Carta de António Gramsci à mãe, do cárcere de Milão
António Gramsci, em Lettere dal Carcere
10 de Maio de 1928
[...] Minha querida mãe, não queria repetir tudo o que já, muitas vezes, escrevi para te tranquilizar sobre as minhas condições físicas e morais. Queria, para poder sossegar, que não te assustasses ou te perturbasses demasiado, qualquer que seja a condenação que estou para receber. Que compreendesses, com o sentimento também, que eu sou um detido político e serei um condenado político, que não devo e nunca deverei envergonhar-me desta situação. Que, no fundo, a detenção e a condenação foram, de certo modo, procuradas por mim, porque nunca quis mudar as minhas opiniões, pelas quais estou pronto a dar a minha vida e não só a ficar na prisão. Que por isso não posso senão estar tranquilo e contente de mim mesmo. Querida mãe, queria mesmo abraçar-te forte forte para te fazer sentir quanto te amo e como queria consolar-te por esse desgosto que te dei: mas não podia agir de maneira diferente. A vida é assim, muito dura, e os filhos às vezes têm de dar grandes dores às suas mães, se quiserem guardar a sua honra e a sua dignidade de homens.
Abraço-te com muita ternura,
Nino
Carta extraída do livro Gramsci. A Cultura e os Subalternos, 2012.
Introd. de Rita C.Neves
Edições Colibri.
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