quarta-feira

A criança no pensamento de Agostinho da Silva. O Império emergente

Hoje as receitas políticas, éticas e morais estão estafadas. Parece não haver escapatória possível para a reorganização do pensamento, esmagados que estamos pelo directório franco-germânico, para a reorientação da política, da economia e das finanças públicas dos Estados europeus, hoje todos estamos com graves problemas económicos e sociais internos.
Mas se caímos neste caos neoliberal, em que todas as respostas dependem, paradoxalmente, da vontade irracional e dos caprichos dos mercados que especulam e agiotam as nações em default, precisamente por serem presas fáceis do dinheiro que precisam para financiar a sua dívida e assegurar a gestão corrente das despesas inerentes ao funcionamento dos Estados, então há que rever a forma de pensar que tem enquadrado e destruído as nossas economias. As quais, para agravar a desgraça, competem com a Ásia em profundas desigualdades de competitividade social e económica e, dentro do próprio espaço europeu, cada nação, em função do seu grau de desenvolvimento, também apresenta uma assimetria grave nos respectivos sistema fiscais que acentuam ainda mais o fosso das economias europeias entre si, e destas com as economias oriundas doutros blocos geoeconómicos, como aquele que hoje é liderado pela China.
Chegados aqui, constatamos que é impossível continuar a pensar a política e a organizar a economia como temos feito até ao momento. Daí a necessidade de regulamentar a economia de casino que hoje provoca a agiotagem internacional e faz com que as taxas de juro disparem para níveis verdadeiramente criminosos para as economias, as sociedades e os povos que precisam de se financiar junto das instituições internacionais.
Naturalmente, o modelo do Quinto Império defendido por Agostinho da Silva, assente na ideia de restaurar a criança que coabita em cada um de nós para salvar a Europa é anacrónica, mas poderá servir de ponto de partida para repensarmos o próprio pensamento que temos desenvolvido até hoje. Um poder que adviria da oração de todas as nações para coroar uma Nova Ordem Política e Económica Internacional - estendida a todas as nações do mundo, convocando-as a identificar propostas de solução para que a Política possa reassumir de novo os comandos e passe a disciplinar a economia e a finança. Seria esta a nova missão da Europa, encontrando nessa necessária e urgente regulação global da globalização (económica e financeira, hoje desregulada) o cavaleiro do Espírito Santo que nos salvaria deste neoliberalismo selvagem herdado das regras impostas no Consenso de Washington há quase vinte anos.
Para esse desiderato teria que se começar pelo óbvio: recolocar o homem no centro do mundo, recentrar as economias ao serviço das pessoas, inscrever as finanças num trabalho em prol das comunidades e colocar as novas tecnologias da informação e da comunicação também a coadjuvar nesse desiderato maior, que é o de voltar a humanizar as economias - hoje desavindas entre si e teleguiadas por especuladores que andam de praça financeira em praça financeira a identificar oportunidades de especulação para ganharem dinheiro fácil na economia global de casino a que chegámos. Deixando, com essa actividade financeira e economicamente criminosa, milhares de empresas na falência e gerando, consequentemente, milhões de desempregados em toda a Europa.
É isto que terá de mudar, radical e urgentemente. Sob pena de ocorrerem revoluções violentas nas sociedades europeias, e que o caso grego se agrave, e agravando-se poderá contaminar as economias que se encontram em semelhantes circunstâncias. No limite, Portugal, Espanha e Itália poderão também entrar em descontrolo.
É tudo isto que terá de mudar: alterando a mentalidade das elites europeias e depois as práticas económicas e sociais no interior de cada nação, em ordem a criar um sistema de relações internacionais mais democrático, mais livre e mais próspero, criando mais igualdade de oportunidades entre as pessoas. É esta a filosofia a seguir, e não a que tem escravizado o homem pela força anónima e agiota dos mercados.
Isto implica uma nova arte de pilotar, i.é, de fazer política que hoje manifestamente é inexistente à escala europeia. E para recuperar essa condição é também indispensável gerar uma nova base espiritual que nos permita voltar a ser livres dentro e fora da Europa, criando, se possível, um novo exemplo para o mundo inteiro.
Será esta a nova (velha) ideia do Quinto Império que teremos de voltar a equacionar, para pensar Portugal na contemporaneidade.

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