Álvaro e a internacionalização do pastel de nata. Quando a realidade transcende a ficção
Admito até que Álvaro seja um homem bem intencionado que gosta de Portugal, mas não tem a mínima vocação para a governação, o essencial escapa-lhe e é decidido pelo seu mega-colega, ministro das Finanças, o empresariado acha-o ridículo e há muito que já não o leva a sério. Consequentemente, a pasta da Economia está em roda livre, sem ideia directora, sem programas de incentivos à internacionalização e com os factores de produção mais caros da Europa, tornando a produção nacional pouco competitiva nos mercados externos.
Numa palavra, o ministro Álvaro tornou-se já alvo de chacota dentro e fora do Gov, é gozado em toda a sociedade que o acha uma espécie de bobo da corte, imagem agravada com estas ideias ridículas que apenas reflectem a espuma das coisas, passando ao lado das essências que hoje definem as regras da economia mundial.
Grave não é o Álvaro ainda não ter compreendido o ridículo em que incorre quando faz aqueles anúncios urbi et orbi, grave é o ministro da Economia não compreender o sentimento de ineficácia gerador da crise mais global da instituição que o estrutura: o Estado-nacional.
Esta dupla insuficiência - política e cognitiva - que projecta mutações profundas no funcionamento e regras das instituições e, por extensão, na dinâmica das sociedades e no capricho dos mercados, faz com que o proponente de pseudo-ideias (que facilmente incorrem no ridículo, como a internacionalização do pastel de nata pela mão do Estado) traduzam não só uma incompreensão das leis da História e do seu sentido, como também uma congénita incapacidade de compreender que, certos agentes do Estado, nas actuais circunstâncias recessivas em que vivem 10 milhões de portugueses, ocupem o lugar do morto, encontrando-se agora na 1ª linha de visibilidade do Estado por via dos pasteis de Belém.
Por último, deixo uma nota final relativa aos políticos que se têm vindo a adaptar aos media, e nalguns casos revelam-se brilhantes profissionais do sistema. Sabem apresentar um subtil engagement entre grupos de pressão cujos pontos de vista pareciam irreconciliáveis.
No caso vertente, encontramos um homem de boa vontade, mas sem nenhuma ideia, autoridade, rumo e força para fixar qualquer compromisso. Embora, numa coisa estejamos, seguramente, todos de acordo: os portugueses gostam de pastéis de nata, e isso, presumo, seja uma "genial" recordação que o Álvaro sublinha aos portugueses e lega ao futuro.
Amanhã, quando Álvaro já não estiver no Governo e regressar à sua vida inicial, será certamente lembrada no Canadá (e arredores) como o português emigrado que mais fez pela vida do pastel de nata.
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