quarta-feira

O "appeasement" do PSD, o patriotismo de Pedro Passos Coelho

Quando em 1939 Neville Chamberlain adoptou a doutrina do appeasement (apaziguamento) na esperança de Adolfo Hitler não atacar a Europa no âmbito da II Guerra Mundial (1939-45) - ainda alimentou a expectativa de que essa guerra fosse evitada e se poupassem milhares de vidas e a destruiçao dos países do chamado Velho Continente. O resultado foi desastroso, Hitler marimbou-se para Chamberlain e o seu apaziguamento e prosseguiu o seu plano de conquista imperialista da Europa que acabou por destruir, o resto da história é conhecida.
Invoco aqui este contexto histórico a título meramente analógico, para situar um pouco a posição relativa do Governo - que representa aqui o papel do "bombardeiro fiscal" com esta brutal carga de impostos sobre as populações; e do PSD - que faz aqui o papel, mais ou menos ingénuo, de Neville Chamberlain.
Na prática, as coisas são diversas, porque quer o Governo quer o PSD são muito pouco ingénuos e ambos estão a jogar o póker da política pura e dura com finalidades múltiplas: políticas, partidárias, eleitorais, pessoais e o mais. Não hà volta a dar a estas posições, pois antes das instituições estão as pessoas a dirigir essas mesmas instituições, as quais têm ambições, interesses, orgulhos, planos que tentam levar a cabo, sob pena de perderem a face diante dos eleitorados e das direcções partidárias de que estão, mais ou menos, reféns.
A questão que aqui se (re)coloca é saber por que razão PPCoelho se pôs em bicos de pés no Verão, na festa do Pontal, quando em vez de se abster e ser mais discreto, passou a negociar com o governo vários pacotes de restrição orçamental no âmbito do PEC.
Coelho meteu a cabeça para obter algum prazer e protagonismo, agora é difícil não deixar de ser o "pai" deste menino em co-autoria com o Governo, ou seja, não consegue sair da alhada em que se meteu, ante a inevitabilidade de deixar passar o OE para 2011, sob pena de poder vir a ser tão responsabilizado quanto o governo pela situação macro-económica gerada com os reflexos conhecidos na economia nacional, seja no plano da dívida privada, seja no plano da dívida soberana, com os juros a subirem desde que se tornou conhecido o rompimento das negociações entre Governo e PSD, lideradas por Teixeira dos Santos e Eduardo Catroga.
Ainda que, para sermos sérios e justos, a responsabilidade maior seja naturalmente por parte de quem governa, porque é ele o autor das políticas económicas, sociais e financeiras que nos trouxeram até aqui.
Pelo que o trilho normal que Pedro Passos Coelho deveria seguir era o da abstenção simples, sem negociações, mas isso não dispensaria que o PSD apresentasse um projecto alternativo de governo para Portugal e o apresentasse no Parlamento e o comunicasse à sociedade. Ora, era isto que o PSD de PPCoelho deveria fazer e, na prática, não fez. Esse foi o seu maior erro político até ao momento.
E como PPCoelho não se apresentou aos portugueses como uma verdadeira alternativa de governo, preferindo fazer a sua habitual política de jotinha empedernido, agora com tiques séniores, esbarrou com um Sócrates duro a negociar - através de um Teixeira dos Santos pouco flexível. Pelo que o Governo está em condições políticas objectivas para repartir as culpas com o PSD pelos falhanços que têm entre mãos.
Mau grado a comparação, é como se ambos, PS e PSD, tivessem tido relações sexuais com a mesma mulher numa noite de copos, sem que ambos soubessem que ela era portadora de sida. Agora, terão ambos que assumir não apenas a paternidade do problema, como também gerir a infecção desse síndrome para o qual ainda não existe antídoto 100% eficaz.
Tudo isto com o FMI à espreita, ainda por cima com António Borges a dirigir um seu importante departamento. Tal significa que o PSD de PPCoelho quis marcar o ritmo político em Portugal, e agora está em vias de ser cilindrado perante o governo que, em rigor, tem sido o responsável pelos desequilíbrios orçamentais geradores dum déficite monstruoso na economia nacional, comprometendo o futuro das novas gerações e carregando de impostos as pessoas que hoje tentam sobreviver em Portugal.
Ninguém agradecerá a PPCoelho este seu voluntarismo bacoco, e se amanhã houver eleições legislativas também não será liquido que este PSD seja governo, ou que o seja, pelo menos, com condições de governabilidade a médio e longo prazos capaz de apresentar a Portugal um projecto alternativo àquele que o Governo de Sócrates tem em curso, bem ou mal.
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Uma metáfora do que foram as negociações entre as delegações do Governo e do PSD no quadro do OE para 2011. Só ainda não percebi muito bem quem fez o papel de baterista e o de vocalista?!!
Muppet Show Moreno and Animal

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