domingo

O eventual recurso ao FMI não pode deixar de ter consequências políticas

Esta é a última entrevista de fundo que Pedro Passos Coelho concede até ao fim da campanha presidencial em curso.
A partir de agora, só fará intervenções pontuais, e uma delas está marcada para Vila Real, ao lado de Cavaco Silva, num comício. dn
Percebe-se o cuidado. O presidente do PSD, que as sondagens vão insistentemente colocando como favorito a primeiro-ministro se umas eleições pudessem vir a ocorrer brevemente, está a gerir milimetricamente o discurso e não quer intrometer-se em demasia numa campanha que lhe não diz respeito. A estratégia é clara desde o primeiro dia e visa o poder executivo. Nesse âmbito, quer explicar como o PSD está preparado para assumir o poder, mas também quer deixar claro que não tem qualquer pressa. Ele e o seu partido estão aqui se os portugueses precisarem e se o Governo de José Sócrates falhar. Neste caso, "falhar" significa a entrada do FMI em Portugal. Nessa eventualidade, fica explícito que o PSD defenderá que o Governo tem de mudar, e num outro quadro parlamentar. Eleições, portanto.
Já disse que em 2011 o PSD tem de estar preparado para todas as eventualidades. Significa isso que está com pressa de chegar ao poder?
Nenhuma! A obrigação do PSD, como maior partido da oposição, é preparar-se para governar. É isso que o País espera que o principal partido da oposição faça. E o facto de há bastante tempo, infelizmente, o País estar confrontado com uma situação de grande dificuldade, apenas responsabiliza mais, também, essa função do principal partido da oposição. Nós estamos prontos para assumir responsabilidades se isso for necessário para o País, mas não temos pressa nenhuma.
Mas não se sente da parte do partido, face ao alento das sondagens, essa vontade de chegar rapidamente ao poder?
Não, não. Os partidos, como é natural, têm um programa e têm uma visão e um projecto para o País que só podem realizar de forma plena quando estão no Governo, e desse ponto de vista o objectivo dos partidos é ganharem as eleições e governarem, não é perderem as eleições e fazerem oposição. Mas o que aconteceu nas últimas eleições legislativas é que o PSD não ganhou as eleições, perdeu-as. Significa isso, portanto, que os seus militantes, os seus quadros políticos, estão empenhados em qualificar o PSD aos olhos dos portugueses, de modo que eles vejam no PSD uma alternativa de Governo. Essa alternativa acontecerá quando o País precisar dela.
Obs: Na verdade, PPCoelho sabe o seguinte: se o FMI regressar à economia portuguesa Sócrates pode conseguir inverter o ciclo económico, o crescimento do PIB começar a verificar-se, as PMEs gozarem de condições mais eficientes para crescerem e internacionalizarem-se criando mais riqueza, emprego e bem-estar.
Neste cenário, Sócrates teria condições políticas para concluir o seu mandato até 2013 e, eventualmente, estar bem posicionado para se abalançar a um 3º mandato no Executivo - o que seria uma proeza - que nem cavaco conseguira.
Neste cenário, o PSD de Passos Coelho ficaria mais uma eternidade na oposição, e em breve criar-se-íam as condições psicológicas de insatisfação política interna para que uma outra liderança emergisse na Lapa.
Daí Passos Coelho insistir nesse linkage, nesse grau de condicionalidade que pressupõe que a entrada do FMI implique um novo governo (o dele). Coelho pode não vir a ser grande PM, porque não revelou ideias alternativas, mas sabe que esta asserção tem fundamento, e não quer passar à história como aquele putativo PM que nunca o conseguir ser por causa do FMI.
Portanto, o FMI será, doravante, o seu cavalo de Tróia para fazer o assalto a S. Bento. Sócrates e o PS, com a narrativa difusa do poeta Alegre, tenderão a resistir à sua entrada. Mas a situação como está, com os juros astronómicos da dívida soberana, mata qualquer economia.
Estamos, pois, na bossa do camelo que se está a apertar cada vez mais...

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