comportamentos de actores, personagens e meros figurantes que ocupam e poluem o nosso espaço público em toda a sua plenitude: televisões, jornais, revistas, redes sociais. 

Cada um de nós, diferente um dos outros, interpreta o que se está a passar de forma diferenciada. Fazemo-lo com maior ou menor seriedade e capacidade, conforme os nossos interesses socioprofissionais e ideológicos e as capacidades disponíveis para o efeito. Uns acham que o PR fez bem em debitar o discurso que fez à nação para resolver a crise; outros entendem que esse mesmo discurso só agravou e adiou o problema de governabilidade em Portugal. Uns acharam que o PR capitalizou com a sua intervenção; outros alegam que ele só se afundou, porque ficou refém do acaso, da irresponsabilidade e impreparação crónica que tolhe o XIX Governo (in)Constitucional. Portanto, se certeza há é a de não haver consenso em torno destas questões, hoje cruciais para o futuro de Portugal e dos portugueses.

Mas se este quadro de reacções revela a imagem que o espelho devolve dos governados relativamente às suas percepções da acção dos governantes, podemos interpelar que imagem o espelho devolve das percepções que os governantes têm das opiniões e reacções dos governados, i.é, da opinião pública em geral e do modo procuram reagir a ela, a fim de se ajustarem aquilo que é mais conveniente para a sua imagem pública e credibilidade política num dado momento, especialmente num tempo de grande usura e desgaste institucional.

Recentemente, um ex-PM procurou apoio (em véspera de eleições) num futebolista famoso, mas deu-se mal. A coisa terminou em tribunal e ninguém saiu bem da fotografia. Mas o propósito era óbvio:  buscar o apoio da opinião pública, de algumas instituições, reforçar a autoridade e a notoriedade colocando-se no centro das atenções dos media que, desse modo, ampliavam a sua projecção na opinião pública.

Como estas necessidades não mudam a sua natureza, os agentes políticos tendem a replicar os mesmos mecanismos a fim de se promoverem, ainda que sob a capa de estarem a promover símbolos, a Natureza, o turismo, etc. Trata-se, afinal, de um espectáculo, mas mais refinado, porque dissimulado sob alguns daqueles propósitos meta-políticos relacionados com o desenvolvimentismo duma região e do país. 

Também os media se alimentam desses epifenómenos, os quais servem para escapar à rotina e às espuma dos dias, mesmo em alturas de crise e agonia, como aquela em que nos encontramos: um país endividado, sem governo e sem esperança. O cenário perfeito para o suicídio colectivo (assistido pela Alemanha de Mer.....) 

Neste quadro crísico concreto, pergunto-me qual a vantagem de o locatário de Belém se deslocar às Ilhas Selvagens, um subarquipélago sob jurisdição administrativa do concelho do Funchal, Madeira? Além dos custos consideráveis que essa deslocação exige e que é paga por um erário sem fundos e roto. 

Será que o objectivo é reforçar a legitimidade de um PR em fim de mandato e de vida política, e já com uma trajectória descendente na sua popularidade?! Será congregar em seu torno mais simpatizantes, porventura os mesmos que integram a entourage de Alberto J.Jardim, Presidente do Governo Regional da Madeira há 3 décadas?

Seja por que razão for, creio que os portugueses são, afinal, quem pagam essas deslocações, e ao ter consciência desse mau negócio feito em seu nome e em nome do Estado, devem deplorar essa cegueira que anima os agentes políticos, e da sua entourage, porque sabem que lhes foi prometido maravilhas e só vêem verdadeiras desgraças. 



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